Jejum de 12 horas, cirurgia às oito e meia, um pouco de preocupação e nada de dormir. Acho que vou aproveitar para terminar a saga… Vai que eu não volto? OK, já bati na boca.



Escrito pela Alê Félix
29, março, 2005
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Os filhos que eu estou me recusando a ter, hoje, me enlouquecem mais do que seria possível se eles tivessem vindo ao mundo (não, não pense que estou assumindo algum aborto. Nunca precisei fazer um. E não que não o faria se achasse necessário. Os acidentes nunca aconteceram, eu sempre morri de medo de engravidar e sempre fui meio neurótica com sexo sem proteção. Então, não tinha mesmo como rolar… Acho. Ou foi isso ou minha brincadeira de dizer que sou estéril é real.).
Engraçado, logo depois de ler seu comentário eu tive que sair para fazer uma endoscopia (pra variar, meu estômago). Antes de qualquer procedimento médico, a atendente queria saber onde estava meu acompanhante (é impossível fazer uma endoscopia sem ter alguém pra carregar você pra casa depois do exame). Eu disse que ele estava estacionando o carro e ela perguntou o grau de parentesco que havia entre nós. Respondi, ela anotou no prontuário e não parei mais de me perguntar o que aconteceria se eu estivesse sozinha, se não pudesse dispor do tempo de alguém para me acompanhar em uma hora dessas e, pra piorar, pensei sobre o que você escreveu. Me vi velha, abandonada pelos parentes, louca da alma e da cabeça, com o coração vazio(como sempre me imagino quando penso sobre o pior do futuro) e, dessa vez, sozinha na sala de endoscopia. Sozinha e sem ninguém para me guiar depois do exame (sim, porque eu sei que vou ter que fazer endoscopia a vida inteira e se eu ficar velha solitária não vão me deixar fazer exame nenhum.). E tudo por não ter coragem de colocar outras pessoas no mundo…
Foram minutos de horror que duraram pouco graças ao baque do liquidinho rosa abençoado (eu adoro a sonolência que aquela coisa dá. Só aquilo pra me fazer esquecer do que a minha vida pode, um dia, vir a ser.).
Não sei o preço que eu vou pagar por essa resistência a filhos, mas sei das estranhezas que ela tem me causado nos últimos anos, dos surtos esporádicos, das dúvidas infinitas e da tristeza crônica que ela gera. Sei o quanto tem sido difícil arcar com a decisão de me rebelar contra minha natureza, meu corpo, contra as coisas que eu desconheço. Não sei mais se estou certa como sempre achei que estava. Ainda sinto meu egoísmo transbordando quando penso que preciso de uma outra vida para dar sentido a minha. Não acho justo. Por mais alto que meu útero grite, não acho justo.
Não faz muito tempo me vi soluçando feito adulto que engole o choro, só porque tinha mexido no email-me e escrito (sem querer, sem pensar) que já me peguei pedindo para que o destino deixasse algumas de suas crianças na porta da minha casa. “Algumas” foi a única parte do pensamento que me fez parar de chorar para rir um pouco de mim mesma. Questiono meus genes, temo pela escolha paterna, tenho total desprezo pelas crises de origem familiar que grande parte dos adotados custumam ter e rezo para ter a chance de criar não uma, mas “algumas” crianças (mesmo que elas não fossem minhas de sangue, mesmo que elas crescessem e surtassem com as crises estúpidas dos adotados).
De verdade eu me odeio nessas horas. Eu sei que seria uma boa mãe. Não dá pra ser uma mãe ruim depois que inventaram o Discovery Health. E eu adoraria ter filhos… Alguns filhos, uma renca de filhos. Adoraria ter o Thor, o Odin, o Bragi, o Apollo, a Gaia, a Vênus e a Alethea (toda garota pensa nos nomes. E que culpa eu tenho se o meu ego me faz preferir criar deuses? Me deixe!) E talvez eles fossem realmente a minha salvação, mas, nunca deu pra arriscar. Acho que é porque eu não suportaria saber que eu lhes daria a vida, mas não teria como evitar que eles conhecessem a morte. Acho. Acho mesmo sem querer achar mais nada sobre essa história de ter ou não ter filhos.
De qualquer forma minha querida Julie, teu conselho é um ótimo conselho para mulheres que queiram manter a sanidade, a casa cheia e garantir que sua endoscopia seja feita. Obrigada por querer o meu bem, mas algo me diz que meu tempo acabou.



