Pois é, nunca fui muito boa em separar a realidade da ficção… Não que eu acreditasse nos seriados que assistia, mas era impossível não sonhar com a idéia de ser uma das visitantes da Ilha da Fantasia, sabe? Não, não era somente para realizar meus desejos. Nem sequer conseguia pensar em algo que eu tanto quisesse. Eu (assim como grande parte das pessoas) possuo somente meus desejinhos fúteis, basicamente de consumo, nada que valesse um pouso nas águas da ilha de Mr. Roarke. Mas… eu pensava. De vez em quando ainda penso. E li agora há pouco que ele morreu e me deu uma tristeza quase infantil, dessas que a gente sente, não sabe explicar o porquê e esquece no momento seguinte. Talvez (segundo minhas recordações infantis), Roarke fosse uma espécie de deus e, sua ilha, um lugar para se realizar algo mais do que vontades mal resolvidas. Aquilo era um divã, um ritual de passagem e autoconhecimento que me fazia viajar, mudar os roteiros antes, durante e depois.
Perdi as contas de quantas vezes me perguntei o que faria em um lugar como aquele, que tipo de pendência teria para resolver, que rumo teria o papo psicológico de fim de seriado entre Mr. Roarke e eu.
Não faço a menor idéia de quem foi o senhor Ricardo Montalban e nem com que cara de velhinho ele se foi, mas espero que de alguma forma (sem comprometer o paraíso pessoal do defunto) ele tenha ido de: smoking branco, com a voz firme e tranquilizadora do cara que o dublava em português e a capacidade de observação psicológica do texto escrito para o Roarke. Todo assim e direto para a Ilha da Fantasia. E que um dia – assim como ele, sem motivos aparentes, pra lá dos oitenta e antes de me tornar uma morta-viva – ele me receba com um colar de flores e suas boas explicações. Tem gente que morre e quer ir para o céu, eu quero a Ilha da Fantasia.



Escrito pela Alê Félix
15, janeiro, 2009
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