As horas tictaqueavam enquanto a vida passava despercebida entre as palavras que liamos, escrevíamos e os verbos que não experimentávamos…
O tempo gelado, os músculos paralisados, o trabalho realizado, a rotina constatada, uma viagem não programada, a noite estrelada, o carro acostado, o abraço apertado, o silêncio bem-vindo, a estrada interditada, o ombro contraído, o ombro dolorido, a vontade de voltar atrás, a coragem compartilhada, paixão silenciada, carinho desinibido, amor de passarinho, a falta de sinal que liberta, o frio ou o arrepio, a entrega sem juízo, o corpo esparramado pelo corpo, o ombro relaxado, o desconforto escondido, o sono quando não basta, a intimidade quando não chega, o mar que nos invade, a cidade quando declama, a saudade quando reclama, a notícia quando coroa, os amigos quando nos faltam, os conterrâneos quando se abraçam, as taças quando brindam, os sinais que incomodam, os casais que comemoram, os presentes que alimentam, as partidas que arriscamos, os retornos que confundem, o caminho que estamos e não desfrutamos. Deus e os livros usados como desculpa para que nossas mãos escrevam e se estendam. A carta, o café, a cama, uma faixa de areia em um dia de inverno de despedida. O oi, o tchau e o agora. A vida que passa, a vida que acaba, nossos olhos que nos traem, o caso que permanece, a memória que se esvai, a notícia quando entristece, o fim quando acontece, a manhã quando recomeça, os olhos quando se abrem, os pés quando tocam o chão e a gente quando levanta e segue em frente e enfrenta… até mesmo nosso coração.
Para uma mulher que eu admiro e acabou de perder o pai, para o rapaz que mais me protege e acabou de perder a avó, para que eu me permita seguir em frente e para os bandeirantes perdidos.