Esses dias eu sai um pouco dos trilhos, mas foi só porque já vinha me sentindo descarilhada há mais tempo do que devia.
Esses dias o tempo encurtou e também foi culpa minha. Procurei tanto um motivo para perdê-lo que ele quase parou de bater dentro de mim e passou a me despertar somente com o auxílio dos relógios.
Esses dias minha vó morreu…
Esses dias, ver o meu avô e algumas barrigas têm feito com o que eu pare de prender o choro.
Esses dias percebi o quanto meu avô está lúcido (mesmo quando todos a sua volta dizem o contrário) e o quanto a gente é igual nessa dificuldade estranha que é se fazer compreender.
Esses dias parei de me culpar por achar que eu devia sempre me esforçar para fazer as pazes com deus e o mundo e fiz as pazes comigo mesma.
Esses dias assinei duas brigas que eu nunca quis lutar…
Esses dias, em apenas uma frase, vi desmoronar a boa moça que eu achava que era. E senti na pele a dificuldade que é – na prática – ver as nossas ações serem coerentes com os nossos discursos.
Esses dias eu vi o quanto tem me deixado socialmente deficiente esse meu exercício constante de construir redomas.
Esses dias senti um pouco menos de medo da morte e um pouco mais de medo do nosso desperdício inconsciente do tempo.
Esses dias voltei pra casa com tanta, mas com tanta saudade do Jorge que bastava um abraço pro mundo voltar a ter o tamanho que cabia no meu peito e fazer um pouco de sentido.
Esses dias conheci três pessoas que me fizeram abrir a janela novamente…
Esses dias não dava pra escrever, esses dias só o que de vez em quando eu conseguia era fotografar e observar entre vãos.
Esses dias aprendi um bocado, mas estava sempre tão triste que chegava em casa, me media e tudo o que eu via era que o que me restava de alma diminuía.
Esses dias eu aprendi um bocado… E, por um triz, quase desapareci.