Se eu contar pra você a quantidade de vezes que eu deixei de viver alguma história só porque olhei no espelho antes de sair de casa e comecei a chorar por causa do meu nariz, você certamente não acreditaria. Sim, esse mesmo nariz aí do template. O desenho? O desenho quem fez foi um foi um rapaz lá do sul. Fez o desenho e uma bolsa que eu ainda não recebi porque até hoje não me decidi sobre o tamanho da alça que ela deveria ter. Eu explico: é que a bolsa viria com o desenho do template estampado no tecido e eu só pensava no tamanho da vergonha que sentiria se andasse por aí com a minha cara a tiracolo. Acabei não mandando o tamanho da alça, ele não mandou a bolsa e a vergonha não cresceu. Tamanho, tamanho, tamanho… Quanta coisa a gente deixa de fazer e ter porque acha que não nos cabe? Meu nariz me parecia enorme antes do desenho. Pensei até em operá-lo aos dezesseis. Aliás, até os dezesseis, todos os meus defeitos eram enormes. E eles eram tão menores… Talvez eles nem fossem; talvez só existissem na minha cabeça, talvez fosse só o espelho lá de casa.
Dia desses achei um site pessoal que fiz em 1998. Eu queria aprender um pouco de HTML, o FrontPage era facinho e a Gênese ainda era uma empresa de brincadeira. Juntei fotos, idéias bestas, fotos sépias, fotos da pasta amarela, imagens roubadas e lembranças escaneadas. O site até que ficou bonitinho, mas foi o primeiro e o último. Hoje em dia, olhando pra ele, acho que aquilo foi um exercício de vaidade mais do que um exercício de HTML. Sim, eu sei. Ele é narcisista pra caralho. Cheio de eu, eu, eu. A gente tem que estar muito cego para a própria história pra falar tanto de si próprio. Ou foi isso, ou era só uma fase triste… Mas será que a tristeza também não é só mais um tipo de cegueira? Não sei. Mas voltando ao desenho e ao nariz, eu queria afiná-lo e deixá-lo arrebitado. Também já havia cogitado fazer o mesmo com a minha bunda. Não arrebitá-la, mas afiná-la (neta de mulata, se arrebitar mais, encosta na nuca). Meu quadril e meu nariz eram a minha desgraça… Culpando eles eu perdi a festa do barco, a despedida do Kiko, os dezessete anos da Ieda, o casamento sério da Marilu, duas viagens da turma da escola, meia dúzia de encontros e uma dúzia e meia de noitadas e roubadas que duraram para sempre na vida dos meus amigos. E tudo por conta da fixação estúpida de que o meu nariz estava maior do que a minha cara ou de que a bunda estava maior do que a televisão (é que, enquanto me vestia pra sair, eu via a minha imagem refletida no vidro da tevê. Eu devia ter enganado minha consciência e tirado a tevê do quarto, mas era tão dura comigo mesma que acabava afundando o nariz no travesseiro e ficando o resto da noite chorando e pensando nas dietas e plásticas que mandariam aqueles excessos pras cucuias.). Como eu era imbecil… Nunca, naquela época, eu poderia imaginar que, no futuro, minha bunda ficaria duas vezes maior e meu grau de exigência com defeitos, cinco vezes menor. Pode parecer estranho, mas não é. Com o tempo, acredite, o espelho fica mais nítido e começamos a nos dar conta de que ninguém é tão feio assim, que o conjunto faz mais sentido do que os detalhes e que era só não ter deixado a bunda virar uma widescreen. Teria sido simples se eu tivesse mais atenção ou se o espelho fosse tão bom quanto o desenho desse menino lá do sul (perdi seu e-mail e telefone no último pau do computador. Apareça. Preciso agradecê-lo por você ter feito eu enxergar meu próprio nariz).
Agora, depois de anos criticando o pobrezinho, vamos falar sério? Que puta nariz lindo! Ele é bonito pra cacete do jeito que é – meio grande é verdade. Grande e bonito. Assim como a bunda vinte e nove polegadas era aos dezesseis. Mas não, eu não enxergava nada direito. E acabei perdendo as contas de quantas vezes eu preferi encontrar desculpas para me esconder, do que encontrar coragem para conviver em paz com a minha cara.
Como eu queria ter ido na festa do barco…
Obs.: Os textos que estão no link “discutindo a relação” são de autoria da escritora Gisela Rao (que, aliás, eu adoro de paixão). O site foi feito e nunca foi finalizado. Tem várias coisas perdidas e mal acabadas, não o levem a sério.



Postado por:Alê Félix
09/04/2005
14 Comentários
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Isabella

abril 9th, 2005 às 21:02

É mesmo… Todo mundo fala pro pessoal da minha idade pra aproveitar em vez de ficar preocupando com esse tipo de coisa. A gente é mto + exigente com nós mesmos q com os outros… E não tem nada de errado com seu nariz, Alê… o.O


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Letra Morta

abril 9th, 2005 às 21:30

Tenho a impressão de que uma grande parte do que consideramos nossos “defeitos físicos” está concentrada em um só lugar do corpo: o cérebro.


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Bicu

abril 9th, 2005 às 22:22

Eu acho que vi a Marisa Tomei…
Com limãozinho na boca… eu vi sim!


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Paula

abril 10th, 2005 às 10:59

Nossa, que bom que vc largou dessa neura, nunca deixei de ir a algum lugar por algum defeito meu desse tipo, e olha que tenho vários, acho que é pq meu espelho me deixa mais bonita hehehe.Dei uma olhada no seu site, e não sei c já t avisaram, mas muita gente ainda vai do Madame Satã
Beijos


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Lani

abril 10th, 2005 às 14:02

sites “eu-eu-eu-eu” é fase q qse td mdo teve.
Chega o front page bebe, pedindo pra ser usado, e sempre saia essas …coisas =P


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Julie

abril 10th, 2005 às 14:21

Alê…me identifiquei muito com esse texto…até hoje fico neurotica quando tenho que sair de casa e provo todas as roupas do meu guardaroupa…hora pq fica transparente demais, hora pq marca minha barriga, hora pq marca minha perna, ora por isso ora poa aquilo e isso vai me deixando irritada e desconto tudo em quem passar na minha frente…Aos 15 anos pesava 39 kilos e usava manequim 32 ou roupas infantis…e nem assim estava satisfeita pq sempre achava que a minha barriga ficava aparecendo e marcando e por conta disso tb perdi muitas baladas com a minha turma… infelizmente alguns anos depois eu peso bem mais que antes e sinto ate saudades de como era antes pq a gente nunca é como a gente se enxerga….eu ainda estou na fase de ajustar meus espelhos pq ainda acho que todas as minhas roupas me deixam mal de algum jeito e sair é sempre um drama pq nunca tenho a roupa certa para a ocasião….espero chegar aos 30 anos e amadurecer esse meu lado e ser menos dura comigo mesma, mas vai ser muito dificil…dificil mesmo pq sempre fui dura comigo mesma….tinha que ser a mais inteligente, tinha que tirar 10 nas provas e matava de estudar por conta disso, tinha que passar no vestibular direto, tinha que acabar a faculdade rsrs eu acho que no fim eu sempre vou ter algo para fazer e eu me julgo muito por tudo isso…. eu crio as responsabilidades que eu preciso ter e me obrigo a cumprir…acho que sou minha própria carrasca e nao consigo me livrar disso…. Ja me acostumei com as cobranças que faço para mim mesma….Leio um blog chamado horizonte geometrico de autoria da Lana e no dia 2 de Abril eu li uma das maiores verdades que um ser humano pode escrever. Nesse dia em um aparte do seu post ela publicou essas frases que me tocaram e me marcaram muito:”O tempo, esse sábio senhor, que passa por mim e por você, passa para todos. E nos marca, nos fere, nos acolhe, nos melhora, nos torna amargos, nos engorda, nos calça, nos alavanca. Principalmente nos ensina. E não se cansa de repetir as lições que teimamos em não aprender. Até que um dia a gente pára e começa a rir das coisas. Começa a rir da gente. E percebe que muito do que vivemos foi uma enorme fantasia. Que a maioria das dores e dos amores só aconteceram na nossa cabeça. E – se formos bem fundo na filosofia – vamos perceber que nossa existência passou desapercebida para muita gente. E que tanto nossos atos heróicos quanto nossos tombos, quase ninguém viu.” Não quero que ela pense que estou me apropriando do que ela disse, mas achei que combinava com o tema deste post….ESTE TEXTO ENTRE ASPAS NÃO FOI ESCRITO POR MIM JULIANA E SIM PELA LANA EM SEU BLOG HORIZONTE GEOMÉTRICO:http://horizonte.festim.net/. QUERO DEIXAR BEM CLARO PARA QUE ELA NAO SE ZANGUE COMIGO DEPOIS …
Ele me fez refletir muito Alê e ao ler seu post me lembrei muito dele tb… Se cuida…beijos e bom final de semana


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Julie

abril 10th, 2005 às 14:26

ps- eu dei uma olhada no site que você fez e se parece muito com um que eu fiz que nem esta mais no ar na época que comecei a usar o fornt page, mas a diferença que o meu era sobre uma série que eu via na época com fotos, guia de episodios essas coisas…era muito bobo, mas foi a minha primeira criação bem antes dos blogs rsrs achei seu site bem legal alê… e não acho seu nariz grande como vc fala…ele faz parte do ocnjunto e em conjunto ele fica bem harmonico… mas acho que isso vc ja percebeu…


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Ju

abril 10th, 2005 às 18:07

Eu tinha espinhas. Fui no dermatologista e ele falou pra minha mãe: quebre todos os espelhos de casa! Hoje só tenho uma de vez em quando graças ao remédio milagroso que ele passou. Mas se eu tivesse quebrado os espelhos tinha melhorado muito antes. Parece que eles me odeiam, é uma coisa incrível, mas o negócio é que eu não vivo sem eles. Não posso ver um espelho, apesar de nunca estar satisfeita com o que ele me diz. Sabe o que é isso??? Coisa de mulher. Um dia a gente faz as pazes.


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Flá Onaga

abril 10th, 2005 às 21:01

Putz. Você não tem idéia de quantas vezes eu já olhei meu nariz em fotos, espelho, e essas coisas que surgiram pra gente ficar mais bitolado a cada dia que passa, e achei ele empinado. Empinado, arrebitado, tudigual; não é algo legal de se ter- acredite. Mas eu nunca deixei de sair de casa por causa dele, haahahahaha.


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Ana & Mel

abril 10th, 2005 às 22:46

Oi, Ale! Estou só de passagem… mas não podia deixar de parabenizá-la pelo blog! Adorei o título!! Amarula com sucrilhos!! Legal!!


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Lilith

abril 11th, 2005 às 10:04

Eu também já tive complexos com meu nariz, mas hoje em dia acho ele o máximo! Ele que dá personalidade ao meu rosto! Gostei muito do seu blog, sempre que der venho te visitar. Um beijo!


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Li´l Cactus

abril 11th, 2005 às 11:46

É engraçado como nossa mente nos prega truques, como nos prende, tolhe nossos movimentos…
A maioria das coisas acontecem de dentro pra fora, e a gente sempre teima em pensar que é o contrário…


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Patrícia

abril 12th, 2005 às 1:38

Esse texto me emocionou, realmente damos muito valor a aparência, devíamos procurar apenas o que nos agrada no corpo e esquecer o resto, com o passar do tempo tudo fica feio mas a essência do ser humano continua bela. Digo isso porque fiz uma plastica e não elevou nada minha auto estima.


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jullya maria costa de albuquerque

novembro 21st, 2005 às 19:54

adorei as receitas de licoleres pricipalmente


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