Como é difícil escolher alguém pra gostar… Às vezes, a gente olha, bate aquela coisa, uma curiosidade de saber quem é e segue o instinto. Acha bonitinho, dá espaço, conversa, conversa, conversa. Fala tudo o que já falou em tantos outros começos, pergunta tantas perguntas feitas em outros começos. Tenta dizer sim pro coração e se deixa o tempo todo levar pela emoção, mesmo quando acha que está agindo com a razão. Se interessa porque é gostoso se interessar e sentir que o interesse é reciproco. E vai deixando acontecer, vai descobrindo o tanto que há pra descobrir, vai ignorando o medo de estar errado em seus julgamentos. E o tempo vai passando sem que você se ligue de que não tem feito nada com maior intensidade do que conhecer aquele ser. Até que passa a sentir segurança, confiança no outro. Acha o máximo ter conseguido isso em tão pouco tempo ou mesmo depois de tanto tempo! Um pé atrás aqui e outro ali, mas o processo é tão legal que não dá mais pra parar e você acha que já sabe tudo ou pelo menos o suficiente e continua arriscando. E vai sacando se a figura vale a pena no que diz respeito aos valores, se teve histórias de mais ou de menos, se teve muitos traumas impossíveis, muitos amores que ainda pisoteiam seu cérebro e seus dias… Se tem filho, se já casou, se já amou, se tem amigos, família e cuidado com as pessoas e as histórias que lhe cercam. Ou, se é só mais uma dessas pessoas acostumadas a disfarçar e viver somente pra si próprio. Ignoramos defeitos possíveis, fatos concretos, histórico familiar. Ou não ignoramos, mas achamos que vai dar pé assim mesmo. E nunca se pergunta se ele está precisando de você ou querendo você. Não se pergunta direito nem o que você realmente quer. A gente tenta… Tenta ter atenção, interesse real, olha com cuidado pra ver se a pessoa construiu uma vida ou se foi a vida que lhe construiu. Se as mágoas são maiores ou menores do que as alegrias, se existe algum potencial de felicidade por ali ou se o desespero é maior do que a serenidade. Se é caso de terapia ou psiquiatria, se é chave mestra ou chave de cadeia… A gente tenta. E continua dando espaço, espera pra ver se há química, se é gostoso, se é tão gostoso que mete um medo danado no coração da gente e nos dias seguintes. Tanta coisa pra descobrir e sentir e a gente vai deixando rolar. Espera ligação, espera atenção, espera não esperar, espera reciprocidade, afinidade, cumplicidade. E junta uma história na outra, quer saber todos os gostos, os desejos, os sonhos, quer um filme inteiro do dia do nascimento até o segundo passado. E aí o tempo vai passando, a relação que você tanto queria vai se construindo, você acha que vai levar a figura pro resto da sua vida mesmo se um dia vocês se separem até que… cataplófi! Chega a conta da história e nada do seu tempo ou do seu dinheiro de volta. Você descobre que no que diz respeito ao afeto e transparência das relações, nunca há garantias. De repente, algo acontece e rompe. Alguns explicam, alguns correm das explicações como diabo da cruz, mas o ponto é que tanto faz. Quando acaba de vez, é como se elas voltassem a ser completas desconhecidas. E aí a gente se afasta, nunca mais se vê. Até que um dia você encontra a pessoa na rua, fala rapidamente, pergunta banalidades. Percebe que todo mundo sobrevive as perdas, vê que ela continua tocando a vida dela sem você e você sem ela e que tá tudo bem. Mas que a ruptura tá ali e talvez nunca mais deixe de existir. Como se fosse um corte, uma cicatriz mesmo. Você olha, acha que até que podia passar uma maquiagem e fingir que não aconteceu, mas é só um dos dois ameaçarem encostar na linha do corte e ela se rompe novamente. Acho que é só nessa hora que a gente se dá conta da passagem do nosso tempo e da energia e do desperdício que colocamos no começo das relações. Você olha pra figura tentando reconhecê-la como alguém que já foi tão importante mas percebe que diante do distanciamento do tempo e dos sentimentos, só o que fica é a sensação de termos cometido um grande equivoco. Uma busca por uma verdade que parece nunca ser possível antes que algum tipo de fim aconteça, seja ele depois de vinte anos ou mesmo depois de apenas dois meses. Por mais que a gente se esforce e acredite, parece que ninguém faz a menor ideia de quem o outro é. E quanto maior a paixão, mais cegueta a gente é, maior o susto com o passar do tempo.
Eu, de férias, ando em busca do amigos perdidos.
Vai uma cerveja?