12 de Junho de 1990 – Fugindo do Corcel II
– Pé na tábua, Zarolho!
– Tá vendo? Culpa de vocês que ficaram buzinando na minha orelha.
– Essa é boa… Você é o louco arremessador de ovos e a culpa de uma das suas vítimas te perseguir é nossa? Se liga, Zarolho!
– E quem é você Marilu pra falar de mim?
– Ahn? Desenvolve…
– É isso mesmo! Quem aqui tem moral pra me incriminar?
– Ninguém está dizendo nada Zarolho. E se concentra nesse volante! Se concentra porque o cara do Corcel está colado na gente.
– Não se mete, Alê! Vocês estão dizendo sim. Vocês sempre dizem. Estão sempre sacaneando alguém, sempre se divertindo às custas dos outros,
inventando apelidos…
– Vocês, vírgula!
– Vírgula o escambau, Alessandra! Você também.
– Eu também o quê? Pra quem eu dei apelido?
– A Maria dos Pacotes serve como exemplo? E nem tente chorar!
E eu quase chorei… Só de lembrar da Maria eu chorava. Não pelo apelido. O Zarolho sabia que não tinha nada a ver com o apelido. Mas ele estava com
raiva e machucaria qualquer um de nós para se defender. Fiquei quieta e deixei ele falar. Ele sabia que naquela noite a Maria dos Pacotes era o meu
ponto fraco. Não valia a pena discutir.
– Vocês acham que eu não sou capaz de arranjar uma namorada sozinho, que eu nunca transei com ninguém, que nenhuma garota me dá bola… Mas e vocês,
hein? E vocês?
– Não viaja, Zarolho…
– Você principalmente, Ivo! Fala, fala, fala, mas quantas namoradas você já teve? Hein? Quantas? Diz aí! Você se acha o máximo, mas não passa de um
mané. Deu uns beijos na Cacilda quando era pivete e namorou a Juliana. Mas só porque ela morava em outro estado e você ainda era um cara que tomava
banho. Depois dela, você ficou tão abestalhado que só conseguiu ficar com a Patrícia. Mesmo assim levou um pé na bunda em menos de um mês…
– Não foi bem um pé na bunda…
– Não, não foi. Foi nojo mesmo.
– Ah, vá! Que nojo, que nada. Você tá por fora, Zarolho. A Paty curtia minhas brincadeiras.
– Brincadeiras que toda garota tem nojo.
– Porque mulheres não tem senso de humor, só por isso.
– Ivo, não mistura as bolas. Uma coisa é ter senso de humor, outra coisa é descobrir que o idiota do namorado fica testando os ditados na hora do
recreio.
– Vocês acham o quê? Que ela terminou comigo só por causa daquilo?
– Eu não namoraria um cara que fica cuspindo para o alto para ver se o cuspe realmente cai na testa. Nojento…
– E o dia que ele levou um ferro pra escola? Lembram?
– HAHHAHHAH…. Quem com ferro fere, com ferro será ferido…
– O dia em que vocês, mulheres, perceberem as vantagens de namorar um homem que as faça rir, deixarão de ser tão chatas. Olha você Marilu!
– Eu o quê, Ivo Augusto?
– Você era legal. Aí começou a namorar o mala sem alça do Kiko, começou a levar a sério esse negócio de namoro e olha o que deu? Perdeu a graça.
Nunca mais foi a mesma, nunca mais deu show na caixa d’água do colégio…
– Ivo, me esquece, ok?
– Mas aí eu sou obrigado a discordar de você, Ivo. O Kiko salvou a Marilu das trevas, da chuva de enxofre, do caminho da perdição…
– Voadora, porque você não aposenta esse seu lado Nelson Rubens e não libera de uma vez por todas essa franga adormecida que existe dentro de você?
– Opa! Opa! Pega leve aí, sua louca!
– Olha aqui menino, eu só tenho uma coisa pra dizer pra você: Não se reprima, não se reprima, não se reprima…
O clima estava tenso. Por um segundo, achamos que o Voadora e a Marilu iam brigar de verdade. Lembrar o Voadora do seu passado Menudete sempre dava
briga. Estávamos nervosos, o papo pesado, o velocímetro aumentando, o pombinho do Corcel acelerando em busca de vingança e o Ivo… O Ivo quebrou
todo o clima aproveitando a deixa da Marilu e cantarolando o resto da música…
Por isso canta, dança, sem parar… Sobe, desce, como quiser… Sonha, vive, como eu… Pula, grita, oh, oh oh… Caraca, não é que eu ainda
lembro dessa droga de música? Como era mesmo o resto? – Não segure muito seus instintos porque isto não é natural… Saiba que o sangue fala ao
contrário, muito forte, quando quer evitar!

