Os filhos que eu estou me recusando a ter, hoje, me enlouquecem mais do que seria possível se eles tivessem vindo ao mundo (não, não pense que estou assumindo algum aborto. Nunca precisei fazer um. E não que não o faria se achasse necessário. Os acidentes nunca aconteceram, eu sempre morri de medo de engravidar e sempre fui meio neurótica com sexo sem proteção. Então, não tinha mesmo como rolar… Acho. Ou foi isso ou minha brincadeira de dizer que sou estéril é real.).
Engraçado, logo depois de ler seu comentário eu tive que sair para fazer uma endoscopia (pra variar, meu estômago). Antes de qualquer procedimento médico, a atendente queria saber onde estava meu acompanhante (é impossível fazer uma endoscopia sem ter alguém pra carregar você pra casa depois do exame). Eu disse que ele estava estacionando o carro e ela perguntou o grau de parentesco que havia entre nós. Respondi, ela anotou no prontuário e não parei mais de me perguntar o que aconteceria se eu estivesse sozinha, se não pudesse dispor do tempo de alguém para me acompanhar em uma hora dessas e, pra piorar, pensei sobre o que você escreveu. Me vi velha, abandonada pelos parentes, louca da alma e da cabeça, com o coração vazio(como sempre me imagino quando penso sobre o pior do futuro) e, dessa vez, sozinha na sala de endoscopia. Sozinha e sem ninguém para me guiar depois do exame (sim, porque eu sei que vou ter que fazer endoscopia a vida inteira e se eu ficar velha solitária não vão me deixar fazer exame nenhum.). E tudo por não ter coragem de colocar outras pessoas no mundo…
Foram minutos de horror que duraram pouco graças ao baque do liquidinho rosa abençoado (eu adoro a sonolência que aquela coisa dá. Só aquilo pra me fazer esquecer do que a minha vida pode, um dia, vir a ser.).
Não sei o preço que eu vou pagar por essa resistência a filhos, mas sei das estranhezas que ela tem me causado nos últimos anos, dos surtos esporádicos, das dúvidas infinitas e da tristeza crônica que ela gera. Sei o quanto tem sido difícil arcar com a decisão de me rebelar contra minha natureza, meu corpo, contra as coisas que eu desconheço. Não sei mais se estou certa como sempre achei que estava. Ainda sinto meu egoísmo transbordando quando penso que preciso de uma outra vida para dar sentido a minha. Não acho justo. Por mais alto que meu útero grite, não acho justo.
Não faz muito tempo me vi soluçando feito adulto que engole o choro, só porque tinha mexido no email-me e escrito (sem querer, sem pensar) que já me peguei pedindo para que o destino deixasse algumas de suas crianças na porta da minha casa. “Algumas” foi a única parte do pensamento que me fez parar de chorar para rir um pouco de mim mesma. Questiono meus genes, temo pela escolha paterna, tenho total desprezo pelas crises de origem familiar que grande parte dos adotados custumam ter e rezo para ter a chance de criar não uma, mas “algumas” crianças (mesmo que elas não fossem minhas de sangue, mesmo que elas crescessem e surtassem com as crises estúpidas dos adotados).
De verdade eu me odeio nessas horas. Eu sei que seria uma boa mãe. Não dá pra ser uma mãe ruim depois que inventaram o Discovery Health. E eu adoraria ter filhos… Alguns filhos, uma renca de filhos. Adoraria ter o Thor, o Odin, o Bragi, o Apollo, a Gaia, a Vênus e a Alethea (toda garota pensa nos nomes. E que culpa eu tenho se o meu ego me faz preferir criar deuses? Me deixe!) E talvez eles fossem realmente a minha salvação, mas, nunca deu pra arriscar. Acho que é porque eu não suportaria saber que eu lhes daria a vida, mas não teria como evitar que eles conhecessem a morte. Acho. Acho mesmo sem querer achar mais nada sobre essa história de ter ou não ter filhos.
De qualquer forma minha querida Julie, teu conselho é um ótimo conselho para mulheres que queiram manter a sanidade, a casa cheia e garantir que sua endoscopia seja feita. Obrigada por querer o meu bem, mas algo me diz que meu tempo acabou.
E você ainda não me mandou os dados do FTP para a instalação do plugin de aprovação nos comments.
Faltou o Loki, o Artaxerxes, o Zambravio e Flipperson.
Puta complexo de Baby Consuelo esse seu, heim!
Agora entendo o porque do desejo do R.D. de não ter filhos! 😉
puxa, parece que você estava falando de mim, e não de você. Ainda não sei como resolver isso, mas pelo menos saber que não estou sozinha nessa heresia de não querer filhos, não saber se quero, não querer saber ainda…
por enquanto adoção é meu melhor plano. Mas também não quero ficar falando disso agora.
