Deve ser o conhaque ou o espirito natalino (embora essas coisas de espirito nunca tenham baixado em mim), mas precisava achar um micro antes de dormir e dizer que tenho falado muita bobagem, e que estava agora pouco bebendo, conversando, morrendo de frio e me arrependi horrores do que escrevi sobre a Venezuela. Em Cartagena, num momento de deslumbre do tipo “Olha! Carruagens! Cinderela!” fui atropelada por um cavalo que carregava uma galera que ia para um casamento. Carruagens sao comuns por la, os turistas passeiam o tempo todo nelas e a ridicula aqui teve a sorte de levar um chega pra la de uma que pertencia aos padrinhos de uma noiva. Fui parar num pronto socorro e, como o acidente foi mais susto do que ferimento, acabei a noite na festa do casorio. Mas o que eu queria dizer é que mesmo me ferrando com o atropelamento de carruagem em Cartagena, mesmo depois do cagaço das trocentas horas pra sair da fronteira, mesmo depois de descobrir que a droga da estrada que o perueiro pegou a maior parte da viagem era controlada pelas Farc e ele ter garantido que nao passaria pela tal da Cidade Perdida, mesmo pegando uma gripe lascada antes de ontem em Bogota, mesmo depois de uma porcao de coisas que vou lembrar aos poucos e com o tempo porque sou uma desmemoriada, quero voltar sempre para a Colombia. Nao ha nada de perigoso naquele país, alem da vontade de querer ficar mais. Serei para sempre uma apaixonada pela Colombia. E agora, chegando em Quito, estava conversando sobre as minhas impressoes sobre a Venezuela e lembrei que escrevi merda no post abaixo. Ignorem o que eu digo, eu estava num pessimo humor quando escrevi e tudo me parecia pior do que realmente tinha sido. Eu conheci muito pouco e muito rapidamente algumas cidades da Venezuela, tive o prazer de ser presa por tres horas no Palacio Miraflores e depois ainda conseguir nao só a camera fotografica de volta como tirar fotos com a boina do guarda que me prendeu. Fora outras situacoes e pessoas que nao dei o devido valor… Como dizia Fernandinho (um colombiano simpaticao que adora o Brasil e queria o tempo todo que eu falasse em portugues e nao em portunhol porque era muito mais charmoso), nao é todo dia que se vive e parece que eu esqueci o quanto sao valiosos esses momentos de perrengue. Nao tenho porque falar mal ou falar qualquer coisa que pareca uma generalizacao do povo, dos lugares ou de qualquer outro detalhe que tenha vivido na Venezuela. Mesmo porque, como eu disse antes, sei exatamente o que é viver em estado de desespero e é muito facil julgar quando estamos de fora. Falei merda, ignorei minhas experiencias, fui arrogante e mimadinha. Foi uma experiencia interessante.
Quanto a Quito, cheguei hoje a tarde (25/dez – 15hs), as pessoas sao muito simpaticas e a cidade tranquila (apesar de dizerem que eu vou ver só amanha). Estou feliz e em paz. A gripe esta passando, a dor na bunda (atropelamento por carruagem!) esta passando e o tempo parece que nao.
Ontem a noite, ainda em Bogota, passeando pelas ruas centrais enquanto o comércio se despedia dos moradores, batia em mim uma imensa vontade de existir em espanhol.
Tomara que o Natal de voces tenha sido bom assim.