Brasília não é só a Praça dos Três Poderes, Brasília não é somente o palco dos nossos políticos. Ela não é só a beleza fria e concreta do Niemeyer, é a beleza triste e corajosa daqueles que se desprendem de suas raízes e partem em busca de sonhos. Brasília não é esquina, é entrequadra. Mas, a única diferença entre elas, é que uma entrequadra é mais fácil de ser encontrada. Brasília não é tão distante quanto parece, mas você precisa olhá-la do Plano a Ceilândia e dos Lagos aos Guaras para dizer que a conhece. Lá é preciso ver o sol nascer e o sol se pôr. É preciso sentir o céu na ponta dos dedos e se jogar sem medo entre as tempestades que dançam e se escondem no cerrado. Brasília é o que há de melhor e pior no Brasil, inclusive essa nossa capacidade de apontar tão severamente os defeitos sem nem sequer dar uma chance as qualidades. Brasília é família… E é, acima de tudo, um lugar que te abraça, acolhe e te devolve para o mundo bem mais forte do que quando você chegou. Brasília é casa construída sobre o deserto, a partir do nada, mas – dia após dia – traçada para que seja eternizada.
Saudade…
Escrito pela Alê Félix
20, março, 2008
Há dias não saía pra passear. Voltei de viagem, caí na real de que precisava trabalhar, Jaime voltou a ser meu sócio, Rube desmanchou, meu irmão se afastou, Ale pediu as contas… Me senti completamente desamparada por uns dias e, pra piorar, achei que era uma boa hora para libertar o Wil do meu futuro e chorar tudo o que ainda restava chorar. Terminamos por telefone. Achei que não seria muito eficiente ir até Brasilia. Existe uma maldição naquele lugar que sempre me faz voltar atrás, voltar feliz, voltar dizendo sim ao invés de não. Acho que estava precisando dizer não pra muita coisa… Não queria mais repetir erros do passado, não queria magoar ninguém, não queria ser responsável por tragédias cotidianas, não queria mais dizer tanto não. Fiquei sozinha, sozinha… E não foi tão ruim quanto eu imaginava. Talvez, a solidão não seja o fantasma que eu esperava encontrar atrás da porta. Talvez.
Essas mudanças todas me enlouqueceram de cansaço, fui obrigada a arriscar minhas fichas no trabalho mais do que antes. Acabaram as reformas do escritório e criei coragem para não trabalhar mais sozinha, nem em casa (apesar de muito, muito pertinho, logo ali no fundão). Entrei numas de chamar alguns amigos para tentarem ganhar a vida ao meu lado e, ao menos por enquanto, tem sido uma experiência interessante. As vezes, dá um medo danado de tudo dar errado e eu perder até os amigos. A sorte é que “as vezes” que não nos sobra tempo para pensar, estão sendo muito mais frequentes. E algo me diz que estamos no caminho certo na maior parte do tempo… Então, deus queira que eu não esteja errada, deus queira que os amigos se mantenham como o Jaime que já foi, já voltou, já foi sócio, deixou de ser sócio, deixou de ser amigo, voltou a ser amigo, nunca deixou de ser amigo, voltou a ser sócio.
A empresa agora não é mais só a editora de livros, nem só a parte de institucionais para empresas. Agora ela tem uma divisãozinha chamada Taturana que desenvolve conteúdo de entrenimento para portais. Há anos o Jaime me chamava para fazermos isso, mas depois que me separei fiquei muito tempo atordoada com minha vida pessoal. Parecia que eu precisava de férias bem grandes e as tirei: passei dois anos viajando, gastando com prazer as economias da casa própria e experimentando doses reais de liberdade, independência e amor. Revi meus gostos, meus desejos, minha coragem, meus modos. Cansei dessa coisa de blog, escrever, mentir, enganar a mim mesma mais do que aos outros, cansei de manter escolhas insatisfatórias. Fiquei triste pra caralho… Achei que não ia dar não… Mas não é que dá?