Acho que qdo vc encontrar alguém tipo ‘o pai dos meus filhos’ essa crise vai melhorar. Ou não! Talvez piora de vez…
Se vc não quer engravidar, pq não adota alguém mesmo? Existe muita criança abandonada na rua e em orfanatos, que ficariam muito felizes de encontrar uma mãe, mesmo que não seja de sangue!
Mas, como diria a minha mãe: isso tudo é medo de parir?
Meu problema não é somente o parto, mas as crianças mesmo. Você não é a única a ser assim. As pessoas falam que é porque sou nova (você só tem 20 anos, como se eu fosse uma criança de 2), mas nunca tive o sonho de casar e ter filhos.
Não vou comentar na íntegra.. nem acho que to em posição pra isso xP Mas como a geração internet é constituída por palpiteiros, e não formadores de opinião, se tivesse um bolão, eu daria meu voto de confiança nas suas possíveis habilidades maternas.
Independente de qualquer outra coisa, a sua consciência, esclarecimento e incrível “desencanação” para falar o que passa pela cabeça da forma mais espontânea possível já te garantem uns bons degraus na minha escala de conceito 😉
Além do que, fazendo um mini-flash back, lembro de um post em que você dizia que é contra quem tem filho só para garantir uma aposentadoria saudável. Acho até pouco provável você entender o quanto respeito quem pensa assim; e, excluindo esse e a tentativa de salvar um casamento da lista de motivos para se criar um ser humano, não posso pensar em qualquer outro que não seja por si só mais do que suficiente para me fazer apostar na futura mãe 😉
Fui prolixo? xD
Hm… quando vc chegar a uma conclusao definitiva e redentora, me avise, por favor? Obrigada. 😛
Do ano passado:
Churrasco na semana santa – não sou só eu…
Rá!
Outro dia perguntei porquê será que os cristãos não comem carne na sexta-feira. Católicos, mais precisamente, na sexta da semana santa. Mas se não sou o único de família católica que come churrasco na sexta, também não sou o único que não faz a menor idéia do motivo, veja só o que eu roubei do Amarula Com Sucrilhos, a autora pesquisou e ouviu:
– A gente come peixe na sexta pra poder comer chocolate no domingo, oras! Redução de calorias, amiga!
– Ah, nem me pergunte! Páscoa e carnaval são duas datas sem noção. Nem o dia certo do feriado a gente sabe, quanto mais porque é que não pode comer carne.
– É lobby da galera que vende bacalhau, Alê! Maracutaia do povo da Noruega. Pode acreditar que aí tem!
– Só sei que é pecado…
– Porque a pergunta? Você pode comer carne o ano todo. Um dia que é proíbido e você já está reclamando? Custa deixar de comer uma vez na vida? Você é do contra mesmo, hein?
– Não pode porque não pode. E pára de ligar aqui pra fazer pergunta difícil!
– Pecado. Mas no seu caso, um a mais, um a menos….
– Sabe que eu não sei, menina? Mas eu só como o que me dão, mesmo…
– Tem um lance de pecado, Judas, traição, ressurreição, multiplicação de peixes… sei lá! Por quê? Você não gosta de bacalhau?
– Porque eu não quero ir para o inferno.
– Porque é melhor assim…
É, não sou só eu!
Lembra?
Pq seu tempo acabou? Vc morreu? Não tem mais útero? Até uns 40 anos dá pra parir de boa, só que os riscos aumentam e vc teria que ter cuidados mais especiais, só isso.
Adotar é uma idéia legal e vc pode pular a pior parte dos bebês, aquele lance de fralda e afins, ficar com uma criança já grandinha, que fale, que use o banheiro, essas coisas.
E apesar do trabalho que filho dá parece que é legal, afinal minha amiga tem acho que uns 9 irmãos, de idades variadas e era pra serem 15… Deve ter alguma coisa muito recompensante nisso.
Eu tenho medo de ter filhos e não é medo de parir. É medo de ser ruim, uma mãe terrível, de não poder dar uma vida boa pra eles. Mas parece que esse medo é normal. Só dá pra saber testando, espero que vc teste primeiro e me diga (rsrsrs).
oi,
eu tenho uma filha, foi um pequeno “acidente”, mas ela hoje é a melhor coisa da minha vida.
Sentir ela mexendo aqui dentro da minha barriga foi MUITO bom, parece que eu sinto até hoje…(ela já tem 4 anos), sem dúvida ser mãe É a melhor coisa do mundo e hoje quando eu chego em casa e ela fala: mãe, eu te amo! depois de um dia super estressante eu tenho a certeza de que esse “acidente” chamado Vitória foi meu maior presente!
Espero que vc tb sinta isso um dia.
Um beijo
Menina, tinha tanto tempo que eu não vinha aqui, que tinha esquecido o quanto é bom! Ai, ai, ai! Tem que vir aqui todo dia!
