O leão de chácara do surubão ser meu vizinho, foi o cúmulo do azar. O brutamontes morava na rua de cima. Nos vimos, se muito, uma ou duas vezes
na vida e eu não poderia imaginar que o sujeito tinha a língua maior do que a do Nelson Rubens. Ele transformou o incidente da festa das orgias na
principal notícia do bairro. O cretino jogou meu nome na lama. Ainda bem que nunca dei a mínima pra essas frescuras de honrar o nome. Só preciso do
meu para me chamarem. Se me importasse, o gorila teria sido o primeiro a tentar me infartar.
Mesmo assim, no dia seguinte, sair na rua já me causava constrangimentos. Um sufoco! O tagarela espalhou o babado mais rápido do que um spam.
Não contou nada para a minha mãe; fez melhor: contou para todas as fofoqueiras das amigas dela.
Para minha felicidade, todo mundo do bairro tinha medo de mim. Isso graças a um escândalo que eu fiz aos quinze anos de idade. Jurei arruinar com a
reputação de qualquer fofoqueiro que se metesse a besta comigo. É claro que a ameaça foi da boca pra fora, mas como foi muito bem feita, funcionou.
O bochicho não chegou aos ouvidos dos meus pais, mas eu fiquei tão passada que entrei em um período meio deprê. Os dias ficaram tão sem graça que eu
caí na besteira de querer voltar com um ex-namorado.
O ex foi namorado por quase dois anos, sendo que os últimos seis meses foram de terríveis tentativas e erros. A gente se via, ficava, voltava por uma
semana e terminava de novo. Era bater os olhos um no outro, para cedermos às tentações da pele. Fraquezas que se estendiam durante uma noite e
acabavam em conversas tristes durante o café da manhã. Era uma paixão quase carmática, mas que ficou bastante adormecida depois que eu, de pirraça,
engatei um namorico com um cara que era clone dele.
Não sei se foi carência ou se foram os últimos desastres do videotexto, só sei que era uma sexta-feira linda e eu cismei de ligar para o raio do
ex-namorado.
———————–>> Continua
Clique aqui para ler o Post I – O começo de toda a história
– Que papinho furado! “Maiores obstáculos”… “grandes recordações”… éca! E se eu vomitasse dentro dessa caixa de giz?
– Ergh! Deixa de ser nojenta, Marilu! E pára de frescura porque agora falta pouco.
– Se deu mal, hein?
– Nem me diga.
– Tirando a sua idéia patética de escrever na lousa, o resto foi muito legal. Não esperava isso de você.
– Acho que nem eu. Mas tudo bem, o pior está por vir. Se meus pais lerem este bilhete, adeus próximos finais de semana.
– Isso pode estragar seu encontro com o Murilo?
– Sim… foi a primeira coisa que pensei.
– Seus pais são tão bravos assim?
– São.
– Então só há um jeito de se livrar deste bilhete.
– Qual?
– Falsificamos a assinatura deles.
– De jeito nenhum! Enlouqueceu?
– A assinatura deles é muito complicada?
– Não, mas…
– Então está tudo certo! O que você fará depois da escola?
– Nada. Mas, Marilu, se nos pegarem falsificando as assinaturas dos nossos pais, teremos um problema muito maior.
– Nossos pais, virgula! Faço questão que os meus assinem. Eles não dão a mínima para o que eu faço ou deixo de fazer. Vou encher aquela casa de
bilhetes e problemas escolares. Quem sabe assim, eles viram o disco e passam a brigar por outra coisa que não seja dinheiro. Depois da aula eu vou
com você até a sua casa e te ajudo com as assinaturas. O que acha?
– Não sei…
– Deixa de ser bundona! Vamos?
Não tive escolha. Falsificar as assinaturas não me parecia uma boa idéia, mas era isto ou babau fim de semana, babau primeiro beijo.
———-> Continua
Meus dias de insônia resultaram em uma porrada de posts do videotexto e do primeiro beijo. Mas vou postá-los aos poucos senão mato vocês de
tédio. Aguardem um post por dia até o final dessa semana. Beijoca no nariz!
Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.
Desde o dia que me ensinaram o que era rifa e poker, eu fiquei assim, louca para ganhar dinheiro fácil. Não, eu não sou do bingo e nem de torrar
meu pobre dinheirinho nos dados. Uso minha sorte, mas não sou burra. Aprendi cedo que a sorte é uma mulher fácil, que vive dando mole para o azar.
