– Vamos ou não voar de asa-delta?
– Não, dessa vez. Não tô no espírito.
– Que é que cê tem, hein?
– Velhice! É isso que eu tenho.
– Quê? Cê nunca foi disso, pai!
– É… Mas eu já passei dos sessenta. Melhor eu me cuidar, senão ó…
– “Ó” o quê, pai?
– Sua mãe, ué! Você não está vendo?
– Vendo o quê?
– Sua mãe depois que emagreceu! Agora só porque ela está assim, toda bonitona, anda de conversa com todo mundo. E ela é muito mais nova do que eu. Se eu bobear, já vi tudo!
– Você não tá falando sério, né? A mamãe sempre foi conversadeira. Você nunca ligou pra isso! Não viaja, pai…
– Mas antes ela achava que ninguém dava bola pra ela porque ela era gordinha. Agora tá aí… Toda serelepe. O dono da padaria vive dando umas broas de graça quando ela vai comprar pãozinho de manhã. Pensa que eu sou besta? Que eu não vejo?
– Por isso que você tá assim sem correr, sem pular de asa-delta e com essa cara de enfermo na fila do SUS?
– Claro! Vou dar sopa pro azar? Se sua mãe arranjar outro eu tô ferrado! Vou é fazer cara de dó e marcação cerrada!
Que falta de criatividade decidir ter crise ciúmes depois de trinta anos de casamento e por causa de umas miseras broas de milho recheadas (sensacionais! Que meu pai não me ouça.). E eu achando, no post abaixo, que meu pai tinha uma amante. Como minha família é sem graça… :-s
Tomara que minha mãe nunca morra. Não porque ela é minha mãe, não porque eu goste da companhia dela. Não quero que ela morra porque eu sei que depois dela, minha família nunca mais será a mesma.
Vim de duas famílias muito grandes e muito diferentes, sabe? Do lado materno, me sinto em casa. Todos são normais, donos de uma aparência e comportamento que os fazem circular naturalmente em qualquer ambiente. Gosto bastante do meu lado materno. Tanto que cresci dizendo que minha mãe salvou a evolução genética da família de meu pai.
OK, era sacanagem minha. Não muita, mas era. OK, era. A família do meu pai é MUITO sem noção. Não, vocês não fazem idéia. Surreal de sem noção. Um dia desses, por exemplo, rolou um acidente feio na marginal Pinheiros e um cara perdeu a perna. No meio do furdunço, o sujeito berrava em desespero: “Perdi minha perna! Perdi minha perna!”. Um dos meus tios (irmão do meu pai) estava numa lotação, ouviu a gritaria, enfiou a cabeça pra fora da janela e danou-se a gritar: “Não perdeu, não! Não perdeu, não! Ela tá ali ó!”.
Tá rindo? Acha que eu tô de conversa, né? É sério. Pior, ele falava sério! E, juro, isso não é nada. Meu pai é o menos lelé e, quando eu digo “menos”, te garanto que é um “menos” muito pouco “menos”. Meu pai deu sorte. Na verdade, esta é a estrela dele: ele tem sorte. Foi um cara tímido pra cacete, se achava feio (apesar de não ser) e estava condenado a morrer virgem e tantã se não tivesse socorrido minha mãe de um atropelamento de bicicleta. Casaram um ano depois e misturaram duas famílias grandes, muito diferentes, mas que se tornaram muito próximas devido ao dedo de minha mãe.
As vezes, chego na casa dos meus pais nos fins de semana, olho para aquele monte de carro estacionado no portão e me pergunto se estaríamos lá se ela tivesse ido passear no shopping, se fosse uma mulher ocupada com a profissão, se não gostasse de cozinhar e manter as portas abertas. Se um dia ela morrer, o cheiro da panela no fogo não será o mesmo, o telefone irá parar de tocar, a casa perderá a alma e o vento se encarregará de fechar aquelas portas. Se um dia ela morrer, as festas só serão celebradas quando virarmos as páginas dos álbuns fotográficos. Se um dia ela morrer, é provável que comecemos a morrer…
E se ela morrer antes do meu pai?
