Piada! Isso só pode ser piada! Onde estão as câmaras? Uma estrela ninja e um anel de doce no mesmo dia? Só pode ser piada! Eu falei pra aquele
moleque guardar a estrela ninja… Será que ele não viu que deixou ela aqui? Ah, quer saber? Dane-se. Dane-se a aliança falsa, dane-se a estrela
ninja do tataravô, dane-se tudo.
– Moço! Ei, moço! Tem um telefone que eu possa usar?
– Tem… Ali do lado, naquela porta azul. É só entrar e subir a escada.
– Ok, obrigada. Depois que encher o tanque o senhor pode trocar o óleo pra mim?
– Pode deixar.
– Obrigada.
Entrei, subi a escada caracol e tirei o fone do gancho…
Atende, atende…
– Alô.
– Dona Glória?
– Ela.
– Oi, é a Alessandra. Tudo bem com a senhora?
– Tudo, querida! Quanto tempo…
– É verdade… A senhora está bem?
– Melhor impossível, minha filha… Estou vivendo um sonho.
– Que bom… E como foi o casamento?
– Divino! Até o tempo ajudou. Uma pena você não ter ido…
– Mas a senhora decide casar na Calábria, dona Glória! E logo agora que eu tenho batido cartão.
– Sim, querida… eu sei. Mas sentimos a sua falta. E você? Como está?
– Estou bem… E as fotos? Já ficaram prontas?
– Ainda não, mas assim que ficarem, conto com o seu talento para me ajudar a montar o álbum.
– Claro! Pode me chamar. Estou com saudade da senhora.
– Eu também querida, eu também… Mas venha aqui em casa antes disso.
– Assim que der eu vou. Estou louca pra saber detalhes da viagem. E a Marilu? Voltou com a senhora ou decidiu dar a volta ao mundo?
– Voltou. A contra gosto, mas voltou. Está aqui. Só um minuto que vou chamar.
No telefone, eu ouvia distante as mesmas vozes de tantas outras vezes. Dona Gloria não envelhecia – nem na alma, nem no timbre da voz. Marilu dizia
que era devido à sua capacidade de arranjar um marido a cada dois anos. Talvez ela tivesse razão. Gloria X, como ela mesma se nomeava para explicar
que seu sobrenome era uma variável que dependia do marido da vez, era tudo que eu queria ser quando crescesse: bonita, independente e sensata o
suficiente para terminar suas relações antes que elas se transformassem em rugas. Glória foi casada com o pai da Marilu por anos, viveu o maior
inferno de sua vida, ficou viúva e, seis meses depois, casou novamente. Todos a acusaram e se recusaram a enxergar que aquela decisão não era uma
traição ao marido morto, mas uma tentativa desesperada de ser feliz. Ninguém foi; nenhum parente, nenhum velho amigo. No altar, em uma capela simples
próxima de sua casa, Glória e o segundo marido celebraram sua união. Eu, a Marilu, o Kiko e o Ivo fomos as únicas testemunhas da cerimônia mais
bonita e verdadeira que presenciaríamos – um casamento sem flores, mas com verdades que guiariam nossos corações para sempre.
Infelizmente ou felizmente, o segundo casamento durou dois anos. O terceiro, quase acabou na lua de mel, mas o sujeito era ator, fez o maior drama e
implorou para que ela usasse o seu sobrenome por mais um semestre. Ela bem que tentou, mas se apaixonou perdidamente por um italiano de sobrenome
impronunciável. O italiano ficou, o ator foi embora com promessas de suicídio e, pela quarta vez, dona Glória se vestiu de noiva. Um vestido mais
sóbrio do que o das outras vezes, mas que, segundo ela, não conseguiu esconder a alegria que ela sentiu ao se tornar a feliz proprietária de um
sobrenome difícil de ser pronunciado. Sempre achei que aquela história dos sobrenomes era o jeito floreado que ela encontrava para incrementar o
simples “Silva” que ganhou quando nasceu. E talvez fosse… dona Glória era, acima de tudo, uma mulher de espírito leve. Dizia sempre que os seres
humanos davam importância demais para a vida a dois, que o casamento devia ser somente um adicional para nossa satisfação pessoal e que nunca, de
forma alguma, deveríamos casar com alguém que não nos oferecesse uma grande amizade. Ela dizia que casar era um processo que tinha tudo para começar
como um conto de fadas e acabar no hospital. E que ela, depois do primeiro marido, tornou-se uma especialista em tratamentos preventivos. Sua regra
era clara: separar antes de doer pela terceira vez.