Escrito pela Alê Félix
22, março, 2005
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O Livro do Futuro é uma edição da revista Super Interessante deste mês. Para a minha satisfação, cinco escritores brasileiros foram convidados para escreverem sobre as pautas relacionadas. Entre eles está o Marco Aurélio dos Santos (co-autor do livro “Balde de Gelo”, publicado por nós em dezembro de 2004) e a Daniela Abade (autora dos livros “Depois que Acabou”, publicado por nós em maio de 2004 e “Crônicos”, publicado pela Agir em dezembro de 2004).
Se você ainda não leu os livros “Balde de Gelo” e “Depois que Acabou”, pode comprá-los através do e-mail: ale@alefelix.com.br.

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Escrito pela Alê Félix
22, março, 2005
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O chat rolou e não foi legal como eram os chats no ano passado. Ando com essa impressão com relação a tudo. Nada tem sido como era antes… Bem antes. Antes do que virou, antes do que acabou, antes dos restos, dos desafetos e dessa mania estúpida de procurar migalhas de paixão entre zeros e uns. Mendigar adrenalina para a vida é mais deprê do que choramingar em posts. Eu preciso de outro vício… Qualquer droga que me mate ou me jogue dentro de alguma outra história. Alguma outra história com uma rede para me acolher e não me prender. Alguma outra história com cubas, efeitos de anfetaminas, pessoas nuas, pessoas passageiras, pessoas vagabundas, pessoas sem sobrenome, gargalhadas para a morte, falta de respeito com a vida e lágrimas de chuva. Só as de chuva. Iguaizinhas as que eu chorava antes delas doerem.



Escrito pela Alê Félix
22, março, 2005
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A área de escambo desse blog mudou. Como já estava desatualizada há tempos, só mesmo esse sistema bacanão e profissional de troca de links para me fazer retomá-lo.
Não tem segredo: para participar basta clicar no link “escambo”, estar ciente do significado da palavra ESCAMBO e cadastrar seu blog de acordo com a categoria que ele se encaixar. Aproveite e avise os amigos sobre essa troca de links. Acho que essa página se tornará um bom site de busca para os blogs brasileiros e portugueses.
Beijo para os meninos, tchauzinho para as meninas e até o CHAT – domingo depois do BBB (Chat, Escambo, Posts e Saga do Primeiro Beijo de volta… Será que eu estou pra morrer? desapontada.gif).



Escrito pela Alê Félix
18, março, 2005
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Que tal um chat neste domingo? Pensei em abri-lo logo após a votação do BBB5. Muito tarde? Bom, pensem e me avisem. Pra quem não sabe como o chat desse blog funciona, é só vir aqui no dia e hora combinado que você vai ver. Ah! Tô respondendo os comentários no próprio sistema de comentários. Vou tentar transformar isso em um hábito. Fui.



Escrito pela Alê Félix
16, março, 2005
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Mulheres não querem relações abertas, querem ter um dono.
Mulheres não querem sexo com hora marcada. Mulheres querem romance, querem andar pela praia de mãos dadas com um homem que não tenha medo de nadar em alto mar.
Mulheres não precisam de perdão, precisam de poesia.
Os homens não deveriam se preocupar com os Ricardos e sim com os Franciscos.