Foi essa a pergunta que me fiz no último dia das mães.
Ah, se ela morrer antes do meu pai, eu tô ferrada.
Foi essa a resposta que resmunguei em silêncio… Porque ele é da parte maluquinha. E eu e meus irmãos achamos que nós não somos maluquinhos, que puxamos só para a minha mãe, sabe? Se bem que eu não sei mais nada… Acho que ele está apaixonado. Até o mês passado, ele corria todas as manhãs, fazia academia no fim da tarde, acordava disposto virando tigelas de aveia com mel e ia trabalhar com a energia de alguém que não faz a menor idéia de que já passou dos sessenta. De uns dias pra cá, anda numa tristeza sem fim. E eu, que sinto cheiro de pé na bunda a quilômetros de distância, já tô achando que aquilo deve ser dor de amor.
Tomará que minha mãe não tenha percebido… Por que não? Porque ela não é como ele. A felicidade dela está cimentada em cada tijolo da nossa casa, a dele não. Ele acha que a dele está na variedade das cores dos olhos de uma mulher, nos sonhos de infância, no desejo de se jogar no mundo… Vocês acham que pai e mãe enquanto casados não se apaixonam por outras pessoas, né? Quisera fosse tão simples…
Acho que meu pai está apaixonado pela segunda vez na vida. A primeira virou amor, virou parente. Ele achava minha mãe uma menina linda e morria de medo dela trocá-lo por um cara mais jovem. Tá nas fotos do casamento, ele era louco por ela. Fotos falam, ele nem precisou me contar. A segunda? A segunda deve estar doendo pra cacete… Ele nem quis correr no parque no último domingo… Paixão.
Passei a vida toda tentando ser o avesso dele… Inconscientemente, claro. Vi isso tem pouco tempo. Antes, ele era o atleta e eu a jogadora de video-game, ele acordava e eu ia dormir, ele queria que eu estudasse para ser o que eu quisesse ser… Mas decidi primeiro ser alguém, para depois estudar o que quisesse e quando quisesse. Ele nunca me disse exatamente o que ele era, mas eu fiz o possível e o impossível para que não nos tornássemos a mesma pessoa. Nunca quis ter nada da personalidade dele, nunca olhei para os meus genes paternos com carinho e gratidão. Sempre percebi que minha mãe era a responsável pela casa cheia, por aquele teto, por todos os nossos alicerces… Um alicerce conservador, honesto e humilde. Mas só agora vejo que sua obra – apesar de firme – era de uma simplicidade tão grande que se não fosse pela loucura extravagante de meu pai, eu e meus irmãos talvez tivéssemos nos tornado moradias sem janelas.
Meu pai é um homem que eu mantive distante… Um cara que um dia desses eu peguei conversando com meus irmãos e dizendo: “Ela não precisa terminar nenhuma das faculdades que ela começou e largou. Se ela quiser, tudo bem. mas não por medo do dia de amanhã. Ela é livre, faz o que quer, vive como quer e vive bem. Vou me preocupar com o futuro dela porque? Com vocês é natural que eu me preocupe, com ela não. A Alessandra voa!”.
Eu devia ter saído correndo pra chorar escondido no banheiro porque foi a primeira vez que vi meu pai me dizer sim. Devia, mas não fiz isso. Dei a volta no corredor e fui chorar escondido no banheiro, é verdade, mas não chorei. Agora eu tô, mas naquela hora não chorei não. Fiquei com um aperto no peito, um nada de lagrima nos olhos e um sorriso em frente ao espelho. Um sorriso de quem percebe o tamanho da merda invisível que construiu durante tanto tempo. Passei todos esses anos tentando não ser igual ao meu pai e fiquei a cara dele. Não pelos gostos, não pelos desgostos, mas pela essência. Ele me deu tantas janelas e eu fui sobrevoar justamente os horizontes que ele sonhou antes de mim. Meus sonhos, minhas asas, minha aparente liberdade, toda essa minha loucura ridícula e obcecada por paixões; são o meu pai, são os meus dias bons.