A longa espera para que a Marilu atendesse o telefone, nunca havia sido tão reconfortante como naquele dia. Ouvir a voz da Glória, saber da sua
alegria, do seu quarto casamento e lembrar dos seus preceitos, davam como certa a minha decisão de romper com aquele noivado estúpido.
– Hello, darling!
– Caralho, Marilu! Duas horas pra atender o telefone.
– Eu estava no banho… Minha mãe devia ter avisado você.
– E como foi a viagem?
– Noites e noites de festa… um paraíso!
– Quantos?
– Um “C”, dois “B” e um “A”.
– “C”? Você vai até a Itália pra ficar com um “C”?
– “C” na Itália é B+, querida.
“A” eram os garotos que precisávamos de qualquer jeito conhecer biblicamente, “B” aqueles que teríamos um imenso prazer em conhecer, “C” os
conhecíveis, “D” conheceríamos após uma boa dose dupla de qualquer coisa com alto teor alcoólico e “E”, aqueles que não davam pra encarar de jeito
nenhum.
– Vai ficar em casa?
– Não. Marquei com os meninos de encontrá-los no Tombaqui. Onde você está? A ligação está estranha?
– Em um posto de gasolina… Acho que vou com vocês. Preciso urgente de uma rodada de tequila.
– O que aconteceu?
– Acabei de ter o pior dia da minha vida… Ganhei uma aliança falsa de um noivo que não me interessava levar para o altar e uma estrela ninja de um
locutor de rádio mirim.
– Anh?? Você voltou a misturar vodka com anfetamina? Que história é…
– Ô, dona! Tá achando que eu sou dono da Telesp?
Olhei da janela pra confirmar se o esbregue que vinha do lado de fora era mesmo pra mim…
– Já vai, já vai!
“Dona”… Desde quando eu tenho cara de “dona”? Gente estressada! Não fiquei nem meia hora…
– Marilu, tenho que desligar. Passo aí daqui a pouco.
– Combinado, dona Alê!
———————>> Continua.
Clique aqui para ler o Post I – O começo de toda a história do videotexto
Endereço do homem do balão: www.airadventures.com.br
Pronto! Agora parem de me cobrar detalhes sobre o vôo porque quem andou foi o meu pai e a minha sogra. O que eu posso dizer é que o passeio dura uma
hora, depois do pouso rola um café da manhã em uma chácara maneira e a brincadeira custa R$250,00. Maridon pagou com gosto cada centavo do presente
que deu pra mãe. Já a minha parte eu fiz permuta. 🙂 Mas é porque eu tenho sempre muitos espelhinhos coloridos na manga.
Das pessoas que me apresentaram originais, desde que eu inventei de publicar novos
autores, dois abriram suas próprias editoras e também estão dispostos a publicar novos nomes além deles próprios. O que parecia uma idéia
inovadora em mil novecentos e noventa e nove – quando eu, maridon, Hugo
e Jaime abrimos a Gênese, hoje é a última moda na junta comercial e eu acho ótimo que seja
assim.
Se as editoras não te querem, publique seu livro você mesmo. Ok, ok, você só quer escrever? Eu entendo. Então, agora, além de poder mandar seus
originais para a Gênese ou para a Candide, você pode experimentar a Churros
Editora também. Sim, isso mesmo: “Churros Editora”. Uma mega empresa que contará com os super poderes do Mr. Manson do Cocadaboa. Eu tentei
persuadi-lo a largar o Vela e a manter sua palavra comigo, mas não teve jeito. E pensar que eu quase financiei aquela viagem… Ainda bem que meu
saldo bancário estava negativo, senão teríamos que disputar blogueiros-advogados a tapa para resolver a pendenga – se bem que eu e o Manson já temos
problemas demais com a justiça. Acho que acabaríamos resolvendo a questão em uma disputa de UÓR (não, eu não escrevi errado. Um dia eu explico),
regada a cerveja.
Meninos, boa sorte e contem comigo. Encontro vocês na Mercearia e a Paula no Na Mata.
Ah! Antes que eu esqueça, se você está lendo este post e a sua mente perturbada está achando que ele é um post pretensioso, irônico ou qualquer outra
estupidez do tipo – considere-se mandado à merda com todo o carinho e respeito. Eu incentivo a concorrência. E não sou do tipo que fala mal do
pãozinho do vizinho para vender o meu. Não é a minha praia e nunca será. Se há uma coisa que eu faço na vida é tentar me manter no extinguível grupo
das pessoas que, quando não podem ajudar, fazem o possível e o impossível para não atrapalhar.