– Está errado…
Vá em frente entre numa boa porque a vida é uma festa… Não controle, não domine, não modere tudo isso faz muito mal…
… Deixe que a mente relaxe e faça o que mandar o coração…
– Pô, a letra era bacana, hein? Se eles não fossem tão viadinhos…
– Ah, eles eram bonitinhos!
– Nha, eu preferia o Ray e você? Sem o papo gay, Alê…
… Chega de fugir, de se esconder e de deixar a vida pra depois…
– Não se empolga Voadora! Dançar já é demais…
… Não pense demais, o mundo gira, o tempo corre e nada vai te esperar. Entre de cabeça nos teus sonhos, só assim você vai ser feliz…
Era engraçado cantar Menudo naquele momento. Alguns de nós diziam que não gostavam, que era horrível, mas um cantava um pedaço e o outro já lembrava
a outra parte. Quando vimos, até o Zarolho estava cantando com a gente…
… Por isso canta, dança, grita, oh oh oh … Não se reprima, não se reprima, não se reprima. Não se reprima, não se reprima, pode gritar. Não
se reprima, não se reprima, não se reprima…

Um minuto de paz e esquecemos da perseguição. Zarolho, mesmo cantando junto, não tirava os olhos do retrovisor e o pé do acelerador, mas o medo de
que o Corcel nos pegasse nem era mais tão grande. Não até que…
– Agora, ferrou! Blitz…
Não se reprima… Boa, Zarolho! Blitz documentos! Só temos instrumento… Amor, pede uma porção de batata frita? Só tem chopes…
– Blitz, galera! Blitz! Blitz polícia, não a banda.
– Anhhhh????
– O guarda mandou parar…
– E agora?
– Ai caramba… O Corcel também está parando.
– Agora danou-se…
Paramos o carro. Ninguém deu um pio. Zarolho educadamente apresentou os documentos e…
– O RG por favor…
– Hum… deixa eu ver… aqui.
Os cinco com o loló na mão, o policial sério, conferindo a documentação e…
– Um Dois Três de Oliveira Quatro? Isso lá é nome de gente rapaz?
———————Continua.
Para ler o Post I, clique aqui.



