Vou atualizar o escambo hoje sem falta, mas antes vou assistir o show da minha amiga querida lá no Bixiga. Quando eu voltar eu
atualizo. Ah! Se por um acaso você me linkou e eu esqueci de colocá-lo na minha lista, me avise nos comentários.
Beijo para os loirinhos, moreninhos, ruivinhos, amarelinhos, negrinhos, baixinhos, altinhos, magrinhos, gordinhos…
esqueci de alguém? espero que não.
Fui.



Escrito pela Alê Félix
7, janeiro, 2003
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Eu tenho maneirado à béça com os palavrões, mas neste post eu quero que se foda. Vou ter que mandar muita gente
tomar no cu.
Eu tô completamente saturada desta merda de obrigação de ser uma pessoa magra. Antes que eu seja mal interpretada,
NÃO estou dizendo que EU me sinta obrigada a ser magra, estou falando que a regra geral hoje em dia é ser magro e
isto está me dando na paciência.
Sempre achei o ó do borogódó essa gente que acha que pode apontar, palpitar ou fazer comentários idiotas sobre o
acúmulo de gordura alheio. Vão todos tomar no cu antes que eu me esqueça.
Foda-se se você perde parte da sua vida inútil em uma merda de academia cheia de obcecados pelo próprio umbigo,
foda-se se você vive de alface e morre de inveja de quem come direito. Foda-se, porque você está condenado a viver
da ilusão de que esta sua bosta de corpo nunca vai envelhecer, nunca vai criar pelancas e você vai sofrer como um
cão do inferno quando descobrir que esse seu olhar medíocre sobre o ser humano te cegou para o seu próprio corpo. E
o teu corpo não vale nada. Ele vai apodrecer embaixo da terra como outro qualquer, os vermes vão te devorar com a
mesma voracidade, a sua barriguinha de abdominal não vai sobreviver ao tempo, seus peitos vão cair – é a lei da
gravidade, não tem jeito. Corra, corra pra esteira antes que o tempo te pegue, seu babaca. Corra e desapareça deste
blog porque eu não gosto de gente burra.
Não me venham com desculpas de saúde, obesidade morbida & Cia Ltda – papo furado! Todo mundo sabe onde o seu calo
aperta e engordar não significa que você virou uma ameba sem espelhos em casa e que precisa de avisos e conselhos.
Pior é que todo mundo, hoje em dia, se vê no direito de esculhambar qualquer mortal acima do peso. Eu sempre tolerei
este tipo de agressão, mas quer saber? O próximo idiota que se meter a besta comigo vai ter que ouvir tudo o que eu
tenho a dizer a seu respeito. E eu vou pegar pesado. Vou falar de cor, raça, credo, vou chamar de aeroporto de
mosquito, Kleber Bam-Bam, de analfa, toco-de-amarrar-jegue, filhote de cruz credo, dragão de komodo, fedido e de
todas as outras coisas horrorosas que eu aprendi na infância. E torça para que eu não tenha percebido nenhuma falha
de caráter da sua parte, senão você vai ver o que é bom pra tosse. Quem fala o que quer vai ter que ouvir o que não
quer e não vai ter ética e nem conversa da minha parte. Já que estão criando padrões inaceitáveis eu também vou
criar os meus e, como eu costumo ser bastante exigente, é melhor tomarem cuidado antes de virem despejar bobagens
nos meus ouvidos.
Maridon me contou que leu num blog um cara comentando sobre um amigo dele que estava namorando uma gorda e que ele
não sabia como o cara tinha coragem de sair com a garota na frente dos amigos. Tô cheia de ler um monte de blogs de
caras feios pra caralho achando que podem comer tudo que é gostosa e que falam de mulheres gordinhas como se elas
fossem feias e retardadas como eles. As mulheres são as piores. No vale tudo de hoje em dia, a ordem é agradar os
machos acima de qualquer coisa e as fêmeas deram para se submeter a todo tipo de mutilação necessária para ficarem
comestíveis para os bobões. E ai da moça que não fizer parte do clube das transtornadas com o estado civil – ela
será julgada, condenada e achincalhada com risinhos e comentários camuflados pelas mãos. Afinal, ninguém pode ser
feliz sendo diferente delas. É fundamental pertencer ao exército de loiras com chapinha, roupinhas de dolls e
peso-pena. Qualquer diferença, e adeus felicidade para você!
Esses dias, soube que até o Léo Jaime andou
soltando o verbo sobre o assunto. O cara tem atestado de qualidade da Monique Evans e tem que ficar lendo detalhes
sobre as suas curvas. Vocês estão loucos? Ele pode sair no próximo carnaval de Rei Momo, pode pesar o quanto quiser
que nenhum quilo lhe tira os méritos conquistados com o corpinho que deus lhe deu.
Essa epidemia da magreza começou quando? Eu acho que foi nos anos oitenta. O que isso trouxe de bom? Nada,
absolutamente nada. Um monte de meninas sofrendo de anorexia, bulimia e o caralho a quatro, um bando de garotos
estúpidos que acham que mulher é pra desfilar na frente dos amigos e mil bandas com garotas que só mostram a bunda e
não acrescentam porra nenhuma.
Acho que esta na hora das pessoas compreenderem que gordo não é igual a feio, fracassado e fodido.
Como diz minha irmã: “sou gorda e sou bonita”. Vou roubar a frase dela e acrescentar outros itens na minha descrição
pessoal: “sou gorda, sou bonita, inteligente, bem resolvida, bem amada, desejada, vivo bem e me divirto mais que
qualquer besta quadrada que se entrega a esta estupidez que é a moda fisica e mental”.