No mais, faço das palavras da Paula as minhas: livro não é como sabão em pó (espero que a frase esteja certa porque eu tenho uma grande vocação para
Vicente Matheus). E, se tudo der certo, em breve o pessoal do Cabeza Marginal também terá
seu próprio selo. Porque quanto mais gente boa, corajosa e talentosa no mercado, melhor.
Quanto a mim? Estou pensando seriamente em abrir uma livraria com cyber-café e espaço para lançamentos. Uma livraria com redes para leitura, um
grande puf verde oliva e comunitário e um mezanino bacana para o escritório da editora. Vou passar o dia no puf, lendo e vendendo esse povo. Ah, se
vou…
Cansei do verde escritório, das imagens grandes, dos posts gigantes… eu estou insuportável. Acho melhor eu transformar isto daqui em um fotolog até
passar.
Rio de Janeiro – 06/05, no Ateliê Culinário do Odeon BR, a partir das 19h;
Brasília – no Carpe Diem, data e horário a confirmar
São Paulo – 27/05, no Na Mata Café, a partir das 20:30h. Para quem quiser esticar comigo, rola show do Leo Jaime depois, às 23:30!
Curitiba – 17/06, no Bar Brahma, a confirmar
Paraty – durante a FLIP, em algum dia entre 07 e 11/07 (a confirmar), no Casarão do Cunha.
A internet tem sido o território mais adequado para desenvolverem produtos capazes de retratar o perfil desta geração.
Eu achava que o kit ego estava completo depois da invenção do Blog, sistema de comentários e do Fotolog, mas faltava o Orkut. Ah, o Orkut… O Orkut é a fogueira das vaidades. E o que me diverte é ver que Larry Page e Sergey Brin (donos do Google e
do Orkut – se é que alguém aqui não sabe), entendem de seres humanos tanto quanto entendem de computadores. Agora, eles sabem o que as pessoas
querem e sabem também quem elas são. Digno de aplausos.
O que me surpreende – por mais óbvio que fosse – é ver que o descaso geral para responder cadastros e questionários desaparece rapidamente quando
existe a possibilidade de se exibir e, quem sabe, arranjar uma meia dúzia de fãs.
Vaidade, vaidade… ah, que merda que é essa nossa vaidade.
Enquanto isso, eu que fui parar naquele treco há poucos dias, confesso que já enjoei. Todas as minhas manifestações por lá me deram tontura e grande
parte das comunidades também. Deletei tudo. Vou deixar o que restou de enfeite.
Os orkuteiros (há exceções), assim como uma boa parte dos escritores made in internet (há exceções), me fazem lembrar de uns moleques podres
que estudaram comigo em um colégio podre, no qual eu fui obrigada a freqúentar nos últimos seis meses do colegial.
Eles tiravam o pau pra fora no meio da quadra e se divertiam falando um do pau do outro para quem quisesse ver e ouvir. Ficavam o tempo todo falando
de seus dotes e fazendo comparações para saber quem tinha o pau maior. Era triste, mas, como todos os bons idiotas do planeta, eles se achavam do
caralho.
– Minha irmã deve ter enfiado o gravador no nariz!
– Achei!
– Como é que você achou ele aí dentro?
– Procurando nos lugares improváveis. Nos provaveis você já estava procurando.
– Engraçadinha…
– Foi sem querer. Esbarrei, senti um negócio duro, fui ver o que era e voilá… um gravador.
– Não disse que ela enfia tudo no nariz? Quem, além dela, teria colocado um gravador dentro de um travesseiro? Essa menina não é boa da cabeça.
– Eu queria ter irmãos…
– Você não sabe o que diz. Um quarto só pra você, presentes só pra você, roupas que ninguém mexe, travesseiros sem gravadores…
– Bronca e cobranças só para mim…
– Isso eu também recebo e não é por falta de irmão.
– Mas pelo menos você tem em quem botar a culpa. Sem contar que deve ser o paraíso não ter um pai e uma mãe se descabelando vinte e quatro horas em
um único par de ouvidos. Um acusando o outro pelas coisas que eu faço. Nunca o erro é dos dois e nunca é só meu. É um saco…
– Marilu, não pira. Você é super livre. Seu pai e sua mãe nem devem saber onde você está agora. Quem, na nossa idade, consegue fazer o que você faz?
– Eu não faço porque eu quero, faço porque deixam. Meus pais são ocupados demais pra perceberem que eu não estou no quarto vendo TV.
– E você acha isso ruim? E eu então, que não posso dar um passo sem o consentimento da família inteira? Além de não poder sair, agora preciso abrir
a janela pra você entrar. Nem amigos eu posso ter mais.
– Não vejo a hora de ter dezoito anos…
– Nem me fala…
– E eles não vão me emancipar nunca…
– Qual a primeira coisa que você vai fazer quando completar dezoito anos?
– Ir a um motel.
– Motel?
– É, motel… Que foi? Que cara é essa? Vai dizer que você não sabe o que é um motel?
Eu achava que sabia, mas pela expressão de sabida que a Marilu fez, eu só podia estar enganada…
– Claro que eu sei.
– Que bom. Achei que eu teria que explicar a diferença entre hotel e motel.
Sempre que ela desconfiava saber de assuntos que eu não sabia, ela empinava as sobrancelhas e ganhava o ar mais esnobe que uma garota poderia ter. Eu
odiava. Principalmente porque me sentia traída por todos à minha volta. Eu não entendia porque ela sabia de tantas coisas e eu não. Mas teria o meu
pai mentido pra mim? De novo? Não bastava ter escondido durante anos que o Papai Noel da rua era na verdade o seu Joaquim da banca de jornal? Não
bastava ter descoberto, pela rabugenta da professora de ciências, que eu nunca tinha sido uma sementinha? Vindo da Marilu, a diferença entre motel e
hotel, estava mais pra sexo do que pra hospedaria sem parquinho.
– Eu sei a diferença. E vamos gravar logo essa fita porque já está ficando tarde e eu quero resolver logo essa história com o Murilo.
– Já vi que não sabe. Ai, ai… como você é orgulhosa. Eu só espero que esse fora que você está levando do Murilo, dê um breque nesse seu orgulho.
Por que você não diz a verdade? Por que não pergunta pra mim qual a diferença entre motel e hotel? Por que não pega esse gravador e conta para o
Murilu o que realmente aconteceu no dia do beijo?
– Eu já disse! Eu estava doente.
Marilu ficou em silêncio e eu aproveitei para fugir. Saí batendo o pé, abri a porta do quarto e escapei…
– Já volto. Vou pegar um suco. Quer algo da cozinha?
– Não…
– Quer que eu tranque a porta ou você se esconde se chegar alguém?
– Pode trancar.
No banheiro, fiquei olhando no espelho a minha cara de pateta. Eu era mesmo muito boba… Já tinha perdido o primeiro namorado e agora estava
perdendo a amiga – talvez a única que eu realmente tivesse. O Kiko era menino; um grande amigo, mas menino. Não era a mesma coisa. Os papos eram
outros, a cabeça era outra, as piadas eram outras… Não que fosse ruim, muito pelo contrário. A amizade do Kiko abria os meus horizontes para o
mundo e para os homens. Nossas conversas me faziam pensar, questionar e compreender um pouquinho melhor as diferenças gritantes entre os garotos e as
garotas. Mas era impossível imaginá-lo nas rodas de meninas.
Com a Marilu era diferente. Nós tinhamos afinidade pra falar de qualquer coisa, mas ela era tão esperta, tão independente e corajosa que botava medo
em qualquer um que se aproximasse dela, inclusive eu. Como confiar plenamente em alguém tão despreendida? Eu me perguntava o tempo todo como era
possível ser amiga da garota mais mal falada de, pelo menos, três colégios da redondeza. E se ela fosse falsa como as outras foram? Sem contar que
ela tinha as melhores idéias e vivia a anos luz do seu tempo… Nossa diferença de idade não era tão grande, mas era o abismo que separava a
ingenuidade da infância, das descobertas da pré-adolescência. E eu teria que decidir se atravessaria aquela ponte com ou sem ela.
Não é porque aquelas duas fizeram aquele papelão comigo no passado, que eu vou deixar de confiar nas pessoas. E dane-se também o que os outros
pensam sobre a Marilu. O que interessa é o que eu penso. Só porque ela é diferente não significa que seja uma ameaça… Eu confio nela.
Saí do banheiro pronta pra deixar de frescura e ter uma conversa franca com a melhor amiga que a vida poderia ter me dado. Abri a porta do quarto, vi
a janela escancarada, o gravador em cima da cama e um bilhete ao lado…
– Aperte o play. Tem recado pra você.
Ela foi embora.
———-> Continua
Clique aqui para ler o primeiro post da saga do primeiro beijo.