– Interessa sim! Diz logo o que você está pensando.
– Precisamos entrar na sala de recreação.
– Você é louca? Fazer o quê na sala de recreação?
– Pegar umas coisas emprestadas.
– Pegar o quê, Marilu? A sala fica fechada a maior parte do tempo!
– Eu sei. Por isso mesmo que podemos entrar.
Caminhei atrás dela fazendo perguntas, mas de nada adiantou. Fomos parar atrás da escola.
– Pronto! Sabe subir em árvores?
– O que você quer fazer?
– Vai subir ou eu subo sozinha?
Lembrei da minha promessa à diretora e parei de fazer perguntas. Pensei em virar as costas e ir embora, mas sozinha ela acabaria encrencada.
– Ok, eu subo! Mas me diz antes o que você pretende fazer.
– Está vendo aquela janela ali?
– Não, Pedro Bó…
– É a janela da sala de recreação.
– Há quantos anos você acha que eu estudo aqui? Acha que eu nunca vi essa janela antes?
– Pode ter visto antes, mas certamente não sabe que ela não tem tranca.
– Marilu, você é muito trombadinha! Que tipo de gente confere as trancas das janelas da escola?
– Você não imagina a utilidade desta informação. Lá dentro tem tudo o que precisaremos.
– Eu não preciso de nada!
– Como você é chata! Deus do céu! Quer a lista? Uma peruca loira, um pano branco e um pouco de algodão.
– Enlouqueceu de vez… Quer o quê? Sair por aí de mulher loira?
– Isso! Isso mesmo!
Às vezes era difícil conversar com a Marilu sem cair na gargalhada. Ela contava seus planos com as expressões mais insanas. A mulher loira era uma
lenda que aterrorizava meio mundo na escola. Aliás, em várias escolas. Uns a chamavam de mulher loira, outros de loira do banheiro ou de loira do
algodão, mas todos falavam das supostas aparições da assombração. Várias eram as versões sobre a sua morte. E, durante muitos anos, me perguntei se
elas não foram inventadas para assustar alunos indisciplinados.
– Você acredita nessa estória?
– Acredito.
A cara dura respondia absurdos com a maior pinta de séria.
– Acredita em que mais? Mula sem cabeça e sexo só depois do casamento?
– A mulher loira sou eu.
Ela bem que tentou, mas não conseguiu segurar o riso.
– Conta de uma vez…
– Já me vesti de mulher loira várias vezes para assustar os trouxas que tem medo dela. Já entrei até no banheiro dos meninos.
Sentei no chão pra rir melhor, enquanto a destrambelhada escalava o tronco da árvore. Como alguém poderia evitar que aquela louca se metesse em
confusão?
– É sério! Uma das minhas expulsões foi por causa disso. Botei uns dez moleques pra correr com as calças na mão. Não teve jeito. Fui expulsa.
– Cara, você é completamente pinel!
– Essa estória da mulher loira é mais velha que a minha mãe. Não entendo como tantos babacas acreditam nela. Vai ficar aí embaixo?
Ela estava prestes a abrir a janela e pular para a sala de recreação. Como o papo estava engraçado, não resisti e fui atrás. Coisa boa que aquilo não
daria, mas era impossível ficar de braços cruzados diante de um plano maquiavélico da Marilu.

———-> Continua

Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.



