Não vou cuspir no prato que tenho comido. Eu tenho meus talentos. Vou deixar a modéstia que me assombra trancada no
banheiro e confessar: eu sei ganhar dinheiro. Me disseram que isto é um talento, então vou passar a dizer que foi
com ele que eu nasci.
Não, eu não sou rica. Nunca fui. Pago aluguel, tenho um carro velhão que eu amo de paixão e não tenho dinheiro
acumulado. Ai você me pergunta: e o que tem feito com o talento? E eu lhe digo:
Um dia minha avó me ensinou a fazer bolinhos de chuva. Era dia de sessão da tarde e cobertor. Minha mãe havia feito
pipoca e eu pedi para minha avó me ensinar a preparar os bolinhos de chuva que ela fazia tão bem. Depois de muita
farinha de trigo esparramada pela cozinha, minha travessa de bolinhos estava pronta. A primeira coisa que fiz quando
terminei de salpicar-lhes açúcar foi embalar o refratário em uma toalha e avisar a minha mãe que eu iria vendê-los
em frente à escola que tinha na nossa rua. Fui até o portão principal do colégio, esperei dar o sinal do recreio e
vendi tudo. Não sobrou nem o açúcar, até os professores foram lá comprar meus bolinhos. Eu tinha oito anos.
Depois desse evento, não parei mais. Vendi geladinhos coloridos para os moleques que soltavam pipa na esquina de
casa; na escola, fazia reuniões no banheiro das meninas com os produtos da Avon e vendia poemas e cartas sob
encomenda. Ok, vou explicar. Eu tinha uns doze ou treze anos quando conheci a nova professora de português – a
antiga havia se aposentado. Foi amor à primeira vista, ela dava uma aula apaixonante, divertida e nada convencional;
conseqüentemente tomei gosto pelas aulas de língua portuguesa. Certa vez, ela cismou que eu sabia escrever e começou
a me dar dicas extracurriculares de livros e escritores. Metida como eu era e movida pelos elogios da minha mestra,
não quis desapontá-la e desatei a escrever poemas, poesias e estórias de amor. Minhas amigas da sala de aula
começaram a ler as coisas que eu escrevia e, pouco tempo depois, minha mesa tornou-se atração turística com meninas
por todos os lados, suspirando em cima da minha papelada. Não deu outra: cinqüenta centavos por escrito, baseado em
fatos reais. A meninada me contava em que pé andava o namorico, me dava alguns detalhes sobre os dois, eu escrevia,
elas pagavam e o negócio estava feito. Babau, meus intervalos! Eu não tinha mais recreio, aula vaga, nada. Alunas de
outras classes interrompiam as aulas da minha sala para entregar bilhetinhos com informações, pedidos de cartas e
afins. Eu tinha um bom preço, um produto personalizado e vivia cheia de dinheiro. Nada mau para uma garotinha de
treze anos, cujas necessidades se resumiam a figurinhas de álbuns que davam prêmios, cadernos de capa dura, gel com
brilho molhado de purpurina, batom 24 horas e caixa de lápis de cor com 36 cores. Os lápis eram para eu desenhar. O
sucesso das cartas subiu à minha cabeça e achei que poderia aprender a desenhar para vender os desenhos. Foi meu
primeiro empreendimento fracassado, logo superado pelo meu método de repasse de livros didáticos usados.
Conto mais depois…
; )



Postado por:Alê Félix
11/12/2002
2 Comentários
Compartilhe
gravatar

lilian

outubro 17th, 2003 às 17:23

adorei todos os e-mail que abrir de vcs vcs sao de mais continuem assim que iram vencer cada dia mais beijos


gravatar

ARYEL VINICIUS L. A,

março 5th, 2004 às 22:24

eu quero a carta de amor


Deixe um comentário