Se aos trinta anos você receber um cartão como este antes de qualquer parabéns decente, tenha a certeza de
que há algo muito errado acontecendo com você.
Ok, daqui pra frente eu juro que não falo mais que estou de saco cheio de gente.
Ele disse que fez uma música pra mim, logo que nos conhecemos. Era o mínimo que eu podia esperar de um
namorado com dotes musicais. Pedi na hora, toda me sentindo a rainha da cocada preta, pra ele cantar o raio da
canção. Ele pegou o violão, tirou um papel do bolso, sentou no chão da sala ao meu lado, olhou nos meus olhos, o
maior clima e começou…
Lá-rá-ri, lá-rá-rá e nada de eu ouvir o meu nome no meio da letra! Como é que alguém faz uma música pra namorada
e não coloca o nome dela no meio da cantoria? Arranquei o papel da mão dele e o nome da balada era céu, estrela
ou sabe-lá-deus-o-quê. Meu nome não estava nem no título da música! Dá pra acreditar? É óbvio que eu odiei. Não
dei muita bandeira porque ele era caso novo, mas odiei!
Como acabamos casando, reclamei durante anos o fato do cretino nunca ter feito uma música decente com o meu
nome. Ele justificou todas as vezes, alegando que eu ignorei a primeira letra e que eu não merecia suas
composições.
Ele fez que fez, escondeu para sempre o papel com a sua obra musical cheia de estrelas – mas nenhuma com o meu
nome – e nunca mais deixou que eu a ouvisse ou lesse novamente.
Nem me lembro sobre o que falava. E como eu poderia lembrar? Eu louca pra ser uma Ana Júlia, Luiza, uma Carla
ou até mesmo uma Lady Laura da vida e ele me faz uma música sem nome. De que adianta ser musa se não posso
provar e esfregar o título na cara das outras mulheres? Tudo bem que Alessandra rima com muito pouca coisa que
preste, mas custava tentar?
Pra dizer a verdade eu já tinha até esquecido dessa história, mas ontem foi a gota d’água.
De madrugada, conversando num boteco e tomando café, ele estava contando sobre uma música que fez em mil
novecentos e trá-lá-lá… Papo vai, papo vem, lembrei da velha história da minha música e reivindiquei somente o
direito de ver a letra mais uma vez. Só ler. Eu só queria ler e poder prestar atenção no que a música dizia. Foi
quando…
– Custa deixar eu ver?
– Custa.
– Então faz outra! Mas faz com meu nome!
– Eu não coloco nome de mulher em música nenhuma. Assim posso usá-las com mais de uma mulher.
Agora me digam: Um cabra como este, está ou não está pedindo pra levar um voleio? Mas antes que eu entre com o
pé… Se tiver perdido por aí um músico, letrista, menos engraçadinho que o dito cujo em questão e que se
habilite a mostrar seu talento mostrando que é possível fazer uma música bacana que rime Alessandra, Alê ou, em
último caso, o meu Félix, serei grata. Eternamente grata.
Há seis anos eu fiz uma promessa a mim mesma: aos trinta anos e um segundo eu desistiria definitivamente da
idéia de ter filhos. Prometi que não pensaria mais sobre o assunto, não sentiria mais medo de me arrepender no
futuro e não procuraria novas justificativas para a minha opção de não pôr mais uma pessoa no mundo.
Se tivesse me convencido antes, tudo bem; mas, depois dos trinta, eu relaxaria dos meus questionamentos sobre a
maternidade e viveria em paz e sem filhos.
O foda é que agora só faltam quarenta e oito horas… Eu detesto viver sob pressão!
Já tem um mês que ela está nas bancas. No dia seguinte da distribuição entrei em uma revistaria atrás dela
porque queria ver, entre outras coisas, a matéria sobre os blogs que estava em destaque.
– Por favor, chegou uma revista chamada Outra
Coisa?
– Outra Coisa?
– É. É uma publicação do Lobão.
A dona parecia meio carrancuda…
– Lobão? O cantor? Não, não tem.
Virei as costas e a ouvi resmungar como se eu não existisse e não estivesse ouvindo…
– Lobão! Essa é boa! Era só o que me faltava…
Cá com meus botões, me perguntei porque diabos a implicância. Sai da banca e, só de pirraça e graça, pedi para
alguns amigos do prédio da frente, se revezarem na hora do almoço e perguntarem sobre a revista.
Foi um entra e sai da revistaria o dia todo. Todo mundo de sacanagem com a dona da banca. Ela puta da vida e
todos nós achando que era rabugice.
No dia seguinte, ainda de mau-humor, vejo a senhora colando uma folha de cartolina na parede. Como quem não quer
nada, fui espiar.
Esta é uma revistaria especializada em MODA. Não vendemos a |
Eu juro que não sabia! Acho que nenhum de nós sabia. Certamente, era por isto que a banca vivia vazia. Não
resisti. Contei pra todo mundo sobre o aviso e eles se empolgaram.
Não contentes em azucriná-la no dia anterior, a galera toda voltava pra fazer a mesma pergunta e ignorar o
cartaz. O cara do décimo segundo, pentelho pra cacete, foi posto pra correr. A brincadeira deve ter durado quase
uma semana, depois perdeu a graça e ninguém mais tocou no assunto.
Ontem, percebi que o cartaz não estava mais afixado na parede. Passei os olhos pelo lugar e, para o meu espanto,
do lado do caixa tinha uma pilha de revistas Outra Coisa. Eu não entendi nada, mas achei melhor não perguntar.
Estou acordada há mais de quarenta horas. Uma mistura de ressaca pós-festa, amigos de última hora, guincho,
câmbio, malabarismos com o carro emprestado do irmão e meia dúzia de pepinos explodindo. Nenhuma novidade. É a
minha pessoal e intransferível fase negra. Uma época que se arrasta por uns dois, três meses e que traz tudo de
melhor e pior que a vida pode me oferecer. Eu deveria brincar de estátua e voltar a me mexer só em Fevereiro,
mas não, fico de estrepulias no meio do caos ao invés de meditar e esperar a tormenta passar.
Mas, enquanto ela não passa, tenho pensado em deixar de ser tratante e abrir o chat com hora marcada, a minha
palavra e um horário decente. O que vocês acham? Pra quem não sabe, este blog tem um chat que eu abro
eventualmente. Eu deixo o link disponível no primeiro post sempre que ele está aberto. Que tal amanhã às nove da
noite? Confirmo amanhã cedo.
Fui. Vou tentar dormir. 😉
Depois de uma semana complicada resolvendo questões burocráticas da vida e, depois de ter tido a coragem de
aproveitar melhor o carