Antigamente, quando a vida estava monótona e não existia a internet pra nos entreter, vez ou outra íamos para a frente da TV acompanhar a vida dos personagens das novelas. Era uma ótima técnica pra parar de pensar e caçar assunto com as pessoas que nos cercavam nas horas seguintes. Hoje em dia, tenho certeza de que muitas televisões poderiam servir de vasos para as plantas… Várias plantas. Desligamos a TV, ligamos o computador e passamos a perder tempo assistindo as postagens diárias dos amigos, inimigos, dos amores que vem e vão. Capítulo por capítulo de realidades questionáveis, episódios mal escritos e constantemente felizes com seus inevitáveis finais tristes. E o curioso é o quanto é comum entre todos nós – mesmo depois que algumas tramas se desfazem – alimentarmos cenas e personagens que deixaram de fazer ou nunca deveriam ter feito parte da nossa programação. Mesmo escondidinho, sem nos darmos conta do poder de interferência da fofoca 2.0 que gira nessas redes, damos a vários coadjuvantes (até mesmo figurantes!) o destaque necessário e desnecessário nessa nossa nova revista repleta de caras. Pra que? Por que, se mesmo quando a gente não confessa que abriu o olho, esse nosso olhar é tão bizarro quanto aquele dos atropelamentos de beira da estrada? Parece que nosso medo de perder o controle do desfecho da novela faz de nós um bando vítimas… Eu, inclusive. E não entendo quem não enxerga a roubada que estamos nos metendo, não me canso de me sentir patética por ver e não me mover. Por aqui é muito mais difícil mudar de canal, não é mesmo? Dificílimo virar a página…
Com todo respeito as nossas vidas incríveis, falo sobre isso questionando o futuro e não os saudosismos ridículos do passado. Os dias eram sentidos na pele e não na tela, o desperdício de tempo era muito menor e era mais fácil espantar o tédio com as novelas do que tem sido nesses tempos de redes sociais… Muito mais.
Há dias me pergunto que memória teremos desses nossos posts, compartilhamentos inúteis, amigos e amores virtuais… É como se estivéssemos todos cegos, hipnotizados por esse nada diário que nos ofereceram como meio de comunicação, entretenimento, profissão. Um universo de possibilidades que desperdiçamos tanto quanto a capacidade dos nossos cérebros. Me sinto ridícula, verdadeiramente ridícula. Viciada, escrava das minhas profissões virtuais e impotente. Mesmo quem vê, não sabe direito como sair do ar.



Escrito pela Alê Félix
23, julho, 2012
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Dormindo, acordando, dormindo… Sem a menor vontade de fazer qualquer bobagem que me distraia. Lembrei de um filme que há muitos anos me fez entender alguns sons que vibravam no meu peito e eu fingia que não ouvia. Assisti o filme de novo, chorei de novo, compreendi e ouvi tudo, um pouco mais. Um pouco mais sobre mim mesma, sobre os homens, sobre mulheres. A cena que o marido lhe corta o dedo ainda me arrebenta o coração tanto quanto a cena da primeira vez que ela transa com o amante…
Nunca, nunca na sua vida chegue perto de alguém que te proibi – seja pelo motivo que for – de fazer o que te faz vibrar. Por mais que eu me esforce, há meses não escrevo uma linha sequer… E embora eu nunca tenha chegado perto o suficiente, as palavras que sempre lhe escaparam pela boca, calaram e torturaram as que costumavam sair pelos meus dedos. E tem me parecido uma eternidade não reencontrá-las… Uma eternidade de silêncio, vazio, uma eternidade presa no fundo escuro de um mar qualquer.



Escrito pela Alê Félix
21, julho, 2012
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