A ferramenta virou espelho e não gosto do que vejo.
Enjôo; enjôo de mim mesma. Meu umbigo escancarou e cuspiu no meu espelho. Gostava muito mais da minha memória quando ela não tinha registros e
arquivos on-line. Textos arrogantes, pretensiosos, estúpidos, cheios de diretas e indiretas e uma boa porção de bobagens espalhadas. Um espaço metido
a besta! Idéias ingênuas, muito ingênuas. Merda, um monte de merda em forma de textos. Gente, gente, gente… Gente querida que eu tento dizer “oi”,
gente não tão querida mas indiferente, gente de amor à primeira lida e gente que vive me salvando e eu nem sei ao certo do que… O virtual imita a
vida com a vantagem do boot e do delete, sempre à mão.
Achei que fosse um palco – ainda acho que é. Mas o fato é que, qualquer que seja a peça, eles sempre revelam mais do autor do que ele permite. Mesmo
quando tudo não passa de uma encenação, lá estão as confissões e as preciosas opiniões. Já não sei mais onde começa a história e onde acabam as
estórias. Será que alguém sabe? Será que os narradores sabem? Quisera a regra da primeira pessoa fosse real. Quisera não fosse…
Devia ter escrito os últimos meses em um caderno. Poderia agora atirá-lo em uma fogueira qualquer. Não quero deletar, deletar não deixa cinzas.
Quero uma fogueira. Fogueiras são dramáticas e eu gosto do ritual, do drama, da cor e do calor. Não vejo graça alguma em apertar botões para fazer
desaparecer. Se fossem folhas, rasgá-las em um instante de crise seria muito mais simples. Era mais simples…
Antes resolvesse sacudir o monitor, chutar a CPU, ou abarrotar os espaços em branco com palavrões e agressões. Antes eu soubesse como dizer “oi”…
Vergonha, uma vergonha de cavar buracos. Antes tivesse mantido o pseudônimo ou a gaveta fechada. Gaveta fechada não recebe visitas. Eu gostei dos
olhares… Teria sido este o meu pecado? Vaidade, vaidade, maldita vaidade.
Antes isto fosse um diário, antes tivesse um cadeado e antes fosse rosa… Antes ele não fosse! Porque, com o tempo e o reflexo, sinto que estou
prestes a atirar-me no lago.



Postado por:Alê Félix
28/08/2003
0 Comentários
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Miss Encrenca

agosto 30th, 2003 às 7:55

Somos seres engraçados … não gostamos de mostrar nossas entranhas …. mas adoramos quando alguem as vÊ … lê .. e ainda comenta! hahhahhahhahh È
mais ou menos assim :
” vou tirar a roupa, mas não olha não…” passam-se alguns minutos : “ei…não vai dizer nada ?”


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Gabi

agosto 30th, 2003 às 15:43

Se fosse fácil vc não ia nem querer tentar!
Pelo menos, se orgulhe de ser corajosa de olhar a própria miséria. A Miséria Humana. Pq vc tem o dom de ser universal. E a beleza de ser.


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Kika

agosto 30th, 2003 às 21:30

acho que vc enlouqueceu… a verdade é que sou um tanto quanto nova nesse mundo virtual, mundo esse que há uns 6 meses atras, batia no peito pra
dizer que não me fazia a cabeça, e hoje olha eu aqui… em pleno sábado, aproveitando que o marido foi passear com o cachorro pra sorver todas as
“besteiras”…
Não vou falar que as vezes não me sinto ridícula, pq seria mentira, mas ADORO…
Vc é boa no que faz, e é claro que sabe disso.. nao rasga nada, nao deleta nada, e nem pare…


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Moça

agosto 30th, 2003 às 23:32

Que bom que você voltou.


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Helena

setembro 1st, 2003 às 10:23

Alê.. isso faz parte da nossa vida.. Olhamos para trás e percebemos que coisas que fizemos poderiam ter sido feitas de outras maneiras. Sempre
chegamos a conclusão de que isso ou aquilo foi exagero, que não deveria ser feito, que nos expomos demais.. Isso faz parte.. Mas, no meu caso, só me
ajudou a melhorar, para que no futuro eu não seja mais levada pelo meu umbigo e por essa vaidade que todos nós humanos temos…
Não se arrependa.. mas procure pensar nisso como um alerta, um aprendizado!!
Beijos!!!!


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Breno

setembro 1st, 2003 às 22:40

onde fica o lago? []
engraçado, alê, acho q blogs revelam muito para quem sabe ler. (as entrelinhas). enfim, vc se sente protegido e fala mais q devia.
e num blog, nada importa, só o q está escrito. vc pensa q a pessoa é bonita e sim, ela é bonita. vc pensa q quem escreve tal coisa deve ser legal e
sim, ela é legal. é tudo subjetivo e irreal. real mesmo, só as palavras.


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ratapulgo

setembro 2nd, 2003 às 5:36

o lago está aí para nadar e passear de bote numa tarde de primavera.
Não para se afogar, tá?
beijos!


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Ernesto

setembro 2nd, 2003 às 12:11

Atire-se, num lago ou abismo, as lições serão muitas. Gostei do texto, cru e sincero. Abraço.


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kris_kk

setembro 2nd, 2003 às 17:36

se um dia te der vontade de viver apenas virtualmente …siga sua intuição …..viva no virtual por uns dias ….pq eu não segui essa dica interna
….fui ser social com o mundo e fui assaltada ….
seguir conselhos internos é bom …a proxima vez q eu resolver viver um dia virtual e não falar com ninguém real do meu lado eu vou confiar nos meus
instintos !


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Mentecapta

setembro 2nd, 2003 às 19:50

Entendo bem o que você diz (acho… rs)
Lembro-me da longínqua noite em que, tendo passado no vestibular, fiz questão de pegar todos os meus cadernos e atear fogo em tudo. Fiquei lá
assistindo os demoninhos sendo exorcizados 😀


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Diana Z.

setembro 3rd, 2003 às 18:21

Se sabes nadar… vá em frente… não sabes? arrisque… o lago sempre chama… e quem desbucha gavetas assim, certamente não resiste.


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Fabricio

setembro 4th, 2003 às 20:23

Dia desses uma amiga perguntou se eu não tinha medo de me expor em minhas crônicas dessa vida absurda. Em minhas opiniões idiotas sobre assuntos
desinteressantes.
Acho que vc respondeu a questão agora, Alê. Antes tudo fosse em papel e fosse fácil colocar numa gaveta e ninguém nunca mais leria.
Mas expor-se é diversão, e da boa, pra quem é, como a maioria dos bons blogueiros, exibido e intrometido. =)
Pra variar seus textos são perfeitos!!
See Ya


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