Nunca tive tanto foco no trabalho como nos últimos tempos. Não acho mais que profissionalmente sou só uma mulher de sorte. É verdade que tenho uma estrela maior do que meu quadril, mas eu realmente trabalho muito. Atravessei a fronteira da Venezuela com a Colombia morrendo de medo e, mesmo assim, minha cabeça não parava de ter idéias profissionais. Mesmo longe, cybers-cafés uma vez por dia me faziam ter a certeza de que meu jardim estava sendo cuidado. E podia parecer maluquice minha para muita gente, mas, acima do prazer de uma viagem como aquela, estava o prazer de assumir minhas responsabilidades e não desistir delas. Então, não é só sorte… Acho.
O primeiro site da Taturana estreou há vinte dias e semana retrasada fomos pedidos em namoro pela Uol, na passada em casamento pelo IG e essa semana tenho um almoço de negócios com um moço do Virgula. Depois de tanto chororô, foi afago mais do que suficiente pra voltar a sorrir. É que logo depois do pedido do IG parei de moleza e achei que já era hora de sair um pouco de casa, sabe? Mania de melancolia tratada a base de salseria com as amigas, radio do carro ligado a caminho do Rei Castro, moço bonito me dando oi pelo vidro do carro enquanto eu esperava uma luz verde… Minha libido é de menino, sabe? Qualquer bom negócio fechado faz meus olhos piscarem. Não, meus amores, infelizmente não é pela grana dos contratos… É só a droga do meu tesão que é movido a guerras e conquistas.
Retribui com um sorriso, engatei a primeira marcha. Não sinto mais a vida estagnada. Acho que estou seguindo em frente… Acho. Tomara.
Escrito pela Alê Félix
9, março, 2008
Não sara… Não era pra sarar? Mas nada dói de verdade. Era pra sarar e dar um pouco de alegria. Mas não há dor! Sarar o quê? Dói sim! Onde? Não sei dizer… Claro que sabe! Foda-se. Pra que isso? Foda-se. Não dói nada, por isso não sara. Mas era pra sarar… O que? Minha cabeça tá ficando estranha… Sua cabeça é estranha! Dói? Sempre. Eu sei… Só deve sarar quando tá totalmente vazio. Mas tá vazio. Você não faz idéia do que é isso. Sei sim. Não sabe. O lance da cabeça foi só impressão. Artificios não vão te levar a lugar algum. Mas eu quero ir embora… Mentira. Verdade. Mentira. Verdade. Não há dor, não há distancia, não há amor, não há nada e é isso que te fode. É, mas disseram que era pra dores bem fortes. Que dor é maior que você? Qualquer uma, oras! Não vou dizer nada… Então cala a boca! E deixar você viver na merda que viveu nos últimos anos? Não fode! Tô mentindo? Você sempre afasta todo mundo que eu quero perto! Nunca houve vontade de estar perto. Eu sinto saudade… Cai na real! Me deixa em paz. Me esforço bastante pra isso… Foda-se você. Não se faça de vitima, o que você chamava de intuição era eu gritando que aquelas pessoas estavam do seu lado não por vontade, mas por inércia. Nunca houve vontade… Não adianta fazer essa cara… Nunca houve vontade deles estarem por perto… E você sempre soube porque eu avisava o tempo todo. Cega! Você adora fechar os olhos… Se eu pelo menos conseguisse… Nada ainda? Nada. Bem feito. Vai tomar no cu! Boca suja, hein!? Para de escrever, vai. Faz tempo que não escrevemos… Graças a deus… dizer o que? É… não há nada pra dizer. Esconder talvez? Você sabe o quanto… Fase complicada… E nem dói. E nem sara. E nem nada. Saudade… Não é saudade o que você sente. Impotencia? Anram… Vai dormir, vai! Nem pra isso essa droga tem servido… Vai amar, vai! Quem? Você! Clicheteira pra caralho… Olha quem fala… É… não sara… ainda estamos falando.
Escrito pela Alê Félix
2, março, 2008