Escrito pela Alê Félix
19, junho, 2004
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12 de Junho de 1990 – Ainda seguindo o carro do Zarolho…
– Tem certeza que aquilo era um ovo?
– Era um ovo sim, Alê! Olha, lá! Olha o cara com a perna cheia de gema. Acho que acertou a menina também…
– Pára de rir, Ivo Augusto! Sacanagem da grossa o Zarolho fazer isso…
– Marilu, você é engraçada. Manda eu parar de rir e está quase roxa de riso. Se liga, menina! A gente descobre que o Zarolho no dia dos namorados se
transforma em um atirador de ovos e vocês querem que eu veja isso e chore? O cara é o vingador dos sem-namorados! Virou meu ídolo. Eu amo esse
garoto!
– Olha lá! Mais um! Vixe, mais uma ovada… E dentro do carro dos pombinhos!
– Zarolho, enlouqueceu… só pode ser. E agora? Fazemos o quê?
– Nada, ué. Continuamos seguindo o maluco e rindo da cara do povo.
– Nem a pau, Ivo! O Zarolho vai acabar levando uma surra de alguém.
– Na boa, por mais engraçado que isso seja a Alê tem razão. É melhor a gente fazer alguma coisa.
– Fazer o quê, Marilu? Deixa ele!
– Não, de jeito nenhum… Sacanagem deixar ele se estrepar só pra gente se divertir. Pára atrás dele e buzina. Vai, Voadora! Tá esperando o quê?
– Porra, Alê! Deixa o cara!
– Dá aqui que buzino eu!
– Não, Alê! Deixa não, Voadora!
– Já era. Ele viu a gente.
– Não viu, não.
– Que barulho foi esse? O que está acontecendo com o carro?
– Ferrou. Acho que quebrou…
– Putz grila, Voadora!
– Agora buzina! Leva o carro o máximo que você conseguir e buzina tudo que puder, senão a gente tá lascado.
– Deve ser carburação…
– Deve ser um Fiat 147…
– Agora sim ele viu a gente.
– Grita ele aí, Alê.
Abri o vidro…
– Zarooooooolho!
Ele olhou pelo retrovisor, parou a Belina de entregar pães do Seu Manuel e deu ré…
– O que vocês estão fazendo aqui?
Marilu, Voadora e o Ivo com o rabo entre as pernas seguravam a gargalhada no nariz. O Ivo, palhaço que era, não aguentou e soltou…
– HAHHAHAHAHHAHA!
Zarolho, descoberto, nos fuzilava de ódio e vergonha…
– Seus filhos de uma égua! Vocês não tem mais o que fazer, não?
Com lágrimas nos olhos e as mãos na barriga, Marilu mal conseguia respirar…
– Zarolho, convenhamos… Tacar ovo em casal de namorados em pleno dia dos namorados é o máximo da criatividade do mal. Você é um gênio!
– A Marilu tem toda razão… Depois dessa eu juro que não te chamo mais de Zarolho. Prometo que só chamo pelo nome.
Zarolho, odiava o nome que tinha. Preferia a tragédia do apelido, do que a piada de nome que o pai – bêbado e desumano – colocara em sua certidão de
nascimento. Até em revistas de nomes o coitado já havia sido citado. Contando o nome e os sobrenomes no documento, só dava pra salvar o Oliveira. E
ele bem que tentou ser só mais um Oliveira na vida, mas o Voadora – seu amigo de infância – descobriu e botou o nome completo na banca. Ficaram sem
se falar durante um tempo, mas a amizade prevaleceu. Também! Fazer o quê? A infância é uma fase cruel demais para salvar a vesguice de alguém. Não
haveria nome próprio, nem sobrenome de revista que o transformasse no Oliveira. Foi então que ele desencanou, fez as pazes com o Voadora e deixou que
o chamassem do que quisessem.
– Vão se ferrar! Bando de desocupados! Vão seguir a mãe!
Todo mundo morrendo de rir, o Zarolho puto e eu, tensa que era, preocupada com a repercussão daquela omeletada toda. E foi dito e feito. Foi eu abrir
a boca para a maionese desandar…
– Na boa, melhor a gente se mandar daqui e procurar um guincho pra rebocar o Fiat. Vai que alguém que você tacou o ovo…
Fui interrompida por uma voz feminina pendurada na janela de um Corcel II…
– Olha o cara do ovo ali! É ele. Pega ele.
Nunca pensei que uma garota Pakalolo melecada de ovo no pigmaleão meteria tanto medo em nós cinco. Voamos pra dentro da Belina e jogamos nossas vidas
nos pés do Zarolho. O namorado da guria parecia enfurecido e a nossa única salvação parecia fugir… ou rezar.
———————————–>>> Continua…