Escrito pela Alê Félix
6, janeiro, 2003
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Foi na crise dos seis anos. Ué, mas não é no sétimo ano que rola uma crise? Não. Casados tem crises o tempo todo.
Períodos “de bem” são “bônus round”, o resto do tempo é um toma-lá-dá-cá sem precedentes.
Depois de seis anos morando com alguém, surge a necessidade de uma reviravolta. Vale casar, ter filhos, ou construir
uma casinha para o cachorro, mas alguém precisa fazer alguma coisa, caso contrário haverá uma mulher morta dentro da
relação.
Eu estava exausta. Tínhamos acabado de resolver todos os problemas financeiros da nossa vida juntos e eu estava
cansada e crente de que, se não haviam mais problemas, não tinha porque haver relacionamento. Não me perguntem
porque. Mulher é um bicho que pensa o que quer, somos as campeãs das viagens na maionese e eu fico lelé com as
minhas encucações.
Estava insegura, triste e achando que o casamento estava no fim mas, como eu não podia fazer nada, comecei a
implicar com a minha assistência médica.
– Este meu plano de saúde é uma droga! Fui no dermatologista e ele disse que eu não vou ficar careca nunca.
Maridon me olhou tentando compreender o que estava acontecendo.
– É… você pode ter um câncer e uma quimioterapia, talvez, deixe você careca por um período. Nervosinha do jeito
que você está, é possível que esta sua vasta cabeleira diminua um pouco também. Mas, fora isso, acho que ele tem
razão, você nunca vai ficar careca.
Eu, indignada, olhava no espelho, procurando “entradas” no meu coro cabeludo.
– Olha aqui! Olha! Minha risca já tem um dedo de espaço e eu não acho um médico decente que trate desta queda de
cabelo.
Maridon rindo.
– Que um dedo Alessandra? Onde? Você é louca! Por que não muda de assistência médica? Já falei mil vezes pra você
mudar de seguradora.
– Já mudei três vezes…
– Uma pior que a outra! Muda pra minha, vivo te dizendo para mudar pra minha.
– E eu vivo te dizendo que eles não aceitam. Só aceitam gente casada.
– Então a gente casa. Vamos em um cartório, casamos e acabamos com isto.
– Mas você não quer se separar de mim?
– Quê?
– É que eu achei que… nada. Eu não vou casar com ninguém só pra ter uma assistência médica bacanona!
– Alessandra, nós somos casados há seis anos. É só um papel. A gente vai lá, faz o que tem que fazer e só. É só pra
ter um bom plano de saúde, sim! Ou você acha que nós não somos casados?
Fiquei surpresa. Maridon era um anti-burocracia e quando o conheci eu soube de cara que ele queria distância de
papel passado, certidões de nascimento e escrituras, mas era claro que nós éramos casados e era claro que eu era uma
louca estressada que estava achando coisas que não existiam. Depois de tanto tempo juntos e com tantos problemas que
tivemos que enfrentar, achei que ele não se importasse mais comigo, mesmo eu estando careca de saber que ele se
importava. Precisei me descabelar para enxergar que o tempo não havia diminuído o que sentíamos um pelo outro.
No cartório, disseram pra nós que no nosso caso era só fazer uma escritura de declaração de união estável, que
apesar de ter um nome assustador, era só uma declaração com o mesmo valor legal de uma certidão de casamento, mas
especifico para pessoas que já moravam juntas, pois era retroativo. Olhamos um pra cara do outro…
– Moço, só um minutinho pra gente pensar. – Puxei o maridon de canto. – E ai? O que você acha?
– Eu acho que a nossa relação é tudo, menos estável.
– É, tem razão.
– Mas é engraçado…
– Mas é pra ser engraçado?
– Não, mas se resolve e é engraçado, melhor.
– É… isso é verdade.
– Vamos fazer este?
– Vamos.
E foi rindo da escritura de estabilidade que o nosso casamento não tinha, que resolvemos a nossa crise dos seis.
Ainda bem! Escapamos da idéia de ter filhos ou mudar para uma casa maior só para construir uma casinha pro cachorro
que nós nunca tivemos.



