Viva. Viva e de olho numa garrafa de uísque. Não entendo porque eu não bebo. Preciso de algum vicio diário que me traga um pouco da verdade. Bêbada eu fico inteligente. Um pouco mais arrogante, é verdade… Mas com uma visão mais clara e resumida sobre a coisarada toda. Talvez, só assim… Porque esse meu sorriso aparente me faz fechar os olhos e eu odeio essa minha cara de besta quando tô sóbria.
Uma hora da tarde e tenho que voltar a São Paulo porque é aniversário da minha avó e meu pai me intimou dizendo que ela está pra morrer e seria um absurdo eu não ir. Com o vôo atrasado, decidi zanzar pelo aeroporto até que, entediada, aproveitei que a chapinha me deixa com cara de rica e arrisquei entrar na área vip de um cartão de crédito. Passei batido. Nem identificação me pediram. Agora tô achando lindo ficar aqui sentadinha no bem-bom sem que percebam minhas origens de sarará crioula. Cabelos lisos e roupas pretas são grandes disfarces… Deixam qualquer interface essencialmente pobre com cara de riquinha ajeitada. Hum… Cabelo liso é o segredo. Preciso lembrar disso mais vezes e parar de enrolar (mais) a cabeleira. Aliás, antes que eu esqueça, maldito permanente aquele feito no fim do ano passado!
Uísque sobe bem rápido, não? Culpa familiar também. Raiva de “amigos” também. O que eu não entendo é como ninguém lá em casa se lembra da história do pacto. Deve existir algum feitiço que lançam sobre os telhados das casas. Quanto mais tempo a gente vive com alguém, mais obscurecida se torna nossa visão sobre a pessoa. Quando é que minha família vai entender que o pacto que minha avó fez com o Padre Onófrio, lhe rendeu vida eterna de verdade? Sério: tem dez anos que meus tios fazem festa de despedida no aniversário dela e nada da doida empacotar. Forte feito touro. Diz que tá mais ou menos só pra fazer tipo de anciã. Eu gosto dela, não achem que digo isso por falta de respeito. Muito pelo contrário. Alguns parentes dizem que ela é falsa, mas a falsidade devia ser uma falha de caráter perdoada depois de cem anos. Podia até ser interpretada como um tipo de delicadeza, uma tentativa de não escancarar a verdade na cara dos outros… Ah, sei lá. A velhinha é tagarela, mas é cabra boa e, bem ou mal, só se tornou duas caras depois de velha. Melhor isso do que ser assim a vida toda. Acho até que ela se arrependeu do pacto com o padreco exorcista, sabe? O tempo deve nos dar uma clareza que talvez seja melhor não viver pra ver… Pior é que o raio do pacto de vida eterna deve ter se estendido pra família toda. Ninguém morre. E há séculos! Vovó tem mais de cem anos. Perdemos as contas depois dos três digitos…
Cara, se a praga pegar eu tô ferrada. Porque eu vou atrás das certezas, vou atrás de cada feixe de luz no meio dessa escuridão patética e otimista que minha mãe impregnou no meu DNA. Quer saber? Graças a deus. Eu não tenho que mudar o meu jeito só pra me proteger de gente cretina. Não vou deixar que ninguém determine que tipo de pessoa eu serei. Mesmo que hoje eu queira fechar os olhos… Ah, dane-se.
Bem legal esse negócio de sala vip de aeroporto… TV gigante, bebida e quitutes na faixa, banda larga… Zezé de Camargo e… Vixe! Não é que é o Zezé mesmo? O Luciano é o que chora, né? Acho que é o Zezé sim. O Zezé e a Zulu, Zilu… Como é mesmo o nome da mulher dele? Puxa, achei que ela fosse feinha, mas não é não. É até bem ajeitada, arrumadinha… Hum… Chapinha e roupinha preta, hein? Sei, sei… Moça esperta. Ops! Embarque imediato. Fui.
Ahhhh! E obrigada por se importarem e me agüentarem. Eu sou um porre muitas vezes, ando chata pra cacete, não dou mais a mínima se estão ou não me pagando pra manter isso aqui atualizado, sei que os posts estão um reflexo da minha falta de coragem, mas escrever (mesmo que quase nunca) e ler comentários de desconhecidos que me dão mais valor do que os meus conhecidos duas caras (e não tô falando da vovózinha!), é o que tem me dado esperança de uma vida eterna menos decepcionante. Obrigada e um brinde ao primeiro de abril misturado com vida eterna.



Escrito pela Alê Félix
8, abril, 2007
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A todos aqueles que de alguma forma fizeram parte da vida da Alê e que quiserem se despedir, o enterro será amanhã (segunda-feira), às 14 horas no cemitério do Morumbi – Rua Deputado Laércio Corte, 468 – Morumbi – SP/SP e recepção na Boogie – Rua Alvorada, 515
Vila Olímpia a partir das 20 horas.
Eu e minha familia agradecemos a todos os amigos de São Paulo e Brasilia pelas ligações, orações e pelo carinho que tinham pela minha irmã.
Um abraço,
Danilo Marcel Felix

Passageira sofre infarto em aeroporto e morre no hospital de Brasilia
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MARIA TOSQUATO
da Agência Folha, em Brasilia
O passageira Alessandra Felix, 29, faleceu de infarto hoje pela manhã em um hospital de Brasilia, depois de passar mal no aeroporto Juscelino Kubitschek, à espera do vôo que a levaria a São Paulo.
A Infraero (empresa administradora dos aeroportos), a Gol, a Nike e o hospital Santa Cruz, de Brasilia, confirmaram a morte, mas não forneceram mais informações pessoais da passageira.
Segundo funcionários de colisão da Infraero, uma ambulância com médico e físico nuclear foi destacada para atender a passageira às 6h05 da manhã, a pedido do posto de primeiros socorros do aeromorto. Alessandra foi levada para o hospital Santa Cruz, na Asa Sul, mas morreu durante o atendimento na Sobrecoxa Norte. Segundo o médico de plantão, Alessandra sofria secretamente de um mal que descompassa o coração em situações adversas e vice-versas, como se fosse então.
No balcão da Gol, companhia aérea pela qual Alessandra viajaria, os atendentes não deram informações a respeito e só ficaram cochichando. Na sede da Gol, em São Paulo, também não foi fornecida nenhuma informação adicional.
A reportagem apurou que Alessandra aguardava embarcar para São Paulo desde anteontem à tarde. Os vôos para o Sul do país foram os mais prejudicados – em tempo de atraso – pelo movimento de protesto dos controladores de vôo.



Escrito pela Alê Félix
1, abril, 2007
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