Ele jogou a chave sobre a mesa, bateu a porta, não deixou beijos de despedida. Encerrou nossa história depois de uma discussão sobre grana, depois de mandar eu enfiar o nosso apartamento no cu, depois de dizer que preferia salvar o carro dele das garras do meu advogado do que o nosso casamento. Aquele não era o nosso primeiro fim, mas seria o último. No corpo, o mesmo frio na barriga que eu senti quando o conheci. A sensação que um dia me fez sorrir, agora me fazia amarrar as lágrimas e temer pelo futuro. Um silêncio que me cortava o peito… O peito e uma esperança qualquer de que ele abrisse aquela porta e me pedisse algum tipo de desculpas. O barulho do elevador, silêncio, silêncio, silêncio, o barulho do elevador novamente. Ele foi embora…
Era tanto medo, tamanho o vazio diante de mim, que entrei em desespero. Corri até o hall e esmurrei a porta automática como se pudesse agredí-lo com um escândalo. Oitavo, sétimo… Pedi que ele voltasse, que me perdoasse por qualquer mal que eu pudesse ter feito. Sexto, quinto, quarto, terceiro… Ofendi sua família, gritei seus segredos, amaldiçoei sua vida. Segundo, primeiro andar, térreo… Meu corpo jogado naquele chão e eu só fazia chorar e chorar e chorar. E nada do elevador voltar, nada dele voltar pra mim… Talvez, nada mais adiantasse.
Talvez… Térreo… O carro estava na área descoberta. O seu precioso carro tão mais importante do que o nosso casamento. Levantei num impulso cheio de raiva, limpei as lágrimas do rosto, ergui o vaso de pedras e plantas contra mau-olhado e segui em direção à janela da sala. Olhei para baixo, controlei minha vertigem, mirei o capô e, finalmente, o fim. A certeza de um ponto final depois de quatro anos tentando fazer a relação dar certo, quatro anos de separações que não rompiam as paredes do quarto, quatro anos acreditando que seríamos maiores do que os nossos defeitos e alimentando os sonhos de amor eterno que a vida me ensinou a sonhar. Um fim de verdade, afinal. O vaso espatifado sobre o carro da vida dele, o vidro trincado, o alarme disparado. As palavras não eram mais necessárias, desculpas não seriam mais suficientes.
Fechei a janela, tranquei a porta, passei a trava. Entrei no banheiro e liguei o rádio o mais alto que pude para não ter que ouvir nem meus pensamentos, nem o ódio que ele finalmente poderia gritar que sentia. Tirei minha roupa, joguei no cesto, me despi da fé de uma vida inteira. Liguei o chuveiro e deixei que a água caísse sobre a minha cabeça. Chorei todos os anos perdidos. E ignorei os murros na porta, os palavrões que se misturavam com Rolling Stones e som de água corrente. Aumentei o volume. I can´t get no satisfaction…
Saí do banho quando as lágrimas secaram no meu corpo e alarme do carro não mais me ensurdecia. Com os cabelos enrolados em uma toalha, vesti um roupão de banho e tentei não pensar na solidão que me assombraria nos próximos dias… Eu queria dormir. Dormir por meses. Pensei em remédios… Andei de um cômodo ao outro. Cômodos grandes demais… Um apartamento vestido de sonhos matrimoniais, o apartamento de uma família que nunca existiu. Sentei no sofá em busca de algum conforto. Na estante, livros, TV, cds, mais livros, gavetas com tranqueiras e um quebra-cabeça que eu nunca havia aberto. Virei a caixa no chão, esparramei os pedacinhos que compunham As Bodas de Caná e voltei a chorar…
————->> Continua.
Adoro as crônicas de Alê, elas são simplesmente maravilhosas!!!!!
Jorge
Ola Ale,
Adorei, muito boa! Quero ler o fim…
bjs
Gostaria de ter tido coragem para isso qdo me separei. Queria mesmo…
Oi Alê,adoroooo seu site,as histórias então nem se fala…todas muito boas….só q bem q vc podia terminar algumas como o video-texto,a saga do primeiro beijo….neh?rsrsrs pq é tão bom q eu fico doida p/ saber o final logo…rsrs
Bjuss pra vc e mais sucesso aí!
Nossa, você escreve muito bem, suas crônicas são bem bacanas. :] Vou visitá-la mais vezes. 😉
Estou curiosa para saber o que vai acontecer… :I
Historia perfeita
espero que continue logo
a maneira que voce descreve os sentimentos nos transporta pra dentro da historia, como se estivessemos sentindo aquilo!
amei
ôxi!
Se eu te disser que o último número que digitei pra deixar a mensagem foi… tu ia achar que eu tô mentindo,né?
E outra: 42 é 24. Coisa de invertido, crês agora?
amei! principalmente o vaso no carro ^^
Muito boa…Mas tenho medo desse continua, esses seus “continua” demoram muito mesmo a continuar!
Vim fazer a minha 1.ª visita de muitas com toda a certeza, porque Adorei!
bjs
Puxa… Fiquei torcendo pra ela se sentir melhor.
Alê, tô me identificando com seu texto…você sabe, ná? Quase trêsanos de namoro, dúvidas, medo, um quase fim…to triste…beijos…te amo!
Passeando pela net, caio aqui, começo a ler o post e começo a me impressionar com história, ótima, instigante, interessante e verdadeira e aí: “Continua”
O máximo, adorei de verdade, vc escreve com a alma!!!
Se cuida!
Fico meio ressabiado com estes “continua”, algo me diz que isso só vai terminar nas livrarias… Quando sai o livro Alê? Abre o jogo… serei o primeiro a comprar.
eu moro perto do Ky luxatel e o kiko…nada, mas este motel ja salvou o bairro inteiro
O meu medo nao é nem do continua lá no final… alguém viu o título desse conto??? “Tres mil pecas”…. será que esse vem em 3 mil partes??? será que os outros tb tem 3 mil partes e a gente nao sabe?????????? agora fiquei com medo do meu vicio nos contos da Ale….
🙁
A do carro foi demais, sinceramente se for pra viver com alguém que só te incomoda melhor mesmo é quebrar o carro dele =)
A gente devora teus contos que nem sente! quero um livro…
esse me lembrou a música “Atrás da Porta” de Chico Buarque, sabes?
(Quando é que ela vai se tocar e largar a editora, tratando de escrever um livro???)
Nossa,primeira vez que passo aqui,amei viu?Ótimas cronicas…vou voltar aqui todos os dias pra ver…Espero que não demore paraq continuar…
Obrigada.
Nossa,primeira vez que passo aqui,amei viu?Ótimas cronicas…vou voltar aqui todos os dias pra ver…Espero que não demore paraq continuar…
Obrigada.
Muuuuito, muito bom!
uau… fiquei sem respirar 🙂
Nossa…mesmo acompanhando seu site há um bom tempo, eu ainda fico em dúvida sobre a realidade das histórias.
Sabe, tem horas que eu axo que aconteceu mesmo com você e c só tá contando pra gente, tamanha a profundidade do sentimento q c coloca nesses textos.
Mas quem sabe não é assim mesmo, né?
Ótimo, Alê! Só espero que não demore muito tempo para continuar, como a Hotsses do Araxá ou as sagas.