Pra quem leu a matéria no Estadão ou no JT, para aqueles que escreveram, para esclarecer dúvidas:
– Não me mande uma cópia do seu livro antes de enviar um e-mail com dados pessoais, link do blog (ou site) e uma breve descrição sobre o seu livro. Se eu gostar da idéia entro em contato. Se não me animar de publicá-lo, mas puder ajudar de alguma forma, farei o que puder.
– Eu gostar do seu blog não significa que gostarei do seu livro. O blog é só meu primeiro filtro, ok? A Gênese é uma editora pequena (que antes dos blogs prestava serviços para empresas e não tinha a menor pretensão de abrir espaço para os livros). não é minha única fonte de renda e só publico livros quando estou com disposição, tempo e verba para fazê-los. O trabalho de revisão, edição, publicação, distribuição e lançamento de um livro é bastante cansativo e não deixa ninguém milionário da noite para o dia. Sendo assim, se eu não estiver bastante entusiasmada com o livro e com o autor, prefiro tirar outro ano sabático e conhecer (conhecer, não é “pegar”) “meus leitores (masculino e feminino) psicóticos”.
– Estou há oitocentos e trinta e quatro dias sem falar palavrão. Não sei de onde saiu aquele, mas, na dúvida, já lavei a boca com água e sabão. Acho horrível uma mulher com essas coisas na boca e juro que achei aquelas frases tão bizarras que estou questionando se ando ou não usando drogas… Eu nem rio tanto! Enfim, definitivamente, esse negócio de entrevistas não é pra mim. Além de eu não ter nada pra dizer, parece que bebo, não penso e sorrio demais. Eu não sou tão simpática assim.
– Trabalho no meu tempo, me esforço para manter minha sanidade e a das pessoas que trabalham comigo. Se eu demorar ou estiver com muita pressa para trabalhar em algum projeto contigo, tente me deixar à vontade que prometo não decepcionar (muito).
– Eu não fico deprimida, fico triste. E tristeza pra mim é igual a resfriado: pode me derrubar um pouco no começo, mas não dura mais do que uma semana. Por isso, pai e mãe, não surtem. Não fiquei “deprimida” quando me separei. Sai na Vai-vai no dia seguinte, lembram? Pois então… O que me deprimiria não seria uma separação e sim, perder o carnaval. Como não foi o caso, não pirem com tudo que vocês lêem porque nem sempre algumas frases fazem sentido fora de todo o contexto. E, please, nunca mais me liguem as sete da manhã pra saber se eu estou bem ou não. Nem que meu rosto estampe as páginas policiais ao invés do Caderno de Informatica, ok? Se isso acontecer é porque já estarei frita mesmo…
– O mundo já tem gente demais pra dizer besteira e coisas sem sentido e eu ando cansando de fazer parte da turma que fala demais. De qualquer forma, ignorem minhas falas e corram para os blogs das pessoas que publiquei. Elas, apesar de mim, são pessoas muitissimo talentosas.
– Dia desses mandei um email pra uma garota que tem uns desenhos lindos, um traço cheio de personalidade, umas sacadas ótimas. Escrevi dizendo que queria conhecer o trabalho dela melhor, que não sabia o que ela tinha em mente e nem quais projetos, mas que adoraria se um dia pudessemos trabalhar juntas. Numa outra ocasião, conheci o blog de uma moça que tem tudo pra ser uma das grandes escritoras desse país. Consegui o telefone dela antes mesmo de enviar e-mail, me apresentei meio encabulada pela invasão e insisto até hoje para que ela termine uma de suas tantas idéias para livros. O que tô querendo dizer é que eu vivo (tanto pelo alimento da alma quanto do corpo) de idéias. E se você sabe de alguém que é muito bom e que, talvez, eu goste de conhecer, e-mail-me.
É isso. Acho.



Escrito pela Alê Félix
20, junho, 2007
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Já tem uns dias que o Edney destruiu um dos meus playgrounds virtuais… Fiquei com a maior dó. Era um lugar engraçadinho apesar de cheio de regras e gente desregrada.
Tô tentando reconstruir o trem… Se você quiser jogar conversa fora por lá, só clicar aqui.
Pode parecer panelinha, mas não é não. Moçada gente boa, apesar de terem ou lerem blogs. 😉



Escrito pela Alê Félix
15, junho, 2007
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1 – Antes dessa explosão dos weblogs, você já costumava escrever? Seja diários, contos ou poemas?
Quando garota (acho que por volta dos 13 anos) arranjei um namorado platônico, um vizinho bem mais velho que eu e lindo de morrer. Como nunca na vida arranjaria coragem pra dizer a ele o que sentia, comecei a colocar tudo no papel. No começo, eram textos semelhantes aos posts, mas sem a cara do diário porque eu tinha medo que minha família ou amigos lessem e soubessem o que estava acontecendo. Pra disfarçar um pouco o teor romântico e esconder a situação, disse pra todo mundo que queria ser escritora quando crescesse e que, por isso, estava escrevendo daquele jeito.
Exagerei e escrevi um livro de verdade. Uma historinha boba de uma garota que vivia os dias de amorzinho que eu idealizava. Dei fim no livro depois de concluído, óbvio. Mas não deu pra parar de escrever porque a meninada da escola não me dava mais paz…
Uma colega de classe lia as coisas que eu escrevia e dizia pra deus e o mundo que era tudo lindo e não sei mais o quê. Aconteceu que a notícia rodou a escola e meninas (que nem me conheciam) me procuravam para que eu escrevesse pedidos de desculpa, cantadas e coisas assim para os paqueras que elas arranjavam. Vinham até mim, contavam suas vidas e eu escrevia o que elas sentiam de um jeito que trouxesse o resultado esperado. Uma espécie de mãe de santo da literatura que usava as palavras ao invés de galinha preta.
No começo foi bem divertido, mas depois do dia que uma aglomeração de menina louca se formou em frente a minha carteira, passei a cobrar. Aperfeiçoei os bilhetes com papéis de carta que eu mesma fazia e transformei a história em um dos meus primeiros negócios lucrativos. A vantagem foi que poupei meus pais da grana diária do lanche e do transporte escolar.
Depois disso, parei de escrever por volta dos dezessete anos. Entrei numa fase muito namoradeira e não dava pra perder tempo escrevendo, lendo, nem nada disso. Sem contar que escrever, na maior parte dos casos, me deixa meio triste. Então, nem que houvesse uma bíblia entalada no peito, eu trocaria as descobertas das festas e do sexo pela literatura.
Voltei a escrever só depois de casada, uns dez anos depois de ter parado. Culpa dos blogs, graças aos anos que passei segurando a bíblia de um casamento no peito.
2 – Porque, num primeiro momento, você decidiu ter um weblog?
Porque estava triste e me sentindo a mulher mais assexuada do planeta. E os blogs eram a minha cara… Um amigo me obrigou a parar tudo que estava fazendo e mostrou como funcionava a ferramenta, o esquema dos comentários, troca de links, etc. Foi amor a primeira vista, mas o primeiro blog falava sobre sexo.
3 – Como é sua relação com os leitores do weblog?
De receio e paixão. O que sempre me atraiu nos blogs foi a interatividade. Acho que bem mais do que a liberdade de expressão. Eu leio tudo que comentam, entro nos blogs dos leitores, acompanho alguns, mas raramente troco contatos. Não por me achar a última bolacha do pacote nem nada disso. Relação com leitor de blog parece relação de amor e acho que sofro de algum tipo de medo de não corresponder expectativas. Porque pode não parecer, mas sou facinha de fazer amizade, sabe? Aí gamo em todo mundo, fico querendo ser amiga pra sempre e depois não dou conta.
Sou eternamente grata a todos os leitores dos blogs que já tive e tenho. Eles me salvaram de tristezas cotidianas, do fim do meu casamento, das minhas crises de estima e, mesmo eu rosnando, alguns ainda me oferecem algum tipo de carinho. Eu devia agradecer pessoalmente a muita gente, mas ainda tô aprendendo a ser uma pessoa normal, que tem amigos, faz amigos, responde e-mails e essas coisas todas.
4 – Você pode detalhar mais sobre o processo de escrita do weblog. Quando você escreve quando acha que tem algo interessante a dizer para os seus leitores ou para desabafar sentimentos e opiniões pessoais?
Tenho uma preguiça gigante de escrever e não gosto. Pra piorar, não releio o que escrevo e posto sem pensar. Acabo me arrependendo com freqüência do que foi escrito (pelo conteúdo, pelos erros, por piração) e depois fico louca pra apagar tudo.
Escrevo quando estou triste, quando a idéia me parece boa, quando estou confusa, quando estou indignada, quando me sinto sozinha, quando estou secretamente apaixonada, quando existe uma histórinha pronta na cabeça me atormentando pra ser escrita. Caso contrário, não sai muita coisa. Também me arrependo de ter um blog onde assino com meu nome verdadeiro e tem a minha cara estampada. Hoje em dia preferiria ter um blog secreto. Um que eu pudesse falar (não me sinto escrevendo, sempre me sinto falando) à vontade sem me preocupar se magoaria ou não outras pessoas.
5 – Você acredita que o weblog é um espaço onde você poderia dizer o que você não diria cotidianamente para outras pessoas?
É, mas só se você tiver coragem. É dificílimo administrar realidade, ficção, metáforas, opiniões e sentimentos em um blog onde, entre as pessoas que lêem, estão algumas que te conhecem pessoalmente.
6 – Você costuma reler os textos mais antigos do weblog? Qual a sua relação com esses textos e como é a experiência de ler sobre si mesmo?
Muito raramente. Uma vez tive que selecionar alguns posts pra uma revista e, por um triz, não deletei tudo. Acho todos eles de uma chatice sem fim. Sem contar os erros grotescos e a confusão toda que sai sem filtro nenhum da minha cabeça. E não é falsa modéstia, não tenho mais idade pra isso. Na época que os reli, a vontade que me deu foi sair correndo em busca de uma vida menos medíocre.
7 – Você acredita que o weblog também serve como ferramenta para um maior auto-conhecimento?
Acho. Quando se tem um blog é comum a pessoa parar no meio de situações cotidianas e pensar “Puxa, isso dá um post.”. Esse processo faz a gente pensar e organizar os fatos de uma forma mais clara. Escrever na primeira pessoa e ter que lidar com os comentários também fazem parte do processo de auto-conhecimento. Muitas vezes, entre leitores e autor de blog, a relação é muito parecida com a de terapeuta e paciente. E os papeis se revezam dependendo do post. Já segui muito comentário de leitor…
8 – Existe uma gradação no seu weblog sobre o que é ficção e a realidade. Pode-se dizer que a ficção também diz um pouco sobre você?
Totalmente. Diz bastante. Tanto que parte da minha família lê o blog e não consegue mais distinguir o que é uma coisa e o que é outra. Meu irmão diz que o blog me transformou no “peixe grande” lá de casa. É exagero, mas pode ser que o blog tenha esse poder. O que sei é que alguns parentes contam histórias que leram no blog como se fossem realmente casos da nossa família. E eu acho graça… Me divirto misturando tudo, tentando me reconhecer diante dos fatos e tratando na terapia os que eu juro com os dedos descruzados que são a mais pura realidade.
9 – No começo do weblog você as vezes demonstrava um desconforto perante os leitores, o que gerava isso?
Necessidade de aceitação minha, pura insegurança, medo de me envolver… O pior é que a maioria vivia me elogiando e aquilo pra mim era o mesmo que encher um bebe de beijo, sabe? Na verdade, acho que a melhor explicação é a que dei pra um moço que assustei uma vez: Acho que sou como um moleque de pré-escola quando está apaixonado por uma garotinha e que, ao invés de dar uma flor pra menina, taca-lhe a lancheira na cabeça. Quando gosto muito de alguém sempre dou umas rosnadas, não tem jeito. É horrível e isso me faz mais mal do que bem, mas é assim que é.
No fundo, no fundo o que eu queria era poder conhecer melhor cada um que passava pelo blog… Só não sabia como lidar com aquilo. Aí era mais fácil fazer cara feia e rezar pra sobrar alguém que não tivesse medo de careta.
10 – Você acha que seria diferente caso você escrevesse no papel?
Totalmente. O que é escrito no blog é difícil à béça de ser passado para o papel… Mesmo quando é feito com esse intuito. No começo do blog, escrevi um post chamado “A Saga do Primeiro Beijo”, despretensiosamente, não consegui terminá-lo em um único post e ele virou uma bola de neve. Até hoje a história não está acabada porque vendi os direitos pra publicação e não consigo adaptá-la ao papel. O final se tornou o menor dos meus problemas, estou tendo que rescrever tudo.
11 – A reposta dos leitores em relação ao weblog te influencia no que você vai escrever?
Alguns leitores me inspiram e acabam dando idéias pra escrever outras coisas. Influenciam tanto no rumo de algumas histórias como até no meu dia a dia… Teve um rapaz que descobriu no começo do Amarula com Sucrilhos que eu era a autora de um blog de contos eróticos (meu primeiro blog) bastante popular no IG. Na época, morri de vergonha, tirei o blog do ar e disse num post do Amarula que haviam descoberto minha identidade secreta, mas que eu havia eliminado as provas. Fiz gracinha com a situação, mas aquilo me fez parar de escrever totalmente. Não queria de jeito nenhum que alguém pudesse misturar a personagem do blog com o que sou de verdade. Só consegui voltar a escrever posts eróticos (que é a única coisa que sempre me diverte) recentemente.
12- Você sente – ou já sentiu – necessidade de atualizar o weblog freqüentemente?
Antes não, hoje em dia sim. E muita… Quero só ter um diário, nada além disso. Quero poder falar da vida, das pessoas, dos meus sentimentos sem me preocupar com os outros. A merda é que não tem como não pensar naqueles que estão ligados as nossas histórias. Tem que ter uma cabeça muito da boa pra não viajar na maionese diante de um post e pirar com os comentários que podem deixar. É difícil, mas tenho conversado com as minhas pessoas mais importantes e tentado convencê-las de que só vai doer se ignorarmos a verdade ao invés de desconhecidos e possíveis alteradas na realidade.
13 – Já se arrependeu de ter escrito ou exposto algo muito pessoal no weblog?
Direto! Mas não há nada que um botão de delete não resolva.



Escrito pela Alê Félix
6, junho, 2007
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Ano passado, logo que me separei, minhas antigas amigas de farra me ligaram para celebrar a passagem. Sim, amigas boas, não choram leite derramado; se reunem em volta de uma fogueira e dançam… Dançam até sobre ela se for pra espantar os maus maridos (não que fosse o caso. Ex-maridon era tão bom marido que ainda mora aqui em casa, segura as pontas da empresa pra eu viajar, conserta coisas que quebram, me ajuda a pensar melhor. Em troca tenho o ajudado a procurar apartamento, carro, essas coisas menores. Sim, porque mesmo tão amigo é punk morar junto depois de tanto tempo casado… A gente não liga muito quando as pessoas fazem cara de espanto quando contamos. Sabemos que o que temos é amizade da boa, que não existe risco de recaída e nada de sexual que nos faça trocar a amizade pelo casamento. Claro que tivemos dias ruins, claro que tivemos dias que quisemos esganar um ao outro. Mas, no meio da tempestade, acho que estamos conseguindo arranjar um lugar seguro pra continuar nossa história. E tá indo bem assim… Melhor que matar uma década de convivência só porque o casamento acabou. Não acho isso normal, não consigo achar… Já perdi tanta gente querida porque inventei de namorar… Não quero que ele seja mais um.).
Mas eu estava falando sobre os dias que fiquei solteira… Pra dizer a verdade, só abri um parenteses pra justificar o porquê de ter ficado tanto tempo sem postar direito e porque talvez isso ainda se estenda. Foi bem dificil acertarmos a mão da rotina e não queriamos magoar ninguém. Pra dizer a verdade de novo, ainda não sei se acertamos, mas eu precisava voltar a ter um diário pra estravazar meus demonios. Não, não levo o blog a sério desse jeito. Não tô nem falando de blog. Tô falando que foi aqui que aprendi a transformar dias ruins em algo que me alivia um pouco dessas minhas neuras todas. É como se escrever servisse de ponte de um lugar apertado e claustrofóbico pra um outro cheio de horizontes. Gosto de ter blog por mais bizarro que isso seja. Sim, é bizarro. Ultra esquisito gostar de fazer da vida um espaço aberto desse jeito. E nem é por vaidade, nem nada disso… Gosto da dinamica dessa merda toda. Sim, é uma merda. É bom, mas é uma merda. E ex-maridon sabe o quanto sinto falta de escrever à vontade, de não me sentir presa as amarras do cotidiano, aos padrões, ao que é aparentemente certo. Aí ele me perguntou porque eu não escrevia e foda-se… E, talvez, já dê pra tentar, mas não sei.
