Depois de duas gripes, uma otite. Já estou melhor, mas, surda, estava difícil escrever. Tem
gente que nessas horas alega estar sem cabeça, eu descobri que, para mim, basta ficar sem um
ouvido. Ainda estou um pouco fraca e parecendo aquele velhinho do comercial (vitrola!)… Será que
alguém lembra? Acho que não. Enfim, acho que já dá pra responder e-mails e ir escrevendo aos
pouquinhos. Vamos lá…
Ah, e obrigada pelos comentários com votos de felicidade. Os dez anos de casório aconteceram no
dia doze, mas eu só postei no dia dezessete porque no dia doze eu estava praticamente morta, surda
e melodramática demais pra levantar da cama. :b



Escrito pela Alê Félix
19, fevereiro, 2004
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– Quem diria, não? Dez anos de casamento…
– É… E acho que ainda temos fôlego pra mais dez.
– Será?
– Dez dias? Claro que sim.



Escrito pela Alê Félix
17, fevereiro, 2004
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Ok, ok, lá vamos botar o assunto em dia e falar da patacoada do Blogger, mas não sem antes
agradecer. Eu acho importante ser uma pessoa grata, não me canso de dizer isso. Gratidão e
gentileza nunca são demais. Por isso, obrigada a todos que se propuseram a ajudar. Foi muito
gratificante acordar no dia seguinte de um dos maiores ataques de gripe que eu já tive e me
deparar com tantos comentários de pessoas dispostas a participar do meu plano de recuperação da
URL. Poucas coisas valem mais do que saber que eu posso contar com quase cem pessoas dispostas a
se dar bem ou mal junto comigo. No final, saber disto fez com que tudo acabasse diferente do que
eu havia imaginado na hora da raiva. Também fez com que eu voltasse atrás em umas decisões que não
tinham nada a ver com o peixe, mas vamos por partes, porque eu sou boa de perder o fio da meada.
Em primeiro lugar, queria lembrar, pra quem se esqueceu, que as minhas impressões com relação ao
Blogger eram, até a semana passada, as que ainda estão no meu link “gratidão”. Usei durante um bom
período os serviços deles, saí antes da bomba explodir, fui grata a todas as indicações que me
fizeram e nunca tive do que reclamar. Tirei sarro da ultima indicação, consciente de que poderia
ser excluída do Blogs of Note, mas só se eles não soubessem o que estavam fazendo. A indicação
seria válida se tivesse sido feita por um ser humano e não por uma máquina. Apesar de usar um
servidor próprio, eu ainda mantinha meu velho endereço do blogger e o link para os serviços deles.
Se o idiota que leu meu post não tivesse ficado ofendido, não teria porque excluir o blog. No
entanto, a pessoa se viu no direito, não só de tirá-lo, como de deletar minha conta.
Nem de longe essa seqüência de fatos pareceu feita por um computador como alegaram os atendentes.
Tirar do Blogs of Note poderia ser certo – ridículo, mas certo. Mas excluir minha conta foi
arbitrário, desqualifica e coloca em dúvida os serviços prestados pela empresa. Acho que ninguém
se sente à vontade, sabendo que pode ver seus textos censurados, o acesso bloqueado e a sua conta
sendo usada em seguida para que você dê dinheiro para tê-la de volta.
Fiz piada com o fato e faria novamente. Não sou de perder a piada em troca de marketing. Sempre
agradeci porque sou educada e reconhecimento sempre é bem-vindo, mas nunca fui de ficar babando
ovo porque alguém acha que fez o favor de falar bem de mim. O que eles fizeram foi deixar bem
claro que as indicações estão sujeitas aos comentários que forem feitos em seguida. Se você bancar
o engraçadinho pode ser cortado. Ora, bolas! Fodam-se então essas indicações. Isso foi censura ou
foi impressão minha? Que seja, foda-se!
Foi muito mais legal ver o que muitos de vocês fizeram. Dei muito mais valor para as palavras e
imagens postadas pelo Inagaki e para o jeito que o Marcio, a Helo e
tantos outros de vocês trataram deste assunto. Foi muito mais legal do que ter passado uma semana
no canto inferior da página do Blogger, quietinha e fingindo que não era comigo.
Entendo que um provedor precise cobrir seus custos, que é de dinheiro que uma empresa sobrevive e
tudo mais – afinal, eu também tenho uma empresa. A questão não era essa, era não achar decente a
Globo.com fazer chantagem com os serviços que um dia foram oferecidos gratuitamente. Dependendo do
jeito, poderia ser aceitável. Mas do jeito que eles fizeram, foi o mesmo que cuspir nos usuários
que o levantaram. Fato é que o portal Globo.com, para quem se recorda, antes dos blogs e do Big
Brother não era lá grande coisa. Os números certamente aumentaram. E aumentaram tanto, que eles
agora estão se vendo no direito de dar um belo pé na bunda dos não assinantes. Ou é isso, ou se
deram conta do preço que é ter uma grande empresa virtual. Podem estar mesmo mal das pernas. Devem
ter achado, como tantos outros que já faliram, que espaço na internet era carne de vaca – caíram
do burro se contavam com isso. O trafego gerado pelos sites no Brasil é um dos mais caros do
mundo. Aqui, o preço por visitantes diários é altíssimo. E não me surpreenderia se eles
justificassem que bloquearam o acesso das pessoas que estão no exterior porque estão economizando
no tráfego. O que, acreditem, é muito possível.
Antigamente, tudo na internet era gratuito e ilimitado. E estas eram lendas que todos fingiam
serem possíveis. Ofereça de graça o mundo para o ser humano e ele vai usá-lo e abusá-lo. Foi o que
aconteceu com o Kit.net. As pessoas extrapolavam no uso do serviço. Mas ilimitado é ilimitado e
deu no que deu. Esses empresários do começo da internet não tinham informação. Falavam qualquer
merda para vender seu peixe e muita gente acreditou. Ilimitado e grátis vai acabar sim, mas não se
resolvem problemas financeiros desrespeitando pessoas, mas sim admitindo erros e buscando soluções
razoáveis.
Maridon sempre diz que o erro das pessoas más e achar que as boas são trouxas. Mudando só um
tiquinho a frase, eu diria que o grande erro das pessoas (empresas) que tem poder é achar que elas
terão poder pra sempre. O povo brasileiro não é um povo de processo. Se fosse nos EUA, a Globo.com
estaria atolada em pedidos de indenização e eles não teriam colocado o serviço pra funcionar sem
antes deixar muito claro o que seria oferecido. Lá, eu tenho a impressão que o respeito pelo
consumidor acontece através do medo. Aqui, como somos o povo do “deixa pra lá”, não há medo e nem
respeito. Eu achava isso ruim, mas não acho mais. Acho que somos diferentes. Estamos mais
preocupados com paz de espírito do que com guerrinhas judiciais por dinheiro fácil. Não falo de
todos os brasileiros, falo só dos melhores. Falo daqueles que não torcem o nariz por terem nascido
aqui, daqueles que não querem levar vantagem em cima dos outros, daqueles que só querem viver em
paz e daqueles que ainda não se perderam.
Mas, enfim, não dava pra esperar muito de uma empresa que, no primeiro contrato, já fazia a
bobagem de dizer que seria detentora dos direitos autorais de tudo que ali fosse escrito. Lembram
disso? Pois é. Como a maior parte de nós não dá a mínima nem pra contrato, nem pra bula de remédio
(duas das coisas que mais podem nos foder a vida), mandamos bala no “aceitar”. A história só veio
à tona porque ele, macaco velho, decidiu
ler o raio do contrato. Todos nós botamos a história nos nossos pobres e pequenos blogs e a dona
Globo.com, com um mês de serviços Blogger, teve que se explicar e mudar pela primeira vez seu
contrato. Quem diria que não seria a última, nem a penúltima, nem a antepenúltima? Uma festa de
contratos! Quantos foram feitos até agora? Meia dúzia? Tenha a santa paciência! Eu sempre digo que
a coisa, quando é boa, não precisa de contrato. Meia dúzia de contratos são suficientes pra eu
pendurar uma placa de “otária” no pescoço.
Pois muito bem, apagaram arbitrariamente minha conta e queriam que eu assinasse os serviços deles
para tê-la de volta. Na hora, me dei dez chibatadas por não ter concluído o curso de direito, mas
depois olhei para o lado e vi o quão boa é a minha vida e parei de blasfemar. Fui lá e assinei.
Antes que alguém se apropriasse indevidamente das minhas URLs, eu fiz o que eles queriam. Assinei,
peguei todos os meus blogs, textos, arquivos e URLs de volta. Não vou brigar por causa de quinze
reais. Eles queriam quinze reais? Pois tiveram! Ou quase… Não vou brigar por dinheiro, vou
brigar para que todos saibam como é hoje a mentalidade de um dos maiores portais brasileiros. Vou
brigar para que todos saibam como manter-se independentes dos serviços dessas empresas e torcer
para que um dia essa gente aprenda a trabalhar direito. Não é tão difícil assim, sabe?
Redirecionamento de URLs poderiam ser oferecidos por um período para os usuários antigos, não
custa quase nada e seria bom para a imagem da empresa. É melhor dar um mega do que dizer que é
ilimitado e depois querer cobrar por isso. E não tentem enganar as pessoas com suas clausulas
minúsculas, distorcidas e randômicas. Quem perde são vocês.
Quando eles disseram que o meu e-mail “gratuito” deixaria de existir, fui lá, assinei, fiz as
configurações para baixar todos os meus e-mails bonitinhos para o Outlook e cancelei no dia
seguinte a assinatura. Pela lei do consumidor eu podia desistir do serviço sem pagar nada, por
isso não paguei. Mas se precisasse, teria pago. Eles querem migalhas, deixem que levem as
migalhas. É a imagem deles que está em jogo.
Mas vamos às dicas sobre o que você tem que fazer em caso de delete do blog. Nada de se preocupar
com processos, advogados e homens de perucas brancas e batas pretas. Não ignore a qualidade da sua
vida. Normalmente, o desespero leva as pessoas a atitudes desprovidas de inteligência. Então,
neste caso, você leva vantagem. Eles estão fazendo uma bobagem atrás da outra e bastará você usar
a cabeça que encontrará boas soluções rapidamente.
Em um primeiro momento, procure um amigo que seja assinante da Globo.com e veja se ele pode
oferecer a você um e-mail como dependente dele. Normalmente, um assinante tem direito a até cinco
e-mails. Se a pessoa se propuser a ajudar, ela pode cadastrar seu e-mail deletado. Com ele você
pode continuar com o blog ou garantir o redirecionamento para outro endereço por um período. E
lembre-se, UOL, IG, Weblogger, todos podem passar a cobrar a qualquer momento. Eu não sei como
funcionam os sistemas Blogger.com e Blogspot, mas acho que podem ser mais confiáveis a longo
prazo.
Eu, por um período, tenho assegurado o endereço do Blogger. Me tornei dependente de um velho amigo
que me liberou uma conta. Mas espero que por pouco tempo. Quero voltar em breve à minha vida
independente das organizações Globo.com. Por isso, não esqueçam de atualizar seus links
(amarulacomsucrilhos.com.br). Obrigada!



Escrito pela Alê Félix
15, fevereiro, 2004
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Tive uma recaída forte da gripe da galinha preta. Preciso cuidar de mim – não ando muito bem.
Mal consegui ligar o micro nos últimos dias. É a segunda crise em quinze dias. A danada é tão
forte que, mesmo no estágio final, soube que ela contaminou algumas pessoas que estavam na festa
do JMC2.
Se você estava lá, passou alguns minutos falando comigo e agora está de cama, perdão. Está é uma
gripe assassina e eu deveria ter ficado quieta em casa. A única vantagem é que ela é tão feroz,
que emagrece. Se você estava gordinho, prepare-se para sair dela com pelos três quilos a menos.
Bom, vou tomar uns remédios pra garganta e dormir um pouco. Depois eu volto pra contar as últimas
sobre o caso Blogger – A Chantagem.



Escrito pela Alê Félix
13, fevereiro, 2004
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LEIA E AVISE PRA TODO MUNDO QUE VOCÊ CONSEGUIR

É patético! Desde que eu soube que o Blogger Brasil estava mudando as regras para utilização
do serviço blog, eu tratei de tirar meus posts de lá. Tirei tudo, comprei um domínio e livrei
minhas coisas de uma deletada sem aviso prévio. Porém, antes de sair, direcionei minha URL antiga
para cá. Já que eles garantiam em contrato respeitar as contas criadas antes da mudança das
regras, não me preocupei.
Sabe lá deus porque, na semana passada, depois de meses fora do blogger, meu blog foi indicado na
página principal da Globo.com. Ok, achei estranho já que eu não uso mais o serviço deles, mas como
sou uma moça educada, agradeci. A semana passou e, novamente, o blog apareceu em destaque, desta
vez no Blog of Note. As duas vezes, com referência ao domínio próprio e não à URL do Blogger.
Continuei sem entender e, desta vez, acabei tirando sarro da situação.
Foi o suficiente para os caras tirarem a indicação da semana (fato inédito e ridículo!) e
deletarem todas as contas que eu tinha por lá. Tentei acessá-las e recebi uma notificação de que
minha conta havia sido suspensa temporariamente e que era pra eu ligar no telefone 0300 e
tra-la-lá. Liguei, paguei trinta centavos por minuto, pra ficar um tempão na linha e ouvir que
minha conta havia sido bloqueada por falta de pagamento. – Pagamento? Que pagamento? Nem assinante
deles eu sou! – Me encaminharam pra outro setor.
Os caras transformaram o meu cadastro em um cadastro de assinante por livre e espontânea falta de
profissionalismo, indicaram meu blog duas vezes por pura falta de atenção, deletaram todos os meus
arquivos que estavam lá e ainda fizeram o meu endereço antigo (amarulacomsucrilhos.blogger.com.br)
de refém! Disseram que só vão liberá-lo caso eu faça uma assinatura. Caso contrário, eles liberam
o nome daqui a seis meses pra qualquer usuário que queira registrá-lo. Isso, mesmo eles tendo
assegurado em contrato, que os usuários antigos do Blogger teriam direito a um dos blogs criados
antes da mudança de regra.
E então? O que eu faço agora? São ou não são um bando de filhos da puta? Usar o endereço do blog
de refém? Não se surpreendam se esses caras começarem a enviar cartas de cobranças indevidas pelo
tempo que usamos o Blogger. Que tipo de empresa faz uma URL de refém? Vamos ver quem vai usar
minha URL de refém… Ei, pessoas, me façam um favor: se algum de vocês assinar essa porra de
provedor e estiver disposto a participar de um plano para libertar minha URL, por favor me
escreva. Eles vão ver só…

Outra coisa: quem ainda usa o blog da globo e não é assinante, corra, salve seu blog e espalhe
essa notícia. Os atendentes que eu falei me garantiram que eles vão deletar todos nos próximos
dias. A garantia de que os usuários antigos poderiam continuar é pura balela. Migrem correndo para
o BLOG da UOL. Eles tem um sistema para transportar os posts.
E, por favor, quem tiver nos seus links o endereço antigo (amarulacomsucrilhos.blogger.com.br),
se puder atualizá-lo para (www.amarulacomsucrilhos.com.br), eu agradeço. Assim não fico nas mãos
deles.



Escrito pela Alê Félix
11, fevereiro, 2004
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Eu, Alê Félix, dona desta bagaça de blog que não pára de aparecer lá pelas bandas da dona
Globo, esclareço para os devidos fins e às mentes mais pervertidas que eu não mantenho relações
extra-conjugais com o senhor BloggerMan. Qualquer citação que este homem venha a fazer ao meu blog
se deve, provavelmente, à sua obsessão pelas bundas gordinhas do Botero. Eu não tenho nada a ver
com isso.
E respeitem os meus cabelos castanhos! Já disse que eu sou uma senhora casada, fiel e monogâmica.
Fui… (obrigada, querido!) :b

Que tal um chat mais tarde?



Escrito pela Alê Félix
10, fevereiro, 2004
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– Desculpa por passar aqui a essa hora, mas eu não podia deixar isso pra depois.
Ele ouviu o pedido em pé, de pijama, à uma da manhã, enquanto eu desligava o carro e conferia pelo
retrovisor os estragos que a mãe do garoto-locutor havia feito no meu cabelo.
– Oi pra você também…
– Desculpa… de verdade. Eu sei que estou um pouco nervosa, mas…
Dei um suspiro de cansaço daquela vida toda. Eu teria me divertido com a idéia de terminar com
aquele noivado, se não julgasse o clone um belo exemplar da espécie dos “bons moços”. Adoraria
fazer a cena da moça que diz “não” e vai embora no meio da cerimônia – sempre foi um dos meus
maiores sonhos de consumo. Mas, pensar em fazer isto com aquele rapaz que havia cuidado de mim
depois do estrago que o ex havia causado, parecia doentio. Terminar naquelas condições também não
era boa idéia, mas eu não suportava mais enganá-lo.
– Você não quer entrar e conversar com calma?
– Não.
– Quer conversar aqui na rua?
– Não, não quero.
– E o que você quer?
– Eu não quero casar.
Ótimo! Na bucha e da pior forma, sua anta!
Olhamos um para o outro em silêncio. Não era para ter saído daquele jeito. A idéia inicial era
usar o velho papo de que não era por ele, que na verdade eu estava confusa, que tudo havia
acontecido muito rápido, que eu não tinha nada a ver com o vestido de noiva da mãe dele, que eu
achava que ainda gostava do ex… Ok, ok, as duas últimas desculpas eram reais, mas eu, naquela
época, não era dada à verdade. Precisava de uma boa mentira… Uma desculpa que deixasse toda a
culpa para mim, seria o ideal.
– …Espera. Não é bem assim.
Ele entrou no carro…
– O que está acontecendo?
Decidi explicar direito e largar mão de ser covarde.
– A quanto tempo a gente se conhece?
– Tempo suficiente para namorar, noivar e casar daqui a exatamente dois meses.
Um agiota não faria cobranças melhor do que ele…
– Ok. Então, estamos combinados. Casaremos! Casaremos daqui a dois meses e seremos felizes para
sempre. Juro que paro de frescura, conto aos meus pais de uma vez por todas o que decidimos, paro
de crises e cresço. Eu adoro você, sei exatamente quem você é e o que posso esperar dessa relação.
E acho que você também pode dizer o mesmo sobre mim, não é mesmo?
– Agora sim, concordamos.
– Pode ou não pode?
– O quê?
– Você pode dizer o mesmo sobre mim? Sabe quem eu sou e o que pode esperar disso tudo?
– Tenho. Claro, que tenho. Eu amo você…
– E isso basta?
– Basta. Por quê? Pra você não é o suficiente?
– Se você soubesse quem eu sou, talvez bastasse.
– E eu não sei quem você é?
– Não… Desculpa, mas você não sabe.
– …
– É por isso que há dias eu ando tão nervosa com essa história de casamento. Eu não quero casar
com alguém que não saiba quem eu sou.
Poucas foram as vezes que me dei ao trabalho de dizer a verdade a um homem. Aquela era uma
tentativa realmente honesta…
– Você está me traindo?
– O quê? Do que você está falando?
– Tem outro cara? É isso? Está me traindo?
Por que em uma hora como esta, tudo cheira a traição?
– Como você é ridículo… Olha, quer saber? Se eu me sentisse comprometida com você, talvez
estivesse te traindo sim!
– Ah, é? Que boa notícia…
– E isso nem significa que eu estou saindo com outra pessoa! Se é isso que você queria saber!
– E significa o quê, então?
– Significa que você não suporta saber sobre o meu passado, ignora o meu presente e acha que terá
um futuro encantado comigo. Você não sabe quem eu sou. Não sabe quem são meus amigos, não conhece
os lugares que eu freqüento, dorme nos filmes que eu gosto, não sabe que eu ronco, nunca me viu
acordar no dia seguinte porque nem sabe que sofro de insônia. Odeia que eu fale palavrão e não
gosta do jeito que sou. Não sabe que sempre que você me deixa em casa achando que vou dormir, eu
saio para alguma festa que prefiro ir sem você. Você não sabe que eu tomo anfetamina desde os
