Quatro horas de viagem num onibus chechelento, sem banheiro, com paradas frequentes e neguinho subindo e descendo vendendo de churrasquinho de gato a salada de fruta. Duas horas depois uma pirralha no banco de tras vomitou e eu olhei pra cara de uns gringos ao meu lado como que pedindo socorro… Eles retribuiram o olhar e tamparam o nariz com as maos. Um cheiro insuportavel e o onibus virando de um lado para o outro nas curvas de uma descida que parecia nao acabar nunca. Pensei “Me ferrei de novo. Esse lugar deve ser uma droga.”.
Eu preciso largar mao de ser mimada… Nasci numa familia super simples, cresci brincando com a molecada da favela, dei um ralo danado pra conseguir o pouco que tenho e mesmo assim ainda pareco uma babaca diante de lugares e pessoas muito pobres. As vezes, quando nessas horas sinto vontade de sair correndo pra um lugar quentinho e aromatizado, tambem sinto vergonha de mim mesma. Parece que de nada valeram as dificuldades que ja passei… Nao passo de uma mimadinha arrogante e mal acostumada com a sorte que tem. É tudo que sou, por mais que eu me esforce para ser alguem decente.
O Equador é um pais muito pobre… Parte o coracao andar pelas estradas. Banos é uma cidade turistica, geograficamente impressionante e acabei de chegar… La da estrada, através dos vidros trancados, vi um vulcao, vi os borrões cinzas dos fogos se misturarem aos branquinhos das nuvens que o atravessavam. Um vulcão não passa de um inferno suspenso pela saudade do céu.
Sinto falta das minhas pessoas…