Escrito pela Alê Félix
3, outubro, 2003
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O dono da quitanda
Quando soube que um dos maiores canalhas que eu conheci na vida andava praticando boas ações, fiquei intrigada.
– Mãe, que diabos aconteceu com ele?
– Ué! Ele quase morreu, esqueceu?
Foi isso! O cara era o típico sujeito revoltado com a vida. Passava por cima dos outros, desprezava os filhos, traía a esposa com prostitutas e só
pensava em se dar bem. Saiu da merda financeira mais rápido do que muitos dos traficantes vizinhos na favela onde nasceu. Dinheiro suado. Não matou e
não cometeu crimes, embora roubasse na caderneta mensal da freguesia. Um oportunista, mas trabalhador. Alguns diriam que esta era sua maior
qualidade, eu diria que seria a única se ela não fosse, na verdade, uma tremenda ambição desmedida.
– Sai do carro! Reagiu, eu meto bala!
Com o cano do revólver encostado no vidro entreaberto, ele acelerou e ignorou o vermelho do farol. Levou um tiro que atravessou seu corpo e acertou o
colega ao lado. O rapaz não parava de estrebuchar e ele, mesmo varado, quase não percebeu que fora atingido.
Chegaram, por milagre, ao hospital, mas não teve jeito. Enquanto ele reclamava dos estilhaços de vidro com os médicos, o outro defuntava no corredor.
De lá pra cá, o homem tornou-se outra pessoa. Trata os filhos com carinho, a mulher aos beijos, remunera bem seus funcionários, não abusa mais dos
pobres coitados da favela e comprou uma casa na praia, onde decidiu pescar e fazer amigos. Não virou crente, mas passou a ajudar nas obras
assistenciais da igreja. Não deixou de ser esperto, mas percebeu que a morte está logo ali. Na dúvida, decidiu ser uma pessoa melhor.
Primeiro post de uma série, mas sem continuações. Ah! Hoje, depois da novela, eu abro o chat. Por hora, chega de trabalhar. Fui.



Escrito pela Alê Félix
2, outubro, 2003
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Vocês já viram o blog do canal GNT? É o “Ora, blog!”. Fui gentilmente incluída na seção “Blogs do Mês” e convidada a escrever um texto sobre
blogs. O texto, intitulado “Mudança de Endereço”, já está lá para quem quiser ler.
Meu rosto é que ficou muito espichado. Ele não é daquele jeito, não. 🙂 Ele é mais bolofinho… Mas este é um comentário que não tem nada a ver com
o angu.
Bom, só entrei pra avisar. Tô de trabalho até a ponta do nariz. Beijinho, beijinho e tchau, tchau.
Ora, blog! – Clique aqui para ler o texto e conhecer o blog..



Escrito pela Alê Félix
1, outubro, 2003
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– O que aconteceu?
– Nada! Acredita?
– Nada? Não era sua mãe no telefone?
– Achei que fosse, mas parece que não era.
– Como assim “parece”?
– A dona Olga não tocou no assunto…
– E falaram sobre o quê esse tempo todo?
– Nada.
– Pára, Alê!
– Juro! Um papo furado sobre bom comportamento e só.
Pela expressão da Marilu, minha versão dos fatos não foi muito convincente. Mas eu não quis falar sobre. Imaginei que, se eu contasse sobre as
insinuações da diretora, ela voltaria lá para tirar satisfações. Desconversei e ela não insistiu.
– Bom, vou pra sala de aula.
– Esquece, a professora de matemática faltou.
– De novo?
– Graças a Deus! Duas aulas vagas seguidas. As meninas conseguiram que liberassem a rede de vôlei. Você vai jogar?
– Não. Preciso estudar. Tenho que terminar o trabalho de geografia.
– Quer ajuda?
– Sua? Está brincando?
– Por que estaria? Não é porque eu sou à toa que eu sou burra. É sério! Tudo bem que é uma das únicas matérias que eu mando bem, mas de burra eu não
tenho nada.
– Nunca achei que fosse. Só acho você desinteressada.
– Por sala de aula? Pode ser… Mas não pela vida.
– É uma boa resposta, mas conveniente.
– Bom, pense o que quiser. Só estou oferecendo ajuda porque está um tédio no pátio. Eu até jogaria, mas não gosto daquelas garotas.
– Que garotas?
– Da Julia e da Marina. Elas que descolaram a rede.
– Ah, é? Eu também não gosto delas.
– Não? Achei que fossem amigas.
– E éramos. Antes delas revelarem suas facetas do mal.
– Que história é essa?
– Peguei as duas falando de mim pelas costas e desde então não somos mais tão amigas assim. Não parei de falar com elas, mas acabou a proximidade.
Marilu desatou a rir…
– Quando? Como foi?
– No banheiro aqui da escola. Já faz tempo.
Contei toda a história do flagrante do banheiro. Quer dizer, tentei contar. Quando ela não ria, fazia um milhão de perguntas paralelas.
– Que caras de pau!
– É. Mas a raiva já passou. Além do mais, foi bom eu ter ouvido o que elas disseram sobre mim. Foi no começo da amizade…
– Cara, como pode? Você é muito metida a “boa samaritana”. Deveria ter saído de trás da porta e enfiado a mão na cara delas.
– Marilu, eu não sou como você.
– Deveria. Teria adquirido respeito.
– Existem outras maneiras de se adquirir o respeito das pessoas. A questão é que, delas, eu não quero nada. É como se elas não existissem mais. Não
quero respeito, não quero amizade, não quero nada.
– O velho hábito de ignorar… Ignorar é péssimo! Você ignora e tudo continua como está. Um filha da puta só pára quando alguém mete a mão na cara
dele.
– Não acredito. Nunca conheci um maledicente que não fosse carente de atenção. Ou é carência, ou auto-afirmação. Neste caso, revidar pra quê?
– Não acho nada disso. Filha da puta é filha da puta e pronto! O resto é desculpinha pra boi dormir. Essas meninas tem prazer em falar mal das outras
pessoas. É um esporte para elas.
– Todo mundo fala mal dos outros, Marilu! Eu falo mal, você fala mal, elas falam também.
Ela me olhou com cara de paisagem por um instante e…
– Você tem razão. Somos todos um bando de filhos da puta! Vem, eu tenho uma idéia. Isso não pode ficar barato desse jeito.
– Que idéia, Marilu? Isso aconteceu há um tempão!
– Não interessa. Vem.

