O apartamento 666
Ele largou o meu braço com um misto de ódio e desprezo no olhar. Dei de costas, peguei minha bolsa e me mandei do
restaurante. – que raiva, que me deu! Tive vontade de enfiar-lhe o suco de abacaxi com hortelã goela abaixo, mas
controlei os meus nervos, deixei pra lá minhas vontades e fui embora antes que as coisas piorassem. Não que eu tenha
ficado com medo do “Jason” me perseguir com a sua faca de Rambo (confesso que na hora nem lembrei
deste detalhe). Eu estava tão indignada que não queria deixar a situação mais constrangedora do que estava.
No dia seguinte tratei de deletar o almoço com o indigesto Adolfo e esquecer que havia pessoas como ele no mundo.
Era difícil acreditar que alguém expusesse os preconceitos daquela forma. Era tão agressivo que causava repulsa. Em
um primeiro momento tentei me colocar no lugar dele, buscar explicações para o desajustado comportamento… tudo em
vão. Tive pena, muita pena daquele garoto.
No fim de semana, passei na casa da Anita para que minhas amigas pudessem acessar o videopapo. Nas tardes de sábado
jogávamos conversa fora e ficávamos de farra no videotexto mas, naquele dia, assim que o acessamos, vi o Adolfo
on-line enviando mensagens para todos os usuários e dizendo que não sossegaria enquanto não visse a minha boca cheia
de formigas.
– Caraca! O que é que este idiota está fazendo?
– Alêê… o cara tá te jurando de morte!
– Meu! Que louco varrido filho da mãe! Quem ele acha que eu sou? Que merda é esta? Ele vai ver só! Anita,
assume o teclado. Conversa como esse doente como se fosse eu.
– Anh??
– Eu vou na casa dele!
– Tá louca? O cara tá dizendo que vai te matar!
– Ele que vá ameaçar a vovozinha de morte, não eu!
Dirigi até a casa do infeliz, estacionei o carro que nem o meu nariz e invadi, ensandecida, o prédio onde o maluco
morava. Até hoje não sei o que deu em mim naquele dia, mas fiquei tão nervosa que o pobre do porteiro não conseguiu
me deter.
Quando eu vi, estava com o dedo na campainha do apartamento 666, do sexto andar de um prédio antigo do Cambuci.
>>> Continua…
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