Oi Alê…Só pude passar agora para ler seu blog e eu adorei o post…acho que é porque tem meu nome e eu sou um pouco egocentrica, mas não esperava que vc fosse responder com um post tão tocante…É Alê…me emocionei com o post…Ter filhos não é a solução para vida de ninguém mas acho que vc seria boa mãe…vc cuida tão bem dos seus sobrinhos e nunca é tarde Alê…nunca é tarde…tudo bem que quando a natureza faz com que a hora passe, mas a ciencia esta cada vez mais trapaceando a natureza….adotar é sempre uma boa opção… as pessoas não gostam muito, mas é bom dar carinho para alguem que precise…se cuida…beijos…boa semana!!!
P.S=>Dizem que ser mãe é a melhor coisa do mundo!!!Uma amiga da minha irmã acabou engravidando e só descobriu qdo estava com 7 meses…nem deu para curtir e ela fala que é indescritivel…só sendo mãe para entender
Filhos não são, decididamente, a única resposta. Tampouco são certeza de companhia. Se assim fosse, não haveria tanto velhinho abandonado em asilo, confundindo qualquer jovem de boa vontade com o filho que não vê há anos.
Interessante, essa coisa na vida, de solidão. No fim, somos uma raça que morre de medo de estar sozinha. Não fomos feitos para isso.
A coisa esquisita disso é que nunca estamos realmente sozinhos, salvo quando sofremos. Sempre se é sozinho no sofrimento.
As coisas nessa vida são difíceis de se achar, mas tem algumas que mesmo sendo tão difíceis me fazem pensar algo do tipo: “mas também, se você não procura isso você vai gastar sua vida procurando o que?”, uma delas é alegria de viver. Porque uma coisa me parece muito verdade: você nunca vai estar completamente só se quando você está em um lugar onde não há mais ninguém e ainda assim companhia te agrada.
Bom, se cuida..
Boa semana,
Abraços,
“B”
Alê estava associando algumas coisas que você que escreveu e me ocorreu uma coisa e desculpa se a pergunta for demais indiscreta…mais você e o seu marido se separaram?????????
Velhos? Se tivermos sorte, todos ficaremos. Sozinhos? Com sorte, ficaremos sozinhos apenas quando queremos. Acredito que enquanto houver seu blog, você nunca ficará totalmente sozinha.
Mas, filhos, ah, os filhos, não desista deles assim…Dê-lhes uma chance, e à você também…Toda mãe tem medo, antes, durante e sempre, é o medo que nos torna tão iguais…Mil beijos e boa sorte na cirurgia!!!
Menina, que porrada de texto, tá lindo.
Alê,
Desencana, fia! Ter filhos deve ser a cosa mais fantááástica de todos os tempos – o único problema é: quem será(ão) a(s) mãe(s) do(s) meu(s) filho(s)?
Mulher é bom, mas encontrar aquela que vá me agüentar (e conseqüentemente, que me agüente) é uma possibilidade em mil de ganhar a MegaSena sozinho 10x seguidas! 😛
E eu também preciso aprender a usar meu cérebro pra fazer dindim pra sustentar essa tão sonhada galera…
…Eu sempre viajo imaginando uma moreninha linda como o pai chorando e chupando bico enquanto eu tô deitado assistindo TV no chão da sala. Aí, eu abraço, beijo, aperto aquela princesinha olhando no fundo dos olhinhos dela, alisando o cabelo e digo “Filhinha, o papai tá aqui. Vai passar… Eu não vou deixar nada te machucar!”
Também tem a do gurizinho – esse vai ter o meu espírito, mas vai ser bem diferente ao mesmo tempo (só não pode ser conservador, direitista nem capitalista selvagem – senão, mando pra FEBEM – sou tão flexível que pode até ser colorado e ter religião!). Bah, jogar bola com ele no Parcão ou na Redenção vai ser tudo de bom: ele corre pra bola ainda todo desengonçado; aí, eu me atiro pra defender com atraso e ele grita GOOOOOLLL!!! Aí, eu abraço, beijo e rolo na grama com ele!
Mais adiante, na adolescência, tenho certeza de que vou ser um dos raros pais que não vai ter filhos “aborrecentes”, pois eu vou ser parceiraço deles. Uma das minhas outras viagens é pôr som na festa deles na nossa casa – sabendo o que faz, podem beijar na boca, trepar no banheiro e tomar um tragoléu. É só usar camisinha, pílula, não vomitar e nunca deixar ninguém fazer consigo o que eles não querem.
Um dia, ainda vou dançar Candy com a minha filha e surfar com o meu filho.
Dentre tantas coisas boas na vida, essa é uma das melhores – podes ter certeza! 😉
Besos,
Hélio.
Mas você sabe que cuidar dos seus sobrinhos-netos, a Vanderleia e o Erasmo Carlos vai fazer com o pai deles, o Vinicius, seja sempre companhia para a Tia Alê na endoscopia.
🙂
E essa maldição foi reforçada por mim por não ter havido o churrasquinho-pagão nesta sexta-feira, e tive que comer um cheese-churrasco-egg na padaria para manter a tradição.