Escrito pela Alê Félix
5, janeiro, 2003
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Dizem que toda menina tem o sonho de casar. Casar de véu, grinalda, com flores nas mãos, igreja cheia, noivo
penteadinho e cheiroso esperando no altar, montes de amigas morrendo de inveja e lua de mel no Caribe.
Tinha até uma brincadeira que as meninas do primário faziam para descobrir como seria o casamento… será que eu
lembro?


No meio a gente colocava a idade que queria casar; nas linhas do lado esquerdo, os nomes de três paqueras; nas do
lado direito, os lugares para uma inesquecível lua de mel; em cima o seu destino financeiro: “R” de rica, “P” de
pobre e “M” de milionária; por último, era só colocar embaixo, a quantidade de rebentos que o casal teria: 1, 2 ou
3. Pronto, a sorte estava lançada! A partir do número 1 da seqüência de filhos, no sentido anti-horário, contava-se
item por item escolhido 25 (idade escolhida) vezes. A cada rodada de 25, eliminávamos uma escolha – a última opção
era a resposta para o seu futuro matrimônio.
Dá pra acreditar? Pior é que a mulherada fazia esta brincadeira umas cem vezes por mês. Tudo bem, eu admito, eu
também fazia. Não que eu quisesse casar, nunca quis e todo mundo é testemunha de que este não fazia parte dos meus
ideais femininos, mas era impossível não testar a fórmula mágica do casamento perfeito.
Acho que eu coloquei o nome de todos os meninos da escola, todos os namorados e todos os vizinhos bonitinhos que eu
tive. Nunca me importava quando ele dizia que eu seria pobre, contanto que eu passasse a lua de mel na Grécia.
Também não ligava quando caía o menino que eu gostava menos, contanto que a quantidade de filhos fosse 0 (eu adaptei
o método para a minha realidade, ao invés de 1,2,3 eu colocava 0,1,2 e começava a contagem a partir do zero).
Enquanto os meninos jogavam futebol, cabulavam aula e assistiam desenho animado, nós já estávamos desenvolvendo
táticas contra o P, pensando em controle mental de natalidade, planejando o roteiro de viagem e olhando diferente
para o vencedor dos três meninos selecionados. E foi assim que eu cresci, no meio de um universo feminino
extremamente forte que impregnava a minha alma com idéias de lar, família e sucesso financeiro.
Minha sorte foi uma rebeldia natural que eu nunca entendi de onde veio. Apesar de todo o complô para que eu
desejasse o
kit-felicidade, existia um desejo muito mais forte que dizia: 0,0,0 para filhos, foda-se se eu for pobre, lua de mel
é para quem casa virgem e eu não vou casar, vou no máximo morar junto. Depois disso ganhei uma bicicleta do meu pai
e parei de brincar de rabiscar o destino. Não é que o meu plano rebelde funcionou, mesmo assim? Quer dizer, mais ou
menos, apesar de morar junto há muitos anos, eu e o maridon temos uma escritura de declaração de união estável. Aí,
você me pergunta: que diabos é isto? E eu lhe digo: é culpa dessas minhocas que me enfiaram na cabeça a vida
inteira, misturadas com TPM e falta do que fazer. Mais tarde eu conto este episódio que aconteceu no dia 4 de
Janeiro de uns três anos atrás. É que hoje, também, é aniversário do meu sobrinho maravilhoso e eu vou lá comemorar
o primeiro ano da vida dele.
Assim que eu voltar, eu conto a história da tal da escritura. 😉