———-> Continua

Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.



Escrito pela Alê Félix
30, setembro, 2003
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Não sou do tipo que faz reclamações desnecessárias. E isto não é uma queixa, é um aviso.
Há três dias estou completamente sem internet e, desde janeiro, minha conexão (speedy), está pior do que qualquer conexão discada.
Eu não sei se conseguirei postar já que, estou usando uma conexão discada da UOL que mais parece as conexões com os velhos modens 1200 instalados em
XTs.
Fujam. Fujam como o diabo da cruz da UOL e da Telefônica. O atendimento e o serviço são péssimos, o suporte é um circo e, como se não bastasse,
quando a coisa fica feia os caras mandam a gente brigar na justiça pelos nossos direitos.
Detalhe: não há ressarcimento de horas. Não está funcionando? Eles não dão previsão de quando será arrumado o problema, não dizem qual é o problema,
não o assumem, não devolvem o dinheiro, mandam você procurar um advogado e, pra completar, dão um chá de espera com uma musiquinha escrota de meia
hora.
Depois eu escrevo. Estou nervosa e de saco cheio de pagar pra enfartar um dia desses.



Escrito pela Alê Félix
30, setembro, 2003
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Eu não vou lembrar o nome ou o apelido de todos que participaram… mas, o chat de ontem que se arrastou até hoje, foi demais. Adorei vocês e o
papo! Agora, “vou dormir, vou dormir, vou dormir, vou dormir…” – Se a mentalização não der certo, vou apelar para o dormini alguma coisa. Aquele
que foi recorde de indicações contra a minha insônia. Fui!



Escrito pela Alê Félix
29, setembro, 2003
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Tenho o hábito besta de sorrir involuntariamente para algumas cenas do cotidiano. Sorrio um sorriso bobo, de lábios cerrados e olhos alegres. Me
dá um não-sei-quê, um comichão, um bem-estar qualquer.
Passo tempo demais olhando para a tela do computador, para as impressões do papel, o arquivo cinza, os caracteres do teclado, minha bagunça por
todos os lados da mesa… Posso ir a qualquer lugar e não sinto falta de lugar algum. Tanto tempo dentro, que quando olho pra fora todo detalhe se
sobressai; parece mágico, doce e ao mesmo tempo triste, docemente triste. É assim que somos, é assim que a vida me parece. E me pergunto se aqueles
que correm de um lado para o outro todo santo dia com a certeza de que sabem para onde estão indo, também sorriem à toa.



Escrito pela Alê Félix
25, setembro, 2003
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Alguém aqui sabe me dizer se conhece um remédio bom pra insônia? Sem efeitos colaterais, por favor! Sim, porque eu tenho efeito colateral até com
Biotônico Fontoura. Por isso, vejam lá o que vão me receitar.
A longo prazo não tem sido nada bom dormir duas, três horas por dia… E também não agüento mais esses médicos que passam anos na faculdade e mandam
a gente tomar leite quente e cheirar camomila. Pra isso eu tenho mãe!



Escrito pela Alê Félix
24, setembro, 2003
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