– Devo ter perdido uns cinco quilos desde que eu me separei. Dá pra acreditar? Não emagrecia nada há meses… Agora não como direito, não durmo, não nada.
– Tá reclamando do quê? Melhor do que SPA essa sua separação. Relaxa. É só uma reação sábia do seu corpo. Ele sabe que o mercado tá feio e que é bom você ficar gostosa logo se quiser voltar pra vitrine.
– Credo! Olha só como você fala… Parece até que a vida dos solteiros é um açougue onde as mulheres ficam penduradas atrás de um balcão e os homens entram e fazem seus pedidos.
– Exatamente isso. Com a diferença que hoje em dia raríssimos homens pedem uma peça inteira. Os caras ora querem uma maminha, ora carne branca, ora uma bistequinha…
– Eu não quero pensar nisso agora…
– Ótimo. Só não se deixe virar cupim novamente. Gordurinhas estão fora de moda.
O que foi que as pessoas fizeram umas com as outras nos últimos dez anos?



Escrito pela Alê Félix
14, março, 2006
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Começa hoje a Bienal do Livro de São Paulo. Para quem for e quiser comprar qualquer um dos livros da Gênese (Depois que Acabou, Balde de Gelo, Malvados, Blog de Papel, Jogo do Eu, Prazer em Conhecer), basta procurá-los no estande da Siciliano.
Se você for na semana que vem e quiser marcar pra gente se encontrar e papear, me escreve para combinarmos. Estarei por lá alguns dias.



Escrito pela Alê Félix
8, março, 2006
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O post “Três Mil Peças de Uma Separação” é ficção. O máximo que eu já fiz em um momento de separaçào foi arremessar uma carteira num buracão e deixar o falecido voltar a pé de Tatuí até São Paulo. Ex-maridon e eu dividiamos o mesmo carro. Ou seja, ele permanece intacto… O carro. Brincadeira. Está tudo em ordem, estamos intactos. E obrigada pelos e-mails e comentários de preocupação. Separação dói pra cacete, mas a gente sobrevive. Beijo pro cês e não me abandonem. Ando percebendo que são os amigos (novos e velhos amigos) que nos salvam nessas horas. E eu esqueci dos meus nos últimos anos…



Escrito pela Alê Félix
8, março, 2006
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Talvez porque em Brasília seja possível tocar o céu com os pés no chão, eu voltei sorrindo…
Por enquanto o coração ainda aperta, mas me sinto mais tranquila. Aperta também de saudade quando lembro que “casa” agora é sudeste e não mais Asa Norte.
Fe, Guto, Jana, Jaque, Juju, Raquel, Wil e até a Mila (que infelizmente eu só consegui ouvir), obrigada pela companhia, ouvidos, ombros, mãos, risos, histórias, confiança, esperança e carinho dedicados antes e depois de me conhecerem.
Espero que nas próximas eu consiga ver a Mila, Kriscia, Alexandre, Rebecca, Gustavo, Felipe e o Lourenço. Volto logo. 😉



Escrito pela Alê Félix
4, março, 2006
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Aí a minha vida virou de ponta cabeça pela milionésima vez e todos os planos de carnaval viraram junto. É sempre assim… Parece que todas as mudanças começam em fevereiro.
Não durmo direito há uma semana. Já tomei de tudo: passiflora, naldecon-noite, chá de pimenta do reino, até rezar eu tenho experimentado e nada. Pra piorar, inventei de ficar saltando arquibancada no raio do show do U2 e minhas pernas ficarão tão destruídas que me deixaram com o andar daquela velhinha surda do A Praça é Nossa. Ainda existe esse programa? Céus, eu tô velha… E devo estar pagando pela pior crise da meia-idade que uma mulher poderia pagar. Sim, crise da meia idade, sim! Ou você acha que eu passo dos sessenta sendo portadora desse coração idiota?
Preciso dormir… Dormir e acordar daqui a pouco pra vestir aquela fantasia-mico e fingir pra mim mesma que ficarei bem. Ok, ok… Posso ser dramática, trágica ou o que for. É só o que eu sinto. E infelizmente, quando eu sinto, não existe futuro. Futuro… Bah!
A Vai-Vai sairá as cinco e quarenta da manhã. Daqui a pouco… Ainda bem que deu tempo de desistir da Viradouro. O Rio ficará para o ano que vem… Ou pra nunca mais, sei lá. Vou sair na ala Os Kilombos (Trabalhadores Negreiros), uma das últimas alas da Vai-Vai. Devo chegar em casa umas nove da manhã, rezar para dormir, acordar, montes de coisas pra resolver antes que anoiteça, um casório, dormir de novo e esperar amanhecer domingo.
Pego um avião para Brasília domingo de manhã… E espero de coração encontrar amigos dispostos a me ajudarem a tomar um bom porre. Já que eu não posso com meus problemas, vou comemorá-los. Ou chorá-los… Que seja. Dá tudo na mesma quando há um final.
Pra quem for de Brasília e quiser sair pra falar bobagem e bebericar a vida, me escreva no alefelix@gmail.com que a gente combina. Vou pegar e-mails nesse endereço nos próximos dias.
Fui. Volto na quarta. Ou, de repente, se me abandonarem em Brasília, escrevo de algum cyber-café de lá.