Então, por via das dúvidas, tomo cuidado para não encontrá-la quando ele está por perto.
O curioso é que eu sempre tive a Intuição. Eu sei quando vou ganhar. Ou melhor, eu sinto. O único problema é que minha intuição só se manifesta
diante de pequenos prêmios. Se estiverem sorteando uma cafeteira pode acreditar que ela será minha, mas me dê um cupom de uma Ferrari pra ver o que
eu ganho? Nada. Nadica de nada.
Semana passada parei em um posto de gasolina, enchi o tanque, lavei o carro e lá veio uma mocinha com bexigas e uma prancheta na mão. É
impressionante como esses lugares fazem essas meninas pagarem micos. Pra que vir cercada de bexigas pela cintura? A coitada ainda precisava andar
dançando, de preferência no ritmo da música alta do carro de som.
– Com licença? O que a senhora acha de passar um belíssimo fim de semana, com direito a acompanhante, em um dos nossos luxuosos e paradisíacos hotéis
que estão espalhados pelas cidades mais incríveis do Brasil?
O script era terrível. Olhei os papéis, certa de que tentariam me vender no momento seguinte um titulo hoteleiro qualquer. As fotos mostravam várias
opções de hospedagem. Camas confortáveis, árvores, flores, passarinhos cantarolando na minha imaginação, uma piscina e um ofurô dizendo: “preencha o
cupom, preencha o cupom…”
Hipnotizada pela miragem de um fim semana longe do telefone e do computador, preenchi o cupom, ciente de que os dois dias de paz e sossego estariam
no papo.
Ontem a moça da agência de turismo ligou para confirmar minha mediunidade. Eu fui a sorteada! Mas, passados os primeiros minutos de boas notícias,
começaram as palhaçadas.
Conclusão: preciso confirmar as reservas pessoalmente em uma agência que fica do outro lado do mundo. Mais precisamente, em Parelheiros e dentro de
uma pizzaria, o que me pareceu bastante estranho. Isto tem dia e hora para acontecer, não posso ir quando eu bem entender. E preciso levar o
acompanhante comigo, caso contrário viajarei sozinha. E mais, não estão inclusos transporte e alimentação. Eu que me vire para chegar na Paraíba,
caso este seja o meu destino.
Agora, me diz: Isto parece ou não parece uma arapuca?
Insones duram pouco ou isso é lenda? Morro de inveja de quem dorme. Principalmente dos que dormem e acordam no tempo certo do sol.
O lado bom é que, mesmo que seja breve, eu viverei mais. E o ruim é que eu vivo sonhando com os sonhos que eu deixo de sonhar.
Vocês conhecem este site? Deveriam. A Natalia, a dona do pedaço, é uma moça lá de Minas Gerais. Uma
garota que dá um duro danado pra deixar a vida em ordem. E nas horas vagas, ela ainda acha tempo para ter um blog… Mas quem disse que é um blog
sobre ela? Que nada! É um blog para quem está perdido neste universo de blogs, um blog que esclarece dúvidas e que ajuda qualquer um a entrar nessa
brincadeira.
Se vocês forem até lá, aproveitem para votar nela, tá? A votação acaba depois de amanhã por isso, corram. Ela merece, é uma boa menina.
Beijo e até mais tarde. Eu ganhei alguma coisa de um posto de gasolina. Desses que a gente preenche o cupom, sabe? Vou ver o que é. 😉
Dona Olga orgulhava-se da fama de diretora mais severa que a escola já tivera. Eu acreditava que levaríamos uma boa bronca pelo incidente do Hino
Nacional, mas nos pegar usando o banheiro dos professores e ainda por cima aos palavrões, era um bom motivo para uma suspensão. Palavrões eram
intoleráveis pela direção e certamente nós pagaríamos pela indisciplina.
– Venham comigo.
Obedecemos a diretora, caminhamos até a grande sala que ela ocupava, sentamos e esperamos caladas pelo pior.
– A Esther me disse que vocês conversaram durante o Hino Nacional. Vocês sabem que isso é um desrespeito, não sabem?
Sacudimos a cabeça para baixo e para cima.