Tô indo pro Rio de Janeiro amanhã de manhã. Não há paixonite que continue doendo sob as asas do Cristo Redentor. Sendo assim, fiz um arrastão naquela família e vou passar o fim de semana com meus pais, irmãos, irmã, cunhadas e com o meu sobrinho. Sábado é aniversário do meu pai, vou leva-lo pra voar de asa delta. Ele disse que anda meio triste, mas que topa. Não falei? Paixão e tantanzice. Queria ser tão corajosa quanto ele…
Acho o amor um grandessissimo tédio. Vejo uma porção de gente reclamando que sente paixão, mas não ama e fico aqui pensando se não invertemos tudo. Tá na cara que paixão é mais forte que amor e não o contrário. Acho que dizer pra alguém que depois de não sei quanto tempo tal relação virou amor, é o mesmo que dizer “Já era. A graça acabou!”.
Amor é coisa de parente, eu quero mais é ficar doente de paixão, sabe? Quero a inspiração, os sorrisos solitários no meio do dia, as bochechas coradas de vergonha, o frio na barriga. Ah, o frio na barriga… Que saudade daquela maldita insegurança que mexe comigo de um colo ao outro. Ok, amar é bom. É bom… A qualidade do sono é ótima.
Como é que eu vim parar aqui? Tenho vergonha de repetir em voz alta os mesmos problemas de sempre. Não sei mais como pedir ajuda, nunca soube tomar grandes decisões, tenho medo de magoar as poucas pessoas que restam na minha vida, tenho medo de perdê-las de vista junto com os problemas. Eu não tô feliz. No fundo, bem aqui no fundo desse meu peito, tem uma tristeza de menina que prende o choro e finge estar dando tempo ao tempo.
Dar tempo ao tempo pode fazer a gente perder a guerra, sabe? E tô começando a achar que nessa briga quem está levando um puta pau do cacete, sou eu.
Eu sempre digo que o barato de ter um blog é poder interagir e conhecer a galera que passa por ele. Pensando nisso, a Close up teve uma idéia muito bacana e decidiu nos linkar ao cotidiano de três pessoas solteiras e ao dia-a-dia de um casal. Tudo isso para mostrar que a tecnologia deve ser utilizada a nosso favor, como uma ferramenta para ampliar nossa rede de amigos e informações, sem ficarmos tecno-isolados. Lá, além de conhecer a Giuliana, o Bruno e o Ricardo, também serão sorteados ingressos pra baladas, shows, cinema e tudo o que for possível para estimular a continuidade da brincadeira. E mais! Haverá um concurso para escolha das próximas três figuras a participarem do blog. Bóra lá?
Noticias do Joseph Ratzinger Nazistov? Já chegou? Já deu a medalha de santo pro Galvão? O Lula já pagou a lingua que ele tinha na época que era contra as atitudes da igreja católica, do FMI e toda aquela pataquada de “inimigos” da cartilha esquerdista? Zezinho Nazistov já tagarelou alguma besteira conservadora ou ainda é cedo? E o trânsito? E a pagação de mico em Aparecida do Norte como é que está? Tô enfurnada em casa trabalhando… Tá punk.
Ontem a noite vi esse pinguim pra vender na Tok Stok e o achei a cara do Papa. É ou não é? Já até apelidei ele de Bento. Na loja de Brasilia tinha um que era inteiro preto, mas acabou. Tinha planos de comprá-lo e escrever nos pés do bicho: “Luke, eu sou seu pai.”. Se não voltarem a fabricar o pinguim neguinho, vez em quando vou pintar o Bento com canetinha preta só pra ele virar Darth Vader e mostrar que manja tudo de lado negro da força.
Ajudando você a discutir a relação:
– O que tanto você anota nessa revista?
– Pesquisa… Pra eu saber se estou ou não preparada pra casar.
– …
– Quer fazer também?
– Não, não… Melhor não.
– Ah, só uma… Você acha que o desejo aumenta após o casamento?
– Anram… Desejo de matar, desejo de morrer…