Às vezes, me sinto quase casada novamente… Com aquele moço que me faz voar pra Brasilia sempre, sabe? Casa lá e casa aqui, escritório lá e escritório aqui e eu em nenhum dos dois lugares e nos dois lugares ao mesmo tempo. E ele é um ser humano absurdamente especial, alguém que já me salvou tanto de mim mesma que eu faria qualquer coisa pra não fazê-lo sofrer. Não sei se o coração dele aguenta uma mulher com diário sem cadeado… Acho que nenhum homem aguenta. Também não sei se tenho o direito de pedir a ele mais do que a compreensão e confiança que tem em mim…
Uma amigo sugeriu que eu escrevesse sobre as minhas verdades, mas escrevesse diferente. Aí apareceu uma garota esses dias pedindo que eu desse a ela uma entrevista sobre blogs. E ela disse que mesmo quando escrevo ficção eu sou eu. Então que diferença faz? Sei que tô me dando justificativas pra não escrever só posts ficticios e isso parece foda-se, mas não é. Como é que vocês fazem pra escrever num troço tão primeira pessoa sem atingir pessoas próximas? O que nós somos além da nossa história? O que será de nós se tivermos que abrir mão das coisas que amamos, pelas pessoas que amamos? É melhor tentar lidar com os fatos ou deixa-los como estão só pra não ter que enfrentar situações incomuns e pouco convencionais?
Diários definitivamente são feitos para machucar…
Ah, não sei. Me perdi totalmente… Depois eu conto o que ia contar lá no começo porque não era nada disso.
Que merda… como é dificil falar da vida, como é dificil separar, como é dificil casar, como é dificil ser casada, como é dificil ser solteira, como é dificil se relacionar com as pessoas, como é dificil ter um blog e escrever diferente.
Wil, eu te amo. Ru, eu te amo. Mas acho que preciso disso aqui novamente.



Escrito pela Alê Félix
4, junho, 2007
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Minha solidão não é inferno, minha solidão não é castigo. Minha solidão é travessia no deserto. Às vezes implorando por oásis, às vezes acompanhada, sempre um pedaço de caminho disfarçado de caminho inteiro. Minha solidão é noite fria, é seu beijo sem a sua lingua, é virar de lado nessa cama vazia. O calor das manhãs não me acalma. Joga no chão, faz rastejar sobre o nada, ensina a sobreviver abaixo da superfície. Minha solidão é deserto e a sua também, você sempre soube… por que não me contou? O silêncio nos distraia das palavras mal ditas que ecoavam no nosso peito, só para nos proteger da loucura. Os sonhos se misturaram com saliva, lágrima, suor e um pouco de delírio no meio e fim da madrugada. Eu achei que éramos iguais, que nós dois estávamos perdidos e que tudo voltaria a fazer sentido quando entrelaçássemos nossas mãos… Mas era só mais um engano, era só mais uma brisa de desejo… Passou.
Carinho nenhum vira orgasmo depois que uma paixão se perde no passado, amor nenhum sobrevive a ausência do toque, nunca houve flores no meu deserto… só ilusões. A ilusão de que a solidão é destino e não um manto de proteção. A ilusão de que você era de verdade e que traria flores do Atacama… Ao menos uma, por uma noite que fosse, por uma miragem que nos guiasse pela saudade e não findasse nossa história sem os abraços que escrevemos enquanto nossa febre nos queimava e distanciava.



Escrito pela Alê Félix
1, junho, 2007
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– Vamos ou não voar de asa-delta?
– Não, dessa vez. Não tô no espírito.
– Que é que cê tem, hein?
– Velhice! É isso que eu tenho.
– Quê? Cê nunca foi disso, pai!
– É… Mas eu já passei dos sessenta. Melhor eu me cuidar, senão ó…
– “Ó” o quê, pai?
– Sua mãe, ué! Você não está vendo?
– Vendo o quê?
– Sua mãe depois que emagreceu! Agora só porque ela está assim, toda bonitona, anda de conversa com todo mundo. E ela é muito mais nova do que eu. Se eu bobear, já vi tudo!
– Você não tá falando sério, né? A mamãe sempre foi conversadeira. Você nunca ligou pra isso! Não viaja, pai…
– Mas antes ela achava que ninguém dava bola pra ela porque ela era gordinha. Agora tá aí… Toda serelepe. O dono da padaria vive dando umas broas de graça quando ela vai comprar pãozinho de manhã. Pensa que eu sou besta? Que eu não vejo?