Escrito pela Alê Félix
18, junho, 2004
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Amanhã termino a história do Zarolho e até o final da semana coloco outro post da saga e do videotexto. E falando na saga do primeiro beijo, sabe com
quem eu conversei esses dias? Vida Alves. Alguém aí faz idéia de quem é a Vida Alves? Dou um beijo na bochecha de quem souber. 😉
Bom, vou tentar dormir mais cedo hoje. Depois eu volto pra responder os comentários, endereçar alguns beijos e escrever sobre a Vida.
Fui.
Respondendo aos comentários:
Ligia, eu não sabia da história do noivo. Na verdade, só soube a história da Vida Alves recentemente em uma feliz obra do acaso. Ainda estou
conhecendo, mas sei que além dela ter sido a protagonista do primeiro beijo da história da TV, foi também a primeira atriz a dar – em cena – um beijo
na boca de uma mulher (Entre Quatro Paredes – Laura Cardoso e Vida Alves). Vida também é escritora e fundadora da APITE – Associação dos Pioneiros da
Televisão Brasileira entidade que visa manter viva a memória da televisão do Brasil. Beijo pra você e obrigada pelo carinho. Quem é o seu irmão?
Fofoleti, sentiu? 😉
André, uma porção de beijos pra você. 😉
Rebecca, farei o possível. Se eu não terminar, pelo menos sai mais um post. 😉
Any, é exatamente isso! Acho. Comigo foi.
Vany, obrigada, obrigada, obrigada. Todas nos fazem crescer. E hoje em dia me pergunto se as aparentemente ruins não são um presente.
Paula, “não sou tão velha assim” pode ter sido uma trauletada no ego de muito coroa. Beijo pra você, menina!
Julio, beijo pra vc também. 😉
Deise, adorei! rs
Equipe Migux, que diacho de nome é esse?
Carol, acho que era isso mesmo. Um beijo, querida. 😉
Isabella, já já. Beijo!
Igor, que pena que não saiu nos comentários o seu “piada cretina”. rs
Gabi, não é incrível? Um selinho.
Karla, o cachorro ficou bem. Maridon teve uma idéia brilhante e conseguiu tirar a cabeça do cão debaixo do portão sem grandes traumas. Essa história
foi tão incrível que merecia um post só pra ela. Salvar o cão, não foi nada perto do que o cachorro fez por nós dias depois. Outro dia eu conto.
Beijo, querida.
Bruna, o X no canto superior direito é a serventia do blog. Beijo pra vc!

Credo, mania besta essa de encher as respostas de emoticons. Eu adoro essas porcariazinhas… 😐



Escrito pela Alê Félix
17, junho, 2004
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Eu só generalizo para explicar melhor. Não se ofenda com o post abaixo. Há exceções, eu sei. E espero que todas elas cliquem aqui e aceitem o convite das Garotas que Dizem Ni.



Escrito pela Alê Félix
16, junho, 2004
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Não sei se alguém lembra de um post que coloquei aqui solicitando doadores de sangue para a mãe de uma amiga. Não lembra? Pois é, além de não lembrar
– se é que você leu – também não deve ter podido doar um pouco do seu sangue. Sabe quantas pessoas, via este blog, foram lá e doaram sangue pra dona
Lia? Duas. Duas das milhares que passaram por aqui naquela semana. Eu entendo que a vida é corrida, que boa parte daqueles que passam por aqui ainda
não completaram dezoito anos e que outra grande parte não mora em São Paulo, mas mesmo assim é de lascar. Não é a primeira vez que eu questiono para
que servem leitores de blogs. Os lançamentos dos livros e festas de alguns blogueiros me faziam acreditar que leitores de blogs eram acima de tudo
bichos do mato. Seres anti-sociais que batiam cartão para ler um blog, mas não tinham coragem de conhecer o autor pessoalmente se ele convidasse.
Depois, naquela semana de doação de sangue, me perguntei se as pessoas não andam com a preguiça maior do que o coração e se não é este o problema.
Tenho a nítida impressão de que o mundo já foi mais solidário. E aí já nem me refiro a leitores de blogs. Hoje em dia parece que estão todos pouco se
fodendo se existe alguém morrendo na esquina de casa. Dia desses, por exemplo, maridon salvou um cachorro que estava com a cabeça presa na ferragem
do portão automático de um prédio. Era noite, umas dez, onze horas, e é óbvio que tentar livrar a cabeça de um cão do esmagamento faz um certo
barulho – principalmente neste horário e comigo tentando avisar o porteiro que ele deveria desligar o portão que ficava indo e vindo e mataria o cão
em poucos minutos. Sabe o que o povo do prédio e alguns vizinhos fizeram? Botaram a cabeça na janela pra reclamar e perguntar se aquilo tudo era só
por causa de um vira-lata. Ninguém mexeu a bunda para ajudar a salvar o cão, assim como poucos mexem a bunda para ajudar desconhecidos.
Dona Lia morreu. Não por falta de sangue. Ela, graças a Deus, pôde contar com os amigos que fez em vida. Mas será possível que estamos nos tornando
seres tão insensíveis a ponto de só ajudar conhecidos? Que merda de sentimento é este que faz a gente ignorar um animal morrendo no nosso portão, o
mínimo que podemos fazer pelos outros e tudo o que acontece do nosso portão pra fora?
As pessoas já foram melhores do que são hoje. Eu já vi e conheci pessoas melhores. Eu lembro. Não faz muito tempo. Só queria saber onde foi que elas
se perderam e quando deixaram de agir com o coração.