Escrito pela Alê Félix
15, março, 2005
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Para ler ou lembrar onde a história parou, clique aqui.
Uma vez me disseram que quando a gente é criança, consegue ver magia até no meio do caos. Deve ser por isso que, durante muitos anos, eu vi o bairro onde cresci como uma espécie de paraíso no meio do inferno da periferia. Ao contrário do que acontecia em outros bairros, mesmo sem planejamento, as casas de lá não cresciam amontoadas umas sobre as outras. Todos tinham o seu quintal, sua horta e sua laje. As ruas eram de terra batida ou calçadas com paralelepípedos e tínhamos árvores, descampados, céu com pôr-do-sol na represa e noites estreladas em cima dos muros. O bairro, ora cheirava a mato, ora a terra, ora a água. Em dias de chuva, todos os cheiros se misturavam e não havia criança que não corresse para brincar na rua depois (ou enquanto) ela caía. Muitas vezes, principalmente depois das chuvas de verão, era comum encontrar a molecada no descampado do topo do morrão, esperando para ver os arco-íris se formarem. De todos os descampados, aquele era o que mais gostávamos, o mais próximo do céu, o que tinha a melhor vista e o único que batizamos. Talvez pela obviedade geográfica ou pela magia da nossa inocência, o chamávamos de Paraíso.
Fugir para o Paraíso significava sujar a bunda no gramado que nunca virava mato, impedir os garotos de perturbarem os montes de borboletas que pousavam até sobre os nossos narizes, fazer apostas para ver quem tinha coragem de entrar na mata pela trilha do meio, discutir sobre a localização exata do fim dos arco-íris, brincar de beijo, abraço, aperto de mão e torcer para que não escurecesse rápido. Nenhum de nós arriscava ficar no Paraíso depois do sol se pôr. Lenda ou não, rolava uma história que dizia que, após o último raio de sol, aquele que atravessasse o Paraíso ou permanecesse nele durante a noite, seria pego pela Brucutu e teria o pipi amaldiçoado. Os adultos juravam de pés juntos que aquela era uma invenção do povo desocupado,. Só que, depois do sumiço e do retorno do velho Zacarias, não adiantou nada pai e mãe da gente jurar. Todo mundo viu quando, depois de passar quase uma semana desaparecido, o Zacarias surgiu na trilha do meio gritando que a Brucutu o havia arrastado mata adentro, preparado uma mandinga e tascado ela no bigulinho dele. E vimos todas as vezes que ele jurou pelos seis filhos homens que tivera com suas seis esposas, que a história era verdadeira. Contou para todos os moleques e meninas da minha turma que o fato se deu no dia da chuva de estrelas e que ele só foi pego pela Brucutu porque esqueceu da vida deitado no gramado do Paraíso. Dizia que ela era uma mulher mal amada, que havia sido traída pelo marido e pela irmã, que caiu em desgraça, se afugentou na mata e jurou aprender todos os mistérios da rogação de pragas para destruir aqueles que tivessem traído alguém no passado. Seu Zacarias contava que nunca havia cometido traição nessa vida, que só queria ver a chuva de meteoros, que não moveu uma palha para entrar na mata e que, mesmo assim, a Brucutu apareceu para pegá-lo. Como era de se esperar, todos nós ficamos com muito medo de passar do horário nas proximidades do Paraíso. Todos, menos o Murilo, que dizia saber mais sobre a Brucutu do que qualquer um de nós. Ele não dava pistas, claro. Qualquer que fosse o assunto saído de sua boca, era sempre uma narração pela metade ou só um primeiro parágrafo confuso. Nunca ele dizia o que eu queria ouvir, sempre dava a impressão de que tinha uma vida esquisita e cheia de segredos familiares e, em momento algum, era capaz de transformar o nosso namorico no conto de fadas que eu esperava de um primeiro namorado. E só naquela noite, enquanto eu atravessava as ruas do bairro, que me dei conta de que era isso que me fascinava nele. A noite que, pela primeira vez, eu havia desobedecido meus pais achando que era somente para esbofetear a estúpida da minha amiga metida a besta…
O temporal começou minutos depois de eu me dar conta do que realmente sentia e queria com o Murilo. Não era paixão, não eram seus olhos azuis, não era nenhum sinal de amor eterno o que eu sentia. Era só uma curiosidade danada de beijar na boca, ter um namorado igual a todas as meninas da escola e o interesse natural que toda garota tem quando descobre que alguns meninos vivem em mundos menos acessíveis do que outros. Naquele instante, desisti de estapear a Marilu e dei meia volta antes de seguir pela rua do Paraíso. Era para a casa do Murilo que eu precisava ir, era com ele que eu queria conversar. E eu juro que mudar o caminho não teve nada a ver com a história da Brucutu e o meu medo de atravessar o Paraíso no meio da noite! Até porque, eu não tinha um bilau para ser praguejado e nenhuma traição para ser vingada… Não até aquele dia.
———————–>>>Continua.
Clique aqui para ler o primeiro post da saga do primeiro beijo.



Escrito pela Alê Félix
13, março, 2005
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