– Por isso que você tá assim sem correr, sem pular de asa-delta e com essa cara de enfermo na fila do SUS?
– Claro! Vou dar sopa pro azar? Se sua mãe arranjar outro eu tô ferrado! Vou é fazer cara de dó e marcação cerrada!
Que falta de criatividade decidir ter crise ciúmes depois de trinta anos de casamento e por causa de umas miseras broas de milho recheadas (sensacionais! Que meu pai não me ouça.). E eu achando, no post abaixo, que meu pai tinha uma amante. Como minha família é sem graça… :-s



Escrito pela Alê Félix
31, maio, 2007
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Tomara que minha mãe nunca morra. Não porque ela é minha mãe, não porque eu goste da companhia dela. Não quero que ela morra porque eu sei que depois dela, minha família nunca mais será a mesma.
Vim de duas famílias muito grandes e muito diferentes, sabe? Do lado materno, me sinto em casa. Todos são normais, donos de uma aparência e comportamento que os fazem circular naturalmente em qualquer ambiente. Gosto bastante do meu lado materno. Tanto que cresci dizendo que minha mãe salvou a evolução genética da família de meu pai.
OK, era sacanagem minha. Não muita, mas era. OK, era. A família do meu pai é MUITO sem noção. Não, vocês não fazem idéia. Surreal de sem noção. Um dia desses, por exemplo, rolou um acidente feio na marginal Pinheiros e um cara perdeu a perna. No meio do furdunço, o sujeito berrava em desespero: “Perdi minha perna! Perdi minha perna!”. Um dos meus tios (irmão do meu pai) estava numa lotação, ouviu a gritaria, enfiou a cabeça pra fora da janela e danou-se a gritar: “Não perdeu, não! Não perdeu, não! Ela tá ali ó!”.
Tá rindo? Acha que eu tô de conversa, né? É sério. Pior, ele falava sério! E, juro, isso não é nada. Meu pai é o menos lelé e, quando eu digo “menos”, te garanto que é um “menos” muito pouco “menos”. Meu pai deu sorte. Na verdade, esta é a estrela dele: ele tem sorte. Foi um cara tímido pra cacete, se achava feio (apesar de não ser) e estava condenado a morrer virgem e tantã se não tivesse socorrido minha mãe de um atropelamento de bicicleta. Casaram um ano depois e misturaram duas famílias grandes, muito diferentes, mas que se tornaram muito próximas devido ao dedo de minha mãe.
As vezes, chego na casa dos meus pais nos fins de semana, olho para aquele monte de carro estacionado no portão e me pergunto se estaríamos lá se ela tivesse ido passear no shopping, se fosse uma mulher ocupada com a profissão, se não gostasse de cozinhar e manter as portas abertas. Se um dia ela morrer, o cheiro da panela no fogo não será o mesmo, o telefone irá parar de tocar, a casa perderá a alma e o vento se encarregará de fechar aquelas portas. Se um dia ela morrer, as festas só serão celebradas quando virarmos as páginas dos álbuns fotográficos. Se um dia ela morrer, é provável que comecemos a morrer…
E se ela morrer antes do meu pai?
Foi essa a pergunta que me fiz no último dia das mães.
Ah, se ela morrer antes do meu pai, eu tô ferrada.
Foi essa a resposta que resmunguei em silêncio… Porque ele é da parte maluquinha. E eu e meus irmãos achamos que nós não somos maluquinhos, que puxamos só para a minha mãe, sabe? Se bem que eu não sei mais nada… Acho que ele está apaixonado. Até o mês passado, ele corria todas as manhãs, fazia academia no fim da tarde, acordava disposto virando tigelas de aveia com mel e ia trabalhar com a energia de alguém que não faz a menor idéia de que já passou dos sessenta. De uns dias pra cá, anda numa tristeza sem fim. E eu, que sinto cheiro de pé na bunda a quilômetros de distância, já tô achando que aquilo deve ser dor de amor.
Tomará que minha mãe não tenha percebido… Por que não? Porque ela não é como ele. A felicidade dela está cimentada em cada tijolo da nossa casa, a dele não. Ele acha que a dele está na variedade das cores dos olhos de uma mulher, nos sonhos de infância, no desejo de se jogar no mundo… Vocês acham que pai e mãe enquanto casados não se apaixonam por outras pessoas, né? Quisera fosse tão simples…
Acho que meu pai está apaixonado pela segunda vez na vida. A primeira virou amor, virou parente. Ele achava minha mãe uma menina linda e morria de medo dela trocá-lo por um cara mais jovem. Tá nas fotos do casamento, ele era louco por ela. Fotos falam, ele nem precisou me contar. A segunda? A segunda deve estar doendo pra cacete… Ele nem quis correr no parque no último domingo… Paixão.
Passei a vida toda tentando ser o avesso dele… Inconscientemente, claro. Vi isso tem pouco tempo. Antes, ele era o atleta e eu a jogadora de video-game, ele acordava e eu ia dormir, ele queria que eu estudasse para ser o que eu quisesse ser… Mas decidi primeiro ser alguém, para depois estudar o que quisesse e quando quisesse. Ele nunca me disse exatamente o que ele era, mas eu fiz o possível e o impossível para que não nos tornássemos a mesma pessoa. Nunca quis ter nada da personalidade dele, nunca olhei para os meus genes paternos com carinho e gratidão. Sempre percebi que minha mãe era a responsável pela casa cheia, por aquele teto, por todos os nossos alicerces… Um alicerce conservador, honesto e humilde. Mas só agora vejo que sua obra – apesar de firme – era de uma simplicidade tão grande que se não fosse pela loucura extravagante de meu pai, eu e meus irmãos talvez tivéssemos nos tornado moradias sem janelas.
Meu pai é um homem que eu mantive distante… Um cara que um dia desses eu peguei conversando com meus irmãos e dizendo: “Ela não precisa terminar nenhuma das faculdades que ela começou e largou. Se ela quiser, tudo bem. mas não por medo do dia de amanhã. Ela é livre, faz o que quer, vive como quer e vive bem. Vou me preocupar com o futuro dela porque? Com vocês é natural que eu me preocupe, com ela não. A Alessandra voa!”.
Eu devia ter saído correndo pra chorar escondido no banheiro porque foi a primeira vez que vi meu pai me dizer sim. Devia, mas não fiz isso. Dei a volta no corredor e fui chorar escondido no banheiro, é verdade, mas não chorei. Agora eu tô, mas naquela hora não chorei não. Fiquei com um aperto no peito, um nada de lagrima nos olhos e um sorriso em frente ao espelho. Um sorriso de quem percebe o tamanho da merda invisível que construiu durante tanto tempo. Passei todos esses anos tentando não ser igual ao meu pai e fiquei a cara dele. Não pelos gostos, não pelos desgostos, mas pela essência. Ele me deu tantas janelas e eu fui sobrevoar justamente os horizontes que ele sonhou antes de mim. Meus sonhos, minhas asas, minha aparente liberdade, toda essa minha loucura ridícula e obcecada por paixões; são o meu pai, são os meus dias bons.
Tô indo pro Rio de Janeiro amanhã de manhã. Não há paixonite que continue doendo sob as asas do Cristo Redentor. Sendo assim, fiz um arrastão naquela família e vou passar o fim de semana com meus pais, irmãos, irmã, cunhadas e com o meu sobrinho. Sábado é aniversário do meu pai, vou leva-lo pra voar de asa delta. Ele disse que anda meio triste, mas que topa. Não falei? Paixão e tantanzice. Queria ser tão corajosa quanto ele…



Escrito pela Alê Félix
24, maio, 2007
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Acho o amor um grandessissimo tédio. Vejo uma porção de gente reclamando que sente paixão, mas não ama e fico aqui pensando se não invertemos tudo. Tá na cara que paixão é mais forte que amor e não o contrário. Acho que dizer pra alguém que depois de não sei quanto tempo tal relação virou amor, é o mesmo que dizer “Já era. A graça acabou!”.
Amor é coisa de parente, eu quero mais é ficar doente de paixão, sabe? Quero a inspiração, os sorrisos solitários no meio do dia, as bochechas coradas de vergonha, o frio na barriga. Ah, o frio na barriga… Que saudade daquela maldita insegurança que mexe comigo de um colo ao outro. Ok, amar é bom. É bom… A qualidade do sono é ótima.



Escrito pela Alê Félix
23, maio, 2007
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