Escrito pela Alê Félix
16, junho, 2004
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foi.jpg
Ontem e hoje estive completamente perdida. Ainda não sinto que estou enxergando com clareza, mas acho que já dá pra voltar. Queria um
blog-terapia-secreto nessas horas. E pensar que este já foi um… tristemsn.jpg



Escrito pela Alê Félix
16, junho, 2004
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12 de Junho de 1990 – Começo de noite – Dois atrás, dois na frente, no Fiat 147 do pai do Voadora…
– E se o Zarolho for um dos matadores de aluguel do bando do Zé Laranja?
– Não viaja, Ivo! Ele não teria a confiança do Seu Manuel se fosse bandido.
– Aposto que ele está indo pra casa descansar. Esse negócio dele desaparecer no dia dos namorados deve ser coincidência. Vocês são loucos!
– E você precisa recuperar o humor urgente. Desde que o Kiko viajou você está assim. Uma hora você vai ter que esquecer.
– Alê, menos…
– Rápido, Voadora! Olha o farol, velho. Vai fechar.
– Era o que faltava perder o Zarolho de vista…
– Toma cuidado pra ele não ver a gente…
– Não cola muito na rabeira…
– Mas também não vai nessa lerdeza porque senão já era.
– Pelo visto ele vai longe, hein?
– Bom, pelo menos agora a gente já sabe que pra casa ele não está indo.
– Será que o Zarolho tem uma namorada e esconde ela de nós?
– O dia que o Zarolho arranjar uma namorada, será manchete de jornal.
– Deixa de maldade, Ivo. Toda tampa tem a sua panela.
– Queria saber por onde andam as panelas, viu? Pra todo lugar que eu olho só tem tampa.
– Pior eu, que devo ter nascido frigideira.
– Depois eu que sou a mal humorada… Eu, pelo menos, ainda acredito no encontro das tampas com as panelas.
– É mesmo, Mariluzinha? Então que tal a gente se apertar pra ver se encaixa?
– Não seja nojento, Ivo. Três anos de amizade deveriam ser suficientes pra você largar do meu pé. Eu sou sua amiga, amore. Acostume-se com essa
idéia.
– Homem que é homem não desiste nunca. Nem das amigas.
– Homem que é homem não tem amigas.
– Começou o papo machista…
– É sério, Alezinha! Esse papo de homem com muitas amigas é coisa de boiola.
– Não viaja, Ivo! Zarolho, por exemplo, considera a Alê e eu as melhores amigas dele.
– Caracá!
– O que foi?
– Será que o Zarolho é gay?
– Claro, que não!
– Acho que não… Ele teria contado pra um de nós.
– Duvido! A gente tira sarro de todo mundo. Ele ficaria com vergonha de contar.
– Ele também tira sarro. Uma coisa é zoar os amigos, outra é não confiar. Ele teria contado sim. Acho que qualquer um de nós contaria se fosse gay.
– Eu contaria.
– Eu também.
– Eu só contaria se vocês duas deixassem eu tomar banho com vocês.
– Vai a merda, Ivo!
– Que avenida é essa? Onde esse cara está indo?
– Ele tem amigos ou parentes nesse bairro?
– Que eu saiba não.
– Eu também não sei.
– Por que é que ele passa tão devagar perto dos pontos de ônibus?
– Tem traveco por aqui?
– Ivo, dá um tempo!
– O que é aquilo? O que ele está fazendo?
– Parece que vai pedir informação…
– Um ovo! Um ovo! Tem um ovo na mão dele!
– Meu! Zarolho, cheirou cola? Que foi aquilo?
– Acelera, Voadora! Acelera! Vai perder ele de vista.
– Que foi que ele fez? Eu não vi!
– Ele tacou um ovo no casal? Foi isso?
– Olha lá, olha lá! Tacou mais um!
– Em outro casal!
– Cara, Zarolho pirou! Tá lascando ovo em tudo que é casal de namorados…
– HAHHHAHAHAHHAA!
——————————–>>> Continua, mas acaba logo.