– Não me surpreende vê-la em minha sala, Marilu. Mas você, Alessandra? Até hoje nunca tivemos nenhuma queixa sobre o seu comportamento. Ao
contrário, seu currículo escolar é um dos melhores da sua turma. Suas companhias sempre foram muito saudáveis e suas notas exemplares. Já você,
Marilu, deveria envergonhar-se. Não contente em estragar o seu próprio futuro, agora pretende desvirtuar os bons alunos que temos? Pois saiba que eu
não permitirei que isto aconteça. Alessandra, você pode ir. Reflita sobre este incidente e não volte a cometer os mesmos erros. A Marilu fica.
Não tive reação; nem verbal nem física.
– Vamos, pode ir.
Minha cabeça girava num misto de medo e vergonha. Eu tentei falar, tentei explicar que a Marilu era inocente, que eu é que estava desatenta na hora
do hino, que ela só quis me alertar para que eu prestasse atenção… Levantei da cadeira com os joelhos trêmulos e, de cabeça baixa pela falta de
coragem, saí em silêncio.
– Quando sair, feche a porta.
Dois nítidos caminhos surgiam à minha frente e, por inércia, eu segui o de costume. Sair daquela sala e deixar que a Marilu fosse punida sozinha, me
garantia a imagem de boa aluna e belo exemplo, mas dali para a frente, eu teria que carregar no colo a minha vítima sem brios. Fechei, junto com
aquela porta, um ciclo da minha vida. Um ciclo de poucos anos, mas o primeiro regido pela consciência. O forte barulho da porta de madeira maciça
contra o batente ecoava como um chicote nas minhas costas. E doeu tanto, que foi impossível não perceber que aquele era o momento de deixar para trás
a menina covarde e mal articulada que ditava as regras dentro de mim.
Toc, toc, toc…
– Entre.
– Eu posso entrar de novo?
– Esqueceu alguma coisa?
– Não, não dona Olga é que…
– Sim, diga.
– É que a Marilu não teve culpa de nada.
O silêncio permitiu que eu ouvisse as batidas do meu coração. Finalmente eu me sentia no caminho certo.
– Alessandra, não tente defender a Marilu. Ela já assumiu a culpa e já recebeu a advertência merecida.
– Não… Eu não sei o que ela disse à senhora, mas a culpa é minha. Eu estava distraída na fila e ela tentou me chamar a atenção. Mas aí a Esther
viu, achou que estávamos conversando e nos trouxe para cá. A Marilu não teve culpa, mas como ela está acostumada a aprontar, acabou pagando o pato
junto comigo.
– Sem gírias por favor.
– Sim, senhora.
– E o banheiro dos professores?
– Eu…
Não havia o que falar sobre o caso do banheiro dos professores, as duas eram culpadas.
-Estávamos muito apertadas…
Mentir para dona Olga era como ser imune ao cinto da verdade da Mulher Maravilha.
– Hum… E os palavrões?
– …
– Estávamos treinando pra ver quem dizia o mais cabeludo.
– Silêncio, Marilu!
– A senhora tem razão dona Olga, foi uma atitude impensada. Levamos um susto quando a senhora abriu a porta e os palavrões escaparam. Não dissemos
por mal. Se a senhora quiser podemos escrever na lousa cem vezes que estudaremos mais para melhorarmos o nosso vocabulário ou que pensaremos duas
vezes antes de falar.
– Opa! Eu não. Pra que escrever, se você continua abrindo a boca sem pensar? Eu prefiro o meu dia de suspensão.
– Chega, Marilu! Aceito a sugestão da Alessandra. Vocês duas podem pegar a caixa de giz e irem até a sala dos professores. Usem a lousa de lá.
Cinqüenta vezes cada uma está de bom tamanho. Isto e esses bilhetes.
– Que bilhetes?
– Estes. Quero que o pai e mãe das duas estejam cientes do que aconteceu. Amanhã, antes da primeira aula, quero os dois bilhetes assinados.
– Mas…
– Bem feito.
– Sem mas. Peguem seus bilhetes e a minha frase do dia. Aproveitem meu bom humor e o meu momento de inspiração: “Os maiores obstáculos
transformam-se nas melhores recordações.” Podem ir.
———-> Continua
Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.
Jurema, um caso de amor e traição
Eu queria morrer… ele estava me traindo. Estávamos casados há dois anos, a vida em um momento difícil, ele andava triste e eu também. Mas daí a
esquecer um bilhete rabiscado às pressas com os dados de um caso no bolso da calça, já era demais! Chorei calada um dia inteiro, era óbvio que ele
havia se encontrado com a tal da Jurema no dia anterior…
Clique aqui para continuar a leitura