Chá é bom…
Dia desses estava conversando com ex-marido sobre a vida e a morte das pessoas. Foi logo depois do enterro do namorado de minha amiga, ele estava pasmo com a idade do falecido. Falamos dos males do inverno, das pessoas que vivem contra o tempo, das que enfrentam corajosamente os contratempos. Falei que eu achava que se dar bem na vida era questão de genes, sorte e boa comunicação. Lembrei do meu velho amigo Zarolho que era um moleque ferrado de tímido, geneticamente amaldiçoado pela aparência vesga e o organismo precocemente diabético, mas era dotado de uma sorte inacreditável. Sorte do tipo: ganhar carros (três) na rifa, ter aprendido a dançar lambada nos anos noventa só pra tentar impressionar uma menina e acabar sendo convidado para integrar um grupo de dança na Europa, ter casado com uma dançarina linda que conheceu caindo de uma moto e que acabou lhe dando filhos bem melhorados e cidadania canadense. Hoje ele vive de salários que jamais almejaria vindo da familia e do lugar que veio. Isso é sorte, não tem outro nome. São palavras dele “não faço a menor idéia de como isso tudo aconteceu!”. Digam o que quiserem, mas um cara com 23 anos, bonito, inteligente, família boa do coração e do espirito, com o trabalho que queria, a namorada que desejava e a vida que traçava, morrer de bala perdida num bairro relativamente tranquilo como é o Sumaré aqui em São Paulo, não teve sorte. O nome disso é sorte pro Zaralho, azar pro Augustinho. Não sei que outro nome dar pra essas coisas. Só sei que um teve a sorte dos bons encontros e o outro teve o azar de ser vítima da violência urbana. O namorado de minha amiga tinha boa comunicação, sorte, genes ruins… O coração parece que era ruim de família, ele não acreditava. Meu caso: genes mediocres, sorte consideravel, comunicação abençoada. Se, deus me livre e guarde, num desses meus dias de maluca, eu bato o carro, estou sem cinto e dou com a lingua no vidro (isso não é uma cena de azar e sim de inconsequência e que será considerada como minha única e exclusiva responsabilidade), minha vida estará arruinada! Sem minha lingua eu não sou ninguém. Ela é o meu cabelo de Sansão, minha espada de GraySkull. E é através dela que de vez em quando eu me sinto a She-ra e saio voando em qualquer “ventania”, defendendo a honra de meu castelo, do meu povo… Ok, ok… já já eu paro com esse papo “tapa na pantera”. Só não quero esquecer que tenho genes fortes embora gordinhos, sorte boa (seria um pecado reclamar), mas é a minha lingua que brilha no meu horizonte. Parei! Parei. É esse chá de camomila! Juro!
Vou dormir antes que eu diga alguma besteira… Só queria escrever que tudo na vida é uma questão de sorte, genes e boa comunicação. Não posso esquecer disso porque essas são três paradas muito importantes pra eu pensar daqui pra frente. Você também devia, sabia? Pense sobre seus genes, sua sorte, seu poder de comunicação. Eles serão a base de tudo o que você fizer. Cuide dos seus dias a partir daí e tudo dará certo, a não ser que você seja um tremendo ser azarado. Eu sei, eu sei o que está pensando. Você acha que só vai saber no dia que uma bigorna cair na sua cabeça? Vai por mim: exercite seu olhar e seus instintos de preservação se você for o tipo de pessoa que desde pequeno recebe sinais de que um dia a grande bigorna lhe acertará. É sério! E se não for o seu caso, atenção nos genes, na lingua, relaxe, e goze. A não ser, claro, que entre o relaxe e o goze surja um problema de ereção… aí pode ser genes, azar, excesso de comunicação… Sei lá, pergunta pro seu pai! Eu vou dormir antes que eu invente de sair as duas da manhã de casa. Nada de bom acontece depois das três da manhã… nada! E eu tô com sono, frio e com a cabeça gritando “vou dar a volta no mundo eu vou… vou ver o mundo giraaar”. Daí pra meter a lingua no vidro ou… Fui. Boa noite crianças.