quatorze anos para ficar o menos gorda possível. Não sabe que eu, naquele dia do acidente, estava
tentando voltar com o Lucas e que você, fisicamente, apesar de odiar essa história, é mesmo muito
parecido com ele. E não sabe que, há duas horas, eu estava sendo arrastada pelos cabelos pela mãe
de um garoto de treze anos que eu achei que estava apaixonada só para poder arranjar uma boa
desculpa para me separar de você.
Pronto. Tudo em uma porrada só.
– Treze anos?
Era incrível como ele ouvia só o que lhe interessava. Uma audição quase feminina…
– Não. Eu não sabia que ele tinha treze anos. Ele mentiu pra mim. Eu não o conhecia
pessoalmente… Só pelo videotexto e pelo telefone, mas nunca aconteceu nada… Olha, não vá
pensar bobagem, porque de forma alguma eu…
– Chega. Eu não quero mais ouvir.
– Imagino que não queira… Aliás, você nunca quer ouvir.
– Você estava me traindo com um garoto de treze anos! Eu não acredito…
Sempre fiquei impressionada com a capacidade que os homens passionais tem de, em um piscar de
olhos, se transformarem em amebas ambulantes.
– Não é possível que eu esteja ouvindo isso… Não. Pára! Pára um minuto. Você ouviu alguma coisa
do que eu disse? Eu nunca fiquei com ninguém desde que estamos juntos, muito menos com um garoto!
– Eu vou matar esse moleque!
Imagine um pesadelo… Um bem grande! Daqueles que não acabam nunca e que são cheios de cenas
surreais. Era o que eu estava vivendo… Só queria que o sujeito não casasse enganado, e ele se
enganando. Ainda tentei explicar melhor a confusão, mas, cinco minutos depois, vendo que ele não
parava de tagarelar bobagens, percebi que eu também não sabia quem era aquele cara que estava ao
meu lado. Se casássemos, casaríamos vendados, tanto eu quanto ele. Talvez, como a maior parte
daqueles que se casam e esperam esperançosos que as vendas nos olhos nunca caiam. Mas,
definitivamente, aquele era o tipo de susto que eu não queria reservar para o meu futuro…
Certo, chega de consideração por hoje.
– Quer saber? Chega! Não quero e não vou casar! Estou cansada de gente louca. Estou tentando pela
primeira vez na vida terminar uma história de um jeito decente e você não entende uma palavra
sequer do que eu digo.Toma… Está aqui a aliança que você me deu. Agora, por favor, sai do meu
carro e me deixa ir embora.
Ele pegou a aliança, bateu a porta, enfiou-se pelo vidro aberto, jogou-a dentro do carro e…
– É falsa! Igual a você!
Dá pra acreditar? Que tipo de homem dá uma aliança falsa de família para a futura noiva? Fiquei
muda me perguntando se a falsa era eu, o brilhante ou a tradição da família dele. Loucos… bando
de homens loucos! Celibatária. Dali pra frente só me restaria virar celibatária. Como é que alguém
pede a mão de uma garota em casamento dizendo que aquela era a aliança de noivado que foi dos
bisavós, avós, pais e blá-blá-blá, pra depois dizer que é falsa? E onde estava a merda do amor que
ele havia me jurado? Aquilo parecia piada de judeu. E de mau gosto! Era como se ele estivesse
desconfiando de mim, dos meus interesses…
Indignada, parei o carro em um posto de gasolina para abastecer, respirar e achar o raio da
aliança. Falsa ou não, não queria ficar com aquilo.
Quem esse cretino pensa que eu sou? Quero que ele engula essa porcaria de anel! Ele e a mãe
dele. Não… só ele. A mãe dele pode engolir aquele vestido de Bozo que ela casou.

Abaixei a cabeça, revirei os tapetinhos de borracha no assoalho do carro e lá estava…
– O que é isso?
…. uma estrela ninja!.

———————>> Continua.
Clique aqui para ler
o Post I – O começo de toda a história do videotexto



Escrito pela Alê Félix
10, fevereiro, 2004
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Santo deus quanto enjôo…
Não, eu não estou grávida. Eu sou estéril (porque sim).
E isto deve ser resultado das folhas de alface e sopas de trinta calorias ingeridas nos últimos
dias.



Escrito pela Alê Félix
10, fevereiro, 2004
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