Escrito pela Alê Félix
24, fevereiro, 2006
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Acabei de descobrir que não adianta nada realizar uma lista de desejos quando não se é capaz de perceber o tanto que a vida já deu. Tô tentando abrir os olhos…
Estava zapeando a TV e parei numa cena onde perguntavam para uma garota o que ela julgava mais importante: fé, amor ou esperança. Deu falha de energia, a luz piscou, a TV desligou, ligou de novo e eu perdi a resposta. Quando o filme voltou, não conseguia mais prestar atenção em nada porque precisava chorar um pouco minha falta de fé, esperança… O filme acabou sem que eu ao menos soubesse do que se tratava. Acho que deixei a TV ligada só para as vozes dos locutores me fazerem companhia.
Quero meu blog diário de volta… Queria escrever confidências e ler comentários que me fizessem sentir amparada. Era bom ter desconhecidos que faziam eu me sentir menos sozinha, era bom. Como é que se volta? Alguém aí mora em Brasília? Tô pensando em chorar o pós-carnaval em algum lugar sem esquinas, samba, nossa tristeza senhora e registros de saudade.



Escrito pela Alê Félix
21, fevereiro, 2006
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Tenho dois ingressos para o show do U2 – dia 20. Será que alguém aí tem dois ingressos para o dia 21 e toparia trocar comigo?



Escrito pela Alê Félix
16, fevereiro, 2006
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Ele jogou a chave sobre a mesa, bateu a porta, não deixou beijos de despedida. Encerrou nossa história depois de uma discussão sobre grana, depois de mandar eu enfiar o nosso apartamento no cu, depois de dizer que preferia salvar o carro dele das garras do meu advogado do que o nosso casamento. Aquele não era o nosso primeiro fim, mas seria o último. No corpo, o mesmo frio na barriga que eu senti quando o conheci. A sensação que um dia me fez sorrir, agora me fazia amarrar as lágrimas e temer pelo futuro. Um silêncio que me cortava o peito… O peito e uma esperança qualquer de que ele abrisse aquela porta e me pedisse algum tipo de desculpas. O barulho do elevador, silêncio, silêncio, silêncio, o barulho do elevador novamente. Ele foi embora…
Era tanto medo, tamanho o vazio diante de mim, que entrei em desespero. Corri até o hall e esmurrei a porta automática como se pudesse agredí-lo com um escândalo. Oitavo, sétimo… Pedi que ele voltasse, que me perdoasse por qualquer mal que eu pudesse ter feito. Sexto, quinto, quarto, terceiro… Ofendi sua família, gritei seus segredos, amaldiçoei sua vida. Segundo, primeiro andar, térreo… Meu corpo jogado naquele chão e eu só fazia chorar e chorar e chorar. E nada do elevador voltar, nada dele voltar pra mim… Talvez, nada mais adiantasse.
Talvez… Térreo… O carro estava na área descoberta. O seu precioso carro tão mais importante do que o nosso casamento. Levantei num impulso cheio de raiva, limpei as lágrimas do rosto, ergui o vaso de pedras e plantas contra mau-olhado e segui em direção à janela da sala. Olhei para baixo, controlei minha vertigem, mirei o capô e, finalmente, o fim. A certeza de um ponto final depois de quatro anos tentando fazer a relação dar certo, quatro anos de separações que não rompiam as paredes do quarto, quatro anos acreditando que seríamos maiores do que os nossos defeitos e alimentando os sonhos de amor eterno que a vida me ensinou a sonhar. Um fim de verdade, afinal. O vaso espatifado sobre o carro da vida dele, o vidro trincado, o alarme disparado. As palavras não eram mais necessárias, desculpas não seriam mais suficientes.
Fechei a janela, tranquei a porta, passei a trava. Entrei no banheiro e liguei o rádio o mais alto que pude para não ter que ouvir nem meus pensamentos, nem o ódio que ele finalmente poderia gritar que sentia. Tirei minha roupa, joguei no cesto, me despi da fé de uma vida inteira. Liguei o chuveiro e deixei que a água caísse sobre a minha cabeça. Chorei todos os anos perdidos. E ignorei os murros na porta, os palavrões que se misturavam com Rolling Stones e som de água corrente. Aumentei o volume. I can´t get no satisfaction…
Saí do banho quando as lágrimas secaram no meu corpo e alarme do carro não mais me ensurdecia. Com os cabelos enrolados em uma toalha, vesti um roupão de banho e tentei não pensar na solidão que me assombraria nos próximos dias… Eu queria dormir. Dormir por meses. Pensei em remédios… Andei de um cômodo ao outro. Cômodos grandes demais… Um apartamento vestido de sonhos matrimoniais, o apartamento de uma família que nunca existiu. Sentei no sofá em busca de algum conforto. Na estante, livros, TV, cds, mais livros, gavetas com tranqueiras e um quebra-cabeça que eu nunca havia aberto. Virei a caixa no chão, esparramei os pedacinhos que compunham As Bodas de Caná e voltei a chorar…
————->> Continua.



Escrito pela Alê Félix
9, fevereiro, 2006
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