Escrito pela Alê Félix
13, junho, 2004
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Fim de tarde – 12 de Junho de 1990 – Entediados, irritados e cuidando da vida alheia…
Que o Zarolho trabalhava todo santo dia na padaria do Seu Manuel, todos nós sabíamos. O que ninguém sabia era onde é que ele se metia no dia dos
namorados. Aquela era a única data do ano que ele pedia para sair mais cedo do trabalho. E nenhum de nós da turma entendia porque.
– Não é possível, Voadora! O cara nunca teve uma namorada, disputa há anos o título de mais-feio-do-mundo com o Boca-Lôca e…
– Ah, pára Ivo! O Boca-Lôca, nem é tão feio assim.
– Concordo com a Marilu. Boca-Lôca não é feio, não. O que ele precisa é de uma namorada para ensiná-lo a pentear aquele cabelo. Só isso.
– Alê, você é suspeita. Depois que ficou com o Napão, não tem
mais moral nenhuma pra falar de beleza.
– Ai, ai… Voadora, vem cá meu nego. Vem cá e presta atenção desta vez: me esquece, belezura! O Napão dá de dez em qualquer um de vocês. Além do
mais, você pensa que está podendo, mas não está com essa bola toda não, viu?
– Lindona, olha aqui… olha aqui… Percebeu a cútis? Eu sou um pão, minha filha!
– Pronto, começou… Bom, antes que vocês dois comecem a brigar, a gente vai ou não vai seguir o Zarolho?
Ouvimos a pergunta da Marilu e olhamos mudos um para o outro. Parecia maldade seguir o Zarolho só de curiosidade, mas ele estava pedindo. Aquele era
o terceiro doze de junho consecutivo que ele sumia sem explicações. Nunca na vida dele houve uma namorada, uma paquera, um teretetê mal resolvido,
nada! O rapaz não saía da padaria. Ele era mais do que um funcionário dedicado; seu único tesão parecia ser a arte de fazer pães. Por que então, só
naquela data, ele quereria uma meia-folga?
– Eu não sei quanto a vocês, mas eu vou. Estou solteiro mesmo…
– Com essa cútis e solteiro, Voadora? Uau! Inacreditável! Como conseguiu esse feito?
– Do mesmo jeito que você não consegue segurar um namorado por mais de seis meses.
– Pra mim deu, moçada. Não vou passar a noite com esses dois se alfinetando. Já é deprê demais sobreviver às cobranças dessa maldita data.
– Oh, Marilu, minha loira… Se o problema é um namorado pra hoje, eu sou todo seu. Pode usar e abusar do meu corpinho até o sol raiar. Pode até me
chamar de Kiko que eu não ligo.
– Se liberta, Ivo… E se falar do Kiko mais uma vez eu quebro seu nariz.
– Uhhh! Esse seu lado “justiceira violenta” me deixa louco…
– Olha, lá, olha, lá! É o Zarolho. De novo saindo mais cedo… Não falei? Tem coisa aí.
– E então? Vamos ou não? É agora ou nunca.
– Mas ele está de carro… Como é que a gente vai seguir o cara?
– Eu tô com o carro do meu pai.
– Eu não posso voltar tarde…
– Ele não deve ir longe. Acho que é jogo rápido.
– Então, estamos esperando o quê?
Entramos no carro. Eu, Marilu, Ivo e Voadora. Quatro tristes e desocupados solteiros no dia dos namorados. Quatro enxeridos tentando descobrir porque
diabos o Zarolho tomava um chá de sumiço em um dia tão sugestivo como aquele.
————————->>>>Continua, mas acaba logo.



Escrito pela Alê Félix
12, junho, 2004
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