Muito bacana a inicitiva da AOL de publicar as histórias de quem doou um livro no dia 11 de setembro.
Entre outras histórias, está a que eu escrevi na manhã do dia onze. Aquela sobre o Kinder… Imagina se o moleque descobre que foi parar no site da
AOL? Se acharia o próprio Star Wars Kid.

Clique aqui e leia as histórias selecionadas
pela AOL. Aproveite e envie a sua também.
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Escrito pela Alê Félix
14, setembro, 2003
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Minha mãe só podia ter enlouquecido. Logo depois do almoço, todos saíram. Meu pai voltou para o escritório, meus irmãos foram para a escola e,
mesmo assim, minha mãe deixou a molecada toda assistir TV em casa. Pra completar, ainda nos encheu de cobertores, almofadas, travesseiros, chocolate
quente e saiu; simplesmente saiu. Eu não acreditei! Meu pai mal me deixava conversar com meninos e, de repente, minha mãe libera a casa e nos deixa
sozinhos e de casal. Aquilo era inacreditável! A Marilu olhava pra mim incrédula. Já os meninos, achando tudo normal, não despregavam os olhos do
bendito filme “As sete faces do doutor Lau”.
Foi minha mãe bater o portão, pra Marilu e eu pularmos de alegria. Pulávamos, ríamos e dávamos aqueles gritinhos irritantes misturados com risos e
mensagens cifradas que só as pirralhas insuportáveis entendem.
– Olha a frente aí, ô filha de vidraceiro!
– Silêncio, mulherada…
Os dois babacas nem se deram conta da situação – homem é realmente um bicho devagar! Eu notei que a Marilu olhou diferente para o Ivo assim que bateu
o olho nele, mas não imaginei que a danada fosse agir tão rápido. Indignada com a falta de visão dos garotos, ela pegou um dos travesseiros e
disparou contra a cabeça dos dois. Foi o suficiente para iniciarmos uma guerra de travesseiros que botou o doutor Lau no chinelo.
Viramos a casa do avesso. Poltronas serviram de escudo, o tapete saiu do lugar, quebramos uma lâmpada do lustre… Estouramos uns quatro
travesseiros. Era espuma pra tudo que era lado. Uma festa, uma delícia de festa que fez com que perdêssemos a consciência da bagunça que estávamos
aprontando.
De uma forma muito ingênua, aquela não passava de mais uma das nossas brincadeiras de criança. Uma brincadeira mais do que comum, mas que, acrescida
dos nossos hormônios e da nossa empolgação de ter a casa só pra nós, causou um estrago quase irreparável.
O anta do Murilo, sem mais nem menos, se jogou em cima de mim. Caí estatelada no chão com o garoto sobre o meu corpo. Morta de vergonha, mas adorando
a sensação de tê-lo tão próximo, danei a fazer charme e a me debater para que ele me soltasse. Não que eu quisesse, mas dizia.
– Murilo, me solta!
– Não.
– Solta ou eu…
– Eu o quê?
– Eu… eu não falo mais com você.
– Só solto se você me der um beijo.
– De jeito nenhum!
– Então diz que aceita namorar comigo…
– Não! Você prometeu esperar até amanhã.
– Por causa de um dia? Só um beijo! Custa?
– Você já terminou com as meninas que você estava enganando?
– Não exagera. Era uma menina só! E eu já terminei.
– Jura?
– Juro.
– Se você não terminou com ela e me fizer de boba eu…
– Você o quê?
– Eu… eu…
Por muito pouco não nos beijamos. A porta da sala foi aberta repentinamente e minha mãe…
– Vocês podem me explicar o que está acontecendo aqui?

———-> Continua
Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.



Escrito pela Alê Félix
13, setembro, 2003
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Claro! Kinder de kinder ovo surpresa! Impressionante a capacidade que essas crianças têm de serem tão cruéis umas com as outras. Crianças podem
ser más, muito más… Bom, mas se é para experimentar o poder da crueldade, que seja na infância e não na fase adulta.

E, falando em crianças, daqui a pouco sai um primeiro beijo
quentinho, tá? Talvez à noite eu abra o chat, mas não é promessa – é só um talvez.
Fui.



