Perdi o vôo, um pouco do chão, um pouco da visão, mas sobraram as asas que nunca serão passíveis de corte, sobrou um coração que nasceu para pulsar no céu e não para ser acariciado na terra. Perdi mais um vôo, mas ainda tenho asas fortes para fugir, escapar pra onde eu puder até surgir novamente um caminho. Sobrou a natureza da minha alma, meu instinto de sobrevivência, meu espírito incontrolável, indomesticável, amém.
Mesmo abatida, ainda me resta um olhar de fúria e compaixão por esse desespero por afeto que nos cerca. Mas, exatamente pelo afeto, não me deseje cantarolando em uma gaiola de ouro que reluz somente a vaidade e a crueldade dos que confundem amor com posse. Não me confunda. Amor verdadeiro a gente contempla voando, partindo, voltando quando sente de voltar. Eu sei que eu perdi esse vôo chorando, mas perdi porque eu quis. Perdi para poder voltar a voar em paz, para reforçar minhas asas, para te deixar experimentar um pouco de alegria e ar puro, bem longe das minhas mãos. Perdi o vôo, mas não as asas. Gente como a gente não se deixa prender por covardia, não permance sem paixão e só retorna quando sente a profunda, honesta e declarada vontade de estar.

Escrito por Alê Félix
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Foto by Sergio Fonseca

* Qualquer semelhança com a realidade, a sua ou a minha vida é apenas uma mera coincidência. Esse é um blog de ficção.



Escrito pela Alê Félix
30, dezembro, 2010
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Para se livrarem do medo de viver e morrer alguns rezam, outros matam. Nasci com o espírito daqueles que optam pela guerra e dispensam as flores, mas ontem aprendi a rezar ouvindo samba, a dançar sorrindo, a caminhar sem par. E o medo se foi e meu espírito esqueceu a que veio, dormiu um pouco em paz, como se só lhe bastasse cantar. Coisas do Rio, coisas do céu, coisas do Noel.

Feliz Natal aos que por aqui transitam, sejam vocês da guerra ou da oração. E que papai Noel não nos arranque as rosas, de nenhum de nós…

Escrito por Alê Félix
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Escrito pela Alê Félix
24, dezembro, 2010
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Acordei pensando em desligar tudo, comprar uma velha máquina de escrever e respirar fundo até chegar o dia certo para morrer. Acordei precisando de um cigarro e um copo de café, mas eu não fumo e me falta coragem pra levantar, beber e pensar mais do que já estou acostumada. Acordei questionando a inteligência de quem passa a vida dentro de um livro e acredita que pensa ao repetir os pensamentos de um autor que morreu e mal viveu de tanto medo que tinha da vida. Acordei e desliguei o rádio. Eu amava porque choravam nas músicas que eu ouvia, não por ele. Talvez, ele, eu nunca nem sequer tenha ido com a cara. Dores que talvez nunca tenham sido minhas, pensamentos e sentimentos reverberados por quem grita, raramente por quem tem a voz mais suave.
Suavidade… onde é que a gente encontra suavidade, tranquilidade, afetuosidade? Não devia ser tão difícil amar sem se identificar ou proliferar… Não devia.
Preciso parar de acordar pensando em suicídio homeopático… Os semelhantes amam os semelhantes, semelhantes trepam com semelhantes como se pudessem trepar com eles próprios, semelhantes fazem filhinhos com semelhantes, semelhantes dão as mãos e fecham a roda para os dessemelhantes, semelhantes compram vidas semelhantes e se acham diferentes… Semelhantes curam-se pelos semelhantes, mas também se matam. E hoje eu acordei quase chorando de tanta falta que sinto dos meus semelhantes, mas com uma certeza que me tirou da cama. Se é pra morrer, que seja cobrindo alguém de porrada. Ou… Quando eu quiser. Porque, na boa, deus não tem mais nada a ver com isso.



Escrito pela Alê Félix
17, dezembro, 2010
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