Não entendo porque as comemorações das décadas são mais importantes do que as outras. Por que
damos mais importância para a festa dos trinta do que para a dos vinte e sete? Por que dez anos de
casamento parece mais propício a uma grande festa do que nove, oito, dois?
Desde os sete eu queria uma bicicleta, mas precisei ouvir durante três anos que ela só viria no
meu décimo aniversário de vida. Não pelo meu pai, mas pela minha mãe, que o conveceu de que eu
daria mais valor a um presente caro se ele fosse dado na festa dos dez anos e não em um
aniversário qualquer. Não adiantou questionar. Queria ver, se eu tivesse morrido com oito, o
remorso da família. Carpe diem é um papo que definitivamente nunca funciona para presentes
que simbolizam datas especiais. E datas especiais são quase sempre as de fechamento de décadas.
Nem pense, por exemplo, em pedir um diamante no seu sexto ano de casamento. Tente no décimo – caso
contrário, espere pelas bodas de ouro.
Uma tia minha, no aniversário de vinte anos de casamento, quase fez meu tio engolir uma peça de
leitão à pururuca. Ela pediu que ele a levasse para jantar em um lugar bacana. Ele escolheu uma
badalada churrascaria dos Jardins. Ela esperava taças de vinho e luz de velas; ele achou que lugar
bacana tinha a ver com maminha no alho e chope estupidamente gelado (como ele sempre faz questão
de pedir). Ela passou meses reclamando.
– Vinte anos! Esse infeliz comeu nosso aniversário de vinte anos de casamento!
Que eu saiba, nos anos anteriores, nem parabéns ele deu. Mas, porque não era fechamento de década,
ela não deu a mínima.
Já uma amiga, esperta que só ela, avisou carinhosamente e com antecedência de trinta dias, o
marido desatento.
– Meu mozão, em breve completaremos dez anos juntos. O que meu nenê e eu faremos para comemorar?
– Não sei, minha flor de mamulengo. O que você quer?
– Não sei também, namorido, mas eu gostaria de ganhar algo que estivesse sempre ao alcance das
minhas mãos e me fizesse lembrar dos dez anos lindos que vivemos juntos.
Batata! E olha que os dez anos de matrimônio deles, apesar de melados, nem foram tão lindos assim!
A danada me contou que disse isso com a imagem de um solitário reluzindo na sua mente. Dito e
feito, um mês depois, lá estava ela com o anelão no dedo.
Minha mãe fez a mesma coisa com o meu pai. Queria porque queria um anel. Meu pai pediu detalhes e
ela bem que tentou:
– Quero um anel desses, com uma pedra bem bonita e que todo mundo veja o tamanho do seu amor por
mim.
Erro, grande erro… Foi subjetiva demais. Nesses assuntos de amor interesseiro, quanto menos
espaço para interpretação, melhor. O “sem noção” do meu pai apareceu em casa com um anel que ele
podia ter achado de brinde em um doce. A pedra era tão grande e cafona, que minha mãe não tinha
coragem de ir nem até o portão com ele. Foi a deixa para o meu pai reclamar:
– Dez prestações! Comprei essa porcaria em dez prestações de tão caro que foi e você nunca usa!
– Olha o tamanho! Olha o tamanho disso!
– Você não disse que queria um grande?
– Estava me referindo ao tamanho do seu amor, seu jumento! Isso aqui você enfia no seu…
Brigaram dez meses seguidos. Minha mãe só não ficou mais passada com o tamanho da pedra porque,
durante dez meses, todo dia dez, meu pai voltava arrasado da joalheria. A tristeza dele vendo o
saldo bancário diminuindo para quitar o carnê era a vingança pela festa de dez anos de casamento
que ela não teve.
Anos depois, mesmo só querendo fazer quinze anos, eu debutei. Odiava aquele papinho de festa de
debutante, mas acabei cedendo a algumas exigências da matriarca. O aniversário de um e quinze
anos, uma das únicas grandes comemorações que não acabam com um zero, eram uma questão de
obrigação social para os meus pais. Precisava ter uma grande festa e, se possível, algum detalhe
parecido com as comemorações de gente rica. Eu só queria chamar os meus amigos e passar a noite na
garagem de casa ouvindo música e enchendo a cara de ponche batizado, mas minha mãe cismou que eu
tinha que ganhar uma aliança de debutante e me vestir de branco no dia.
– Mãe, pela-mor-de-deus! Festa na garagem e vestido branco é a morte!
– Ótimo, então alugamos um salão de festas.
– Nãooooooo!