Escrito pela Alê Félix
4, janeiro, 2003
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Corinthians, Fluminense, gente, estádio, festa.
E tem gente que não gosta de futebol. Vai entender… Vou ver mais jogos no estádio e vou fotografá-los com mais
frequência. E esta miopia maldita? O que eu faço com ela? Operar dói? Fóda este negócio de enfiar coisas no olho…
Não vou operar coisissima nenhuma!
Vai começar!
Explosão
Doutrinada Desde o Berço
Duelo de Torcidas
Indignação Coletiva
Acabou!
São Paulo, sossego, reveillon…
São Paulo é assim: tem horas
de sol
, horas
de chuva
e uma
noite sem estrelas, mas repleta de luzes
.
São Silvestre, fantasias, povo brasileiro, festa
São Silvestre
Cocô
Flash
Estátuas
Dedetizando
Reflexão
Mosquito da Dengue
Equilíbrio
Paz
Tribo
Procissão
Unidos venceremos
Cavernosos
Tem mais fotos da São Silvestre, vou acrescentá-las nesse mesmo post aos poucos. Adorei fotografar os fantasiados da
corrida, estou até pensando em me preparar para correr a maratona de 2012 para 2013. Acho que uns dez anos são
suficientes. 🙂



Escrito pela Alê Félix
4, janeiro, 2003
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Nunca fui disso mas…
aos amores da minha vida: muita saúde, paz na terra em casa e no trabalho, muita comida que enfarta, muito sexo do
bom (e do ruim também porque sexo mesmo quando é ruim, é bom), menos estresse, menos mau humor, mais doçura, menos
agressões verbais, menos arrogância, mais boa vontade, mais dinheiro, menos trabalho, mais alegria, mais abraços,
mais atitudes e palavras de carinho, mais compreensão, menos fanatismo, mais fé no ser humano, mais novas e boas
idéias, mais amor, mais beijos na boca, menos TPM, mais gargalhadas, mais coragem e mais tempo. Tempo livre para
agradecer pelas coisas boas da vida e tempo livre para dizer “foda-se” para as coisas ruins e deletá-las do peito.
Amo vocês.

Este foi o conteúdo do e-mail que eu mandei na passagem de 2001 para 2002 para alguns amigos e familiares. Enviei
antes de embarcar com o maridon para um SPA em Guarapari. O danado passou uma semana indignado com a falta de comida
do lugar e fez questão de não mover uma palha com a desculpa de que não estava se alimentando o suficiente para
queimar calorias. Deitou-se na rede e deixou seu lado baiano aflorar, enquanto eu passava fome e me resfolegava com
aulas de hidroginástica, dança e sobe-morro-desce-morro.
Ele emagreceu, eu não.
passei o reveillon no bem-bom. Vi, do décimo nono andar, a queima de fogos da avenida Paulista, tirei fotos da São
Silvestre e dormi o dia primeiro inteirinho. Tô até agora de bode… Ai, ai, acho que eu vou me pesar pra ver se o
“Método Maridón de emagrecimento” funcionou.
Ah! Revelei as fotos que eu tirei daquele jogo do Corinthians e as do reveillon. Depois de uma década, enferrujada,
sem encostar os olhos em um visor de máquina manual, descobri que o preguiçoso, sortudo e engraçadinho do meu
dignificante cônjuge tinha razão quando se referia ao fato de eu ser míope e não querer usar óculos.
Não adianta implorar, não vou contar o que ele diz sobre esta minha teimosia, não vou usar meu próprio blog para
zoar a mim mesma.
Fui, mas volto com as fotos.
😉



Escrito pela Alê Félix
3, janeiro, 2003
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É só mais um ano. Não preciso de previsões, de revelações nem de exclamações.
É só mais um ano. Com doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias e as vinte e quatro horas de cada dia.
É só tempo, é só passagem, é só uma festa.
Não viajo mais nesta época do ano. Foram necessários quilômetros de estradas congestionadas para que eu aprendesse
que a felicidade não se encontra em uma passagem de ano longe do meu dia a dia.
Antes eu ficava péssima de passar o reveillon aqui. Coisa de paulista – virada de ano em São Paulo é o mesmo que dar
um atestado de infelicidade e falta de dinheiro. Queria distância da cidade neste período e viajar era quase uma
necessidade vital.
Por algum estalo de sabedoria maior, eu mudei. Não sei se vai durar, afinal eu sou paulista e sabe lá deus o que vai
ser desta minha cabeça estressada no futuro, mas descobri que é impossível ser feliz com trânsito, praia cheia e
preços abusivos.
Vou ficar aqui, vou parar de procurar felicidade onde não existe, parar de acreditar em sete ondinhas, calcinha
amarela, roupas brancas, dinheiro dentro do sapato, doze uvas, banho de alecrim e alimentação sem penas.
Quase não tenho ficado em casa. Estou visitando uma São Paulo que eu não conhecia, com ruas tranqüilas, cinema sem
fila, Santa Efigênia, Brás, 25 de Março e avenida Paulista. Vou ver a São Silvestre e os fogos de artifício da
sacada de um quarto de hotel que hospeda gente poderosa o ano todo, mas que fica às moscas no reveillon e a estadia
vira uma bagatela com direito a café da manhã, jacuzzi e vista panorâmica da festa na Paulista. Parece que vou
começar bem 2003, com disparos de boas idéias na cabeça – isso é bom. Sem elas minha vida perde muito do sentido,
preciso de idéias em quantidade e sabedoria suficiente para não transformá-las em um grande pesadelo, o resto está
jogado no vento.