Escrito pela Alê Félix
12, setembro, 2003
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Nunca entendi porque diabos as pessoas são tão possessivas com seus livros. Alguém que eu não vou dizer quem é, chega ao extremo de anotar na agenda para quem emprestou, quando foi e quando volta. Entendo que alguns livros são legais de
ter, mas não gosto da idéia de ter mais coisas na vida do que estou disposta a carregar. Ainda acho que o ideal é ler e passar pra frente. Quer ler
de novo? Compra de novo ou pede emprestado pra alguém.
Mas enfim, por conta desses meus pensamentos, achei ótima a idéia de deixar um livro para um transeunte qualquer.
Saí hoje de manhã toda animada para a minha caminhada matinal com um livro embaixo do braço. Escolhi um parque bacana, sentei tranqüilamente em um
dos bancos da praça principal, escrevi meia dúzia de gracejos na folha de rosto, deixei ele lá e sai de fininho com o intuito de espiar de longe a
pessoa que o encontrasse. Mal virei as costas e quase fui atropelada por uma multidão de crianças.
O parque em questão também é um reservatório da SABESP. É claro que eu havia notado a presença daquelas crianças uniformizadas fazendo anotações, só
não imaginava que as espertinhas estavam de olho em mim, só esperando para darem o bote no meu livro. Se estapearam! A professora, diante do
furdunço, disparou alguns berros e deu fim no banzé. Dois dos endiabrados queriam porque queriam o livro pra eles. Uma menina deu com a língua nos
dentes e avisou a professora que o livro era meu. A mulher mandou que eles devolvessem. Eu, muito da ingênua, sugeri que eles resolvessem a questão
diplomaticamente. O melhor era que continuassem lutando pra ver quem era o mais forte, mas achei que meus métodos não seriam muito bem vistos pela
educadora. Escolheram resolver no jokempô, apesar da minha insatisfação. Sempre boiei nesse jogo. Pedra, tesoura, faca, bah! Braço de ferro teria
sido mais justo. Terminado o joguinho bobo, o gordinho de moletom ficou com o livro, a professora me agradeceu e o outro indignado soltou:
– Você vai ver Kinder! É o segundo que você rouba de mim! Droga…agora só tenho dois.
Eu não entendi nada. Parecia surreal que aqueles moleques estivessem brigando por um livro. E que papo era aquele de “agora só tenho dois”?
Intrigada, virei para a cagüeta e perguntei:
– Por que é que todo mundo correu pra pegar o livro?
– Por causa da aposta. Como tem muita gente deixando livro por aí hoje, quem achar mais leva quinze paus.
– E quem apostou?
– Ué, a classe toda!
– Anh…
E pensar que eu perdi meia hora pensando no que escrever para o Kinder…



Escrito pela Alê Félix
11, setembro, 2003
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Alfredo? Alfredo seu nome? Nome do meu bisavô. Ele já morreu. Morreu quando eu era bem pirralha… Como eu fui sua primeira bisneta e ele sabia
que não teria muito tempo, ele me ensinou o que pôde e o que era possível para uma garotinha de três anos compreender. – Com a orelha colada no seu
radinho de pilha, ele me ensinou a torcer pelo seu time de futebol. O time que, no final das contas, era uma das únicas paixões que ainda o fazia
vibrar.
Foi um boa lição, já que as suas mãos contribuíram tanto para o multirão do primeiro estádio, como também para a construção do segundo. O primeiro, o
campo da Ponte Grande, não existe mais. Em cima dele fizeram a ponte das Bandeiras e é íncrível imaginar a quantidade de estórias que residem sob
aquela imensidão de concreto! Acho improvável que você conheça, pois, se não me enganei, você mora em Recife – cidade onde, porventura, meu bisavô
nascera. Segundo ele, o Parque São Jorge foi bem mais complicado de construir. Mas, pela alegria que contava, não menos divertido.
Anos depois da obra finalizada, ele olhava para o estádio com o orgulho de um homem simples que ajudou a erguer um grande clube. Coincidentemente, o
estádio também carrega o nome de vocês – Estádio Alfredo Schurig.
Lembro bem do meu bisa! E, por conta dos causos do meu velhinho cafuzo de pele escura e cabeça de algodão, acho que vou passar dos cinqüenta torcendo
para o Corinthians… E torço para que o seu Botafogo também permita que você ultrapasse a barreira dos cinqüenta. Se não pelo futebol, pela música
que parece ser sua paixão predileta.
Acho que eu li seu blog inteiro. Acho, porque não encontrei passado, apesar de você ter um bom passado. E, mesmo você tendo vocação para pará-choque,
lê-lo quebrou muito do seu silêncio.

“Mensagem na garrafa” será mais um link deste meu humilde blog. Vou aproveitar minhas tranquilas madrugadas para ler e escrever sobre o
que eu encontrar enquanto navego.
Beijo na bochecha e espero que eu não tenha interpretado demais e compreendido de menos sobre tudo que eu li no blog
Táta Records.



Escrito pela Alê Félix
10, setembro, 2003
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Nunca me senti atraída por colônias e fórmulas aromáticas muito concentradas. Sempre preferi o cheiro de banho tomado – aquele que, mesmo
misturado aos sabonetes, ainda deixa um leve toque do odor natural da pele. Devo ter levado uns vinte anos para me decidir quanto ao cheiro que eu
queria ter. A escolha de um perfume não é uma tarefa nada fácil para uma mulher, principalmente para as imaturas.
Lembro, por exemplo, de ter amaldiçoado o cheiro coletivo do Giovanna Baby durante toda a adolescência. Não porque não gostasse dele, mas porque era
uma boa forma de ser do contra. Toda, absolutamente toda menina que menstruou ao som de “Não se reprima”, exalava o perfume da mãe da Mariana Kupfer.
O que aliás, diga-se de passagem, foi uma jogada de mestra da mãe da moça.
Dona Giovanna, lá pelos anos oitenta, abriu uma loja na rua Augusta para vender o perfume. Como a loja era muito grande para uma fragrância só, ela
decidiu vender um monte de coisinhas fofas. Um monte de coisas fofas com o mesmo cheiro do perfume Giovanna Baby. Era uma loja encantadora, mas ela
queria mais do que uma loja bonita. Sabem o que a dona Giovanna fez? Contratou meia dúzia de belas garotas e deu para cada uma delas, uma concha de
cozinha e um balde cheio do liquido do perfume. No momento seguinte, as moças subiam e desciam a Augusta espalhando conchadas daquela composição
odorífera pelas calçadas. Todo mundo que passava por lá acabava por seguir o rastro da fragrância. Quer dizer, todos não, as mulheres seguiam o aroma
e os homens as pernas das bonitonas. Mas no final, todos paravam na porta da loja da dona Giovanna.
Foi assim que, durante aqueles anos, o perfume Giovanna Baby se tornou mais popular do que a água com flúor da Sabesp. Era uma febre – o melhor
presente de amigo secreto, debutante ou dia dos namorados. Uma amiga da oitava série, na sua festa de quinze anos, ganhou simplesmente vinte e dois
frascos do perfume. Juro! Não trocou e não deu nem unzinho! Ficou com todos. Ela ignorou o prazo de validade e terminou sua cota no começo dos anos
noventa. Nem reação alérgica, depois de expirada a validade, ela teve! A pele deve ter curtido porque, hoje em dia, ela pode usar até Axe, que exala
Giovanna Baby.
Mas eu, eu não usava, não. Maldisse a embalagem rosada por quase uma década. Queria ser diferente, não queria ter o mesmo cheiro que toda aquela
mulherada. Paranóica que sempre fui, achava que usá-lo me tiraria a exclusividade da lembrança oftativa. Eu posso esquecer muitos detalhes, mas
raramente esqueço o cheiro de alguém. Agora, imaginem! Se todas as meninas cheiravam a mesma essência, qual de nós seria lembrada por ela? Eu, que
nunca fui besta, não arriscaria despertar a saudade alheia. Mantive meu discurso de que meus perfumes tinham personalidade e acrescentei uma boa dose
de despautérios para denegrir a fórmula mágica da dona Giovanna. Tudo em vão! Os meninos adoravam as meninas perfumadas à la Giovanna Baby. Eu
resisti! Resisti bravamente, até que ele saísse de moda e a maior parte de nós esquecesse a sua existência. Porém, como tudo que desdenhamos volta,
nos encontramos novamente.
Eu revirava as prateleiras de uma drogaria quando achei, bem no fundo de uma delas, escondida e encardida, uma caixa do perfume. Grudei no frasco!
Surpresa com a minha própria reação, pronunciei seu nome em voz alta como se tivesse reencontrado uma velha amiga. O atendente me disse que era o
último. Olhei para a etiqueta e apertei a caixa contra o peito.
– Eu não acredito que vou comprar esse cheirinho de bebê enjoativo que eu deixei de usar a vida inteira!
Andei de um lado para o outro à procura de cremes e shampoos que me desviassem a atenção, mas não agüentei. Quinze anos depois, algumas formas de
rebeldia não surtem mais efeito. Não que não tenha sido importante bancar a original, mas, com o tempo, é impossível não rir desse jeito estranho e
adolescente de crescer. A moça do caixa olhou a cena como se soubesse exatamente o que se passava pela minha cabeça e falou:
– Leva! Mesmo que não vá usar.
A frase certamente soaria insana para alguém do sexo masculino ou para alguém que não tivesse a minha idade. Quem, atestado de sua normalidade,
compraria um perfume pra não usar? Mas eu a compreendi.
Voltando para casa, me sentia como se tivesse comprado um cartucho do River Raid ou do Pac Man para o Atari. Naquele momento, o Giovanna Baby não era
mais o cheiro de uma ou outra garota mimada. Depois de tantos anos, ele tornou-se o cheiro da minha geração. E pouco importava o que eu dizia na
época. A gente passa a vida dizendo bobagens pra parecer bacana. Não me importo mais de pagar a língua ou voltar atrás.
Agora meu frasco de Giovanna Baby fica lá no meu banheiro. Intacto, numa prateleira que fica de frente pra mim toda vez que eu sento para fazer xixi.
Antes, nessas horas, eu lia revistas… agora, eu penso sobre a vida.



Escrito pela Alê Félix
8, setembro, 2003
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Vocês lembram que, neste post da saga do primeiro beijo, eu
mencionei as filas formadas na escola para que cantássemos o Hino Nacional? Agora, olhem esta notícia.



Escrito pela Alê Félix
8, setembro, 2003
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Recebo com freqüência e-mails de pessoas perguntando onde encontrar o livro Depois que Acabou da Daniela Abade, Depois Que Acabou -
Daniela Abadepublicado no
começo desse ano.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelas pequenas editoras é a distribuição dos livros. Para nós, apesar de sermos minúsculos, este sempre foi
o menor dos nossos problemas.
Vejo tantos editores reclamando dessa parte do trabalho, tantos autores rodando o país com livros embaixo do braço, que muitas vezes me pergunto
porque cargas d’água não enfrentamos esse problema. Não sei é devido ao meu carisma (hehe, brincadeira!), se é porque nossos poucos títulos caem nas
graças do mercado e do leitor ou se é porque fazemos a distribuição do mesmo jeito que jogamos WAR. Algumas batalhas podem durar um tempão
mas, cada dia que passa, novas livrarias e distribuidoras são conquistadas. Você deve estar se perguntando: Ué, mas a livraria existe pra que? Elas
não deveriam vender tudo que é livro? Não, não tem como. O comércio, além de deter a maior parte do faturamento do livro, detém também o poder do que
colocar nas vitrines. Não adianta querer ir para as prateleiras se você é um “Zé Mané” de primeira viagem. Um bom trabalho de assessoria de imprensa
pode ajudar, mas quem ficará em evidência serão os que venderem bem. Como se não bastassem todas as dificuldades, algumas megastores se
tornaram verdadeiras máfias, com poderosos chefões e tudo que se tem direito. O que é de se esperar, se levarmos em consideração que existem mais
editoras que livrarias neste país. Inevitavelmente essa situação gera um ou outro filtro para que as livrarias possam administrar e expôr as
toneladas de novidades recebidas. Por conta desses detalhes, a luta para conseguir um cantinho de destaque ou simplesmente constar no catálogo de uma
livraria, é constante.
É por isto que não posso reclamar. O Depois que Acabou já pode ser encontrado nas principais capitais e livrarias do nosso país. A novidade
fica por conta da Livraria Cultura, que cadastrou o livro recentemente e o colocou em destaque entre os grandes nomes da nossa literatura. Foi um
presente, principalmente por não ter sido fruto de uma negociação comercial, mas sim pelo reconhecimento da obra.
No mais, além de alguns lançamentos e projetos que em breve poderei contar, há também a novidade de que o Depois que Acabou poderá ser
encontrado em Portugal e no Japão. Mas isso tudo em breve, muito em breve… Porque, por enquanto, eu estou em negociações e na batalha pela
conquista de novos territórios.
Ah, estive ontem na Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos e lá é certo que vocês encontrarão o livro à venda. Já nas outras lojas da rede,
aconselho que liguem antes, pois o danado do livro está saindo como pãozinho quente.

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Se
preferir, clique aqui para comprar pelo site. Em alguns casos, eles entregam no mesmo dia.


Um beijo na bochecha e obrigada a todo mundo que, de um jeito ou do outro, dá uma força aos meus exércitos. 😉



Escrito pela Alê Félix
7, setembro, 2003
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