A choradeira me livrou do salão de festas, do vestido branco e, certamente, da valsa que deveria
constar nos planos da maquiavélica. Fiz minha festa na garagem, mas não me livrei da cerimônia da
aliança na hora do corte do bolo. Ela não me contou nada sobre a origem daquele anel – nem eu
desconfiei. Talvez, pra me poupar do carma impregnado no presente, ela tenha escondido de mim o
fato de que aquele era o anel da discórdia. Fez que fez e guardou segredo durante anos. Eu só
fiquei sabendo da história verdadeira porque a minha irmã, bisbilhoteira que sempre foi, viu todo
o processo acontecer.
Dona Maria, que já não devia mais agüentar olhar para o tamanho do amor do meu pai, mandou
destruir o anel. Pediu que um joalheiro o transformasse em uma aliança delicada e que coubesse no
meu dedo. Me deu o presente pouco antes da festa na garagem. E eu só soube desses detalhes um mês
depois do meu aniversário de vinte anos e poucos dias antes de brigar com meu pai e sair de casa
para morar sozinha.
Sem dinheiro o suficiente para arcar com o preço da independência, eu estava prestes a pedir
pinico e voltar pra casa quando minha irmã me ligou do seu trabalho e disse:
– Sabe aquele anel que a mamãe te deu quando você fez quinze anos?
– Sei… O que é que tem?
– Ele está aqui comigo. Deve valer uma grana. Passa aqui e pega.
– Não pode ser. Eu perdi aquele anel há anos.
– Perdeu não. Eu roubei ele de você porque sabia que você um dia o perderia.
– O quê?
– Vai, pára de reclamar e vende ele. Ou isso ou vou ter que dividir o quarto com você de novo…
Além do mais, eu não te dei nada de aniversário mesmo… Fica de presente pra você!
– Ei, ele já era meu! Você está reciclando o presente!
– Eu? A mamãe reciclou ele há muitos anos, esqueceu? Esse anel é mais reaproveitado do que roupa
de filho mais velho. E quer saber? Achado não é roubado!
– Você acabou de dizer que roubou ele de mim!
– Quer, quer; não quer, tem quem quer. Você sabia onde ele estava? Não. Então fica quieta e feliz
aniversário de vinte anos atrasado. E sorte sua que é um aniversário de vinte! Se fosse dezenove
eu não daria anel nenhum. Você que se virasse.
– Você é louca! Só pode ser! Diz uma coisa pra mim, ô cleptomaníaca: se fôssemos meninos isso
estaria acontecendo?
– Ah, não me venha com perguntas difíceis! E então? Você vem buscar o anel ou vai amarelar e
voltar a morar lá em casa?
– Passo aí em dez minutos.
Bom dia Alessandra,
Eu acho que as pessoas criram esse ritual de só comemorar as décadas para economizar uma grana, é
muito mais econômico.
Beijos
Bom dia Alê,
Cara esse relacionamento que vc tem com a sua irmã é muito parecido com o que eu tenho com a minha
… rsrsrsrs … briga, briga e briga porem uma nunca deixa a outra na mao … posso dizer um
segredo o seu Blog é muito melhor do que o da sua irmã …
Bom, ainda bem que vc esta melhor fico feliz.
Beijos
oi, tava lendo o post da sacanagem que o blogger fez contigo, e fiquei BOLADAÇO, com medo de me
sacanearem também… mas acho que até agora só gastei 4MB, corro o risco disso ocorrer?? o que a
srta. acha???
beijo, bom carnaval pra ti;
Aê Aê, Sensacional! Fon-Fon!
Meu Deuuss do céu!
Muito bom… Será q um dia eu vou ter uma relação parecida com a minha irmã? Gostaria de sabre
escrever assim…
Alessandra, muito bom mesmo!!!!
Alê, ontem passei o dia lendo teu blog INTEIRO, inclusive as duas sagas. Foi muito bom lembrar de
alguns lugares da ZO onde passei minha adolescência, até o fim do ano passado morava em Pinheiros.
parabéns pelo blog e continue assim.
De dez em dez a galinha enche o papo!
Alê,
Eu não tenho aparecido muito, mas gostei do chat. E sempre estou acompanhando o seu Blog… Criei
um pra mima mas dá até uma coisa no estômago se eu falar dele… 🙂 Mas deixo meu dreço aqui…
Não tenho muita vergonha mesmo… 🙂 Que bom que está melhor.
De dez em dez a galinha enche o papo!
Ahhhhh eu vo fazer 20 anossssss mais uma decada, vai mudar o primeiro numero da minha idade.. sem
ofensas.. mas to fiacnado velha :///////
A historia da sua vida e da sua familia sao as coisas mais hilarias que eu ja vi!! Vcs sao um
grupo e tanto! rs
Aniversario de vinte anos de idade nao eh tao importante assim… Mais sao 1, 15 (q vc falou), 18
e 21…
Mal posso esperar pro meu de 21 chegar !
Um beijo e otimo carnaval
Tenho a sensação de que isso vai render posts. Ah… Não nos deixe curiosos! 😛
E são muitas coisas pra comentar, mas anel reciclado foi tudo… Hehehehe.
E acho que comigo nunca teve disso de década e tal. Na verdade, eu nem lembro se tive festinha.
Todo ano tem bolo, mas as vezes nem é festa, só bolinho bááásico. 🙂
Beijinhos
Hahahahahahahahaha…
Cada história que vc tem hein Alê…
Coitado do seu pai que teve pagar por um anel que nem depois de ser reciclado foi usado…
hehehhehehehe…
Bom feriado para vc!
Beijinhos
Opa. Você e sua irmã, uma mais gentil que a outra, quem diria que dez anos depois viveriam na paz,
hein? hahahaha.
Beijo!
Muito boa a estória!! Tenho uma parecida na minha família. Minha mãe FEZ QUESTÃO de proporcionar
aos seus entes e amigos queridos uma festa de bodas de prata. Foi, alugou um buffet – pagou em 6x
-, mandou que eu comprasse em 3x com um ourives amigo meu as tais novas alianças, chamou a galera
toda e, assim, comemoramos a data! Foi bacana! Mas o espírito da coisa é realmente interessante.
E, pelo visto, faz parte do inconsciente coletivo.
Belo texto!
Beijos
acredito que não seja só vc que pensou nisso, já me perguntei várias vezes sobre esse assunto…
Bela história!!
sei lá, seu post é mto grande e fiquei com preguiça de ler tudo. mas até a parte que sua tia chora
pela maminha e chope estupidamente geldado derramado eu gostei.
sei lá, seu post é mto grande e fiquei com preguiça de ler tudo. mas até a parte que sua tia chora
pela maminha e chope estupidamente gelado derramado eu gostei.
hmm tomara que vc tenha como apagar o comentário geldado.
Nossa.. que historia q esse anel tem hein?! Por onde ele andara?? E sabe, ano retrasado, qdo fiz
fiz 15 anos, meu pai queria que eu fizesse akela festa toda e tal.. mas eu preferi uma boa reforma
no meu 4o e um cel. Mas `as vezes me arrependo.. soh o que me conforma eh o fato do meu quarto
ainda estar lah e meu cel tb… a festa seria passageira!
Alê, q bom q voltou a todo vapor.Bjos
A minha família não liga a mínima para data nenhuma. Tem Natal, e olhe lá… aliás ninguém nunca
lembra quantos anos cada um está fazendo nos aniversários…
Quando eu fiz 15 anos foi literalmente isso, uma festa no quintal dançando, conversando e fazendo
festa…
Mas quem disse que a gente escapa do anel? Minha festa foi no sábado dia 29, quando meu
aniversário tinha sido na quinta dia 27. Pensa que eu não ganhei da minha avó o mesmo anel que ela
tinha ganho do pai dela de aniversário de 15 anos? Uma dessas coisas de família… só que ela só
teve três filhOs, e minha prima mais velha, se eu a conheço bem, desconfio que quando minha vó
quis dar pra ela de presente de 15 anos o anel ela deu uma risada bem grande na cara da vó…
Gente!!
Olha show de bola esse post…espero sinceramente que renda mais alguns!
Essas histórias de família são o máximo, e o melhor de tudo é que todo mundo tem uma dessas!!
Show de bola!!
a pior ironia é que bodas de diamante é aniversário de SETENTA E CINCO ANOS de casamento. 75 anos
pra ganhar um anel de brilhantes?! Suspeito que tenha sido um homem que criou essa tabela….
Alessandra,
há pouco tempo sou adepta de blog, quem me apresentou o seu foi a Cláudia Sereia, não sei se vc
lembra, virei sua fã, adoro suas histórias, aventuras, vc me faz rir e chorar, como agora que
acabei de ler sobre a Perla e me lembrei de minha infância e principalmente minha irmã que me
exuzava com essa cantoria que hoje me deu tanta saudade…se eu começar a contar não paro mais.
VC é que deveria escrever livros, que talento vc tem pra entreter e até viciar seus leitores,
material vc tem de sobra..vc é muito boa nisso, moça!
Suas histórias me faz pensar muito em minhas próprias e me identifico bastante…pena eu não ter
esse talento pra escrita, mas gosto de, como vc mesma disse, “brincar de escrever”.
Um beijo e por favor, não nos abandone.