Escrito pela Alê Félix
31, dezembro, 2002
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Os casamentos que eu cliquei (Post III):

O Juízo Final

Aceitei o convite:
– Claro! Tudo bem se for um pouco depois da festa? É que eu prometi fazer as fotos para a Tina. Mas, se você quiser,
pode ser amanhã, depois de amanhã, ou qualquer dia antes que a morte nos separe.
O padre era só gargalhadas.
– Alessandra, minha querida, você sabe onde vai acontecer a festa do casamento? Ali, atrás da igreja, no salão de
festas. Entendeu, agora, o que eu quis dizer?
– Ah! A festa… sim, desculpe padre Giuseppe, eu…
Meu deus, como eu pude ser tão débil? Desejei que meu corpo se desintegrasse e que deus relevasse o meu assanhamento
desmedido – que vergonha!
– Una moça graciosa como tu, non precisa se desculpar.
Interrompeu-me o padre com um sorriso de um canto ao outro do rosto. Na verdade, mesmo depois do mico de achar que
o padre queria me conhecer biblicamente atrás da igreja, eu só ouvia o “minha querida” da frase anterior e tratei de
o acompanhar até o salão.
Encontramos a Rita no meio do caminho. Eu pedi uma intervenção divina e deus me mandou a Rita. Foi bom para que eu
aprendesse a ser especifica nas minhas orações. Minha querida amiga me tirou na marra da companhia do padre.
– Eu não acredito que você disse aquelas coisas para o padre!
– Rita, me deixa!
– Você nunca ouviu dizer que padres não casam, só fazem casamentos?
– E quem disse que eu quero casar? Neste caso, eu sou a mulher ideal: ele continua padre e eu continuo solteira.
– Você deve se achar engraçada, né? Não tem medo de ser castigada por Deus não?
– Olha, se este homem foi feito à imagem e semelhança de deus, quando eu morrer vou curtir muito meu encontro com o
todo-poderoso! Ninguém em sã consciência, nem mesmo com consciência divina, bota um italiano bonito como este no
mundo e deixa para a terra comer.
– Ale, isto é pecado!
A Rita saiu bufando enquanto eu continuava com meus argumentos pagãos:
– Ótimo! Ótimo dia para pecar! Vai, pode ir na minha frente. Quem sabe se eu chegar por último não viro de fato a
mulher do padre?
A Rita só voltou a falar comigo no dia seguinte e eu passei o resto da festa sorrindo para o Giuseppe, tomando Keep
Coller e fotografando o casamento. Eu sorria de um lado, ele sorria do outro; fui ficando à vontade e, no final, o
“senhor padre” já tinha virado “Gigio”. Por fim ele decidiu ir embora e despediu-se de mim:
– Alessandra foi um prazer conhecê-la, você é muitíssimo graciosa e gentil.
Beijou minhas mãos e declarou-se:
– Apareça mais vezes na igreja, espero revê-la. O dia non teria sido tão alegre sem a graça da sua presença.
Suspirou, beijou novamente minha mão, deu uma leve piscada com os olhos e saiu. Em um primeiro momento achei que
aquela era uma tentativa de me converter, mas não era possível. O padre Giuseppe havia realmente se empolgado. Por
algum motivo sobrenatural fiquei roxa, muda e com o queixo no umbigo vendo o Gigio partir sem que eu pudesse esboçar
qualquer reação. Tentei ir atrás dele para deixá-lo com o número do meu telefone, mas meus passos foram diminuindo
conforme minha consciência materializava imagens de um senhor gordo e barbudo, sentado em um trono de nuvens no céu,
me encarando de rabo de olho e esbravejando que eu, a graciosa, gentil e galinha, bem que merecia virar
churrasquinho do capeta.
Parei no meio do caminho. Tirei minha máscara de garota pagã contra o clero, desisti de oferecer uma maçã para o
belo Giuseppe, tomei ares de moça ajuizada e fui fotografar a Tina jogando o buquê.
Tina:
– Amarelou, Ale?
– Amarelei, mas não conta pra ninguém e joga logo este buquê.



Escrito pela Alê Félix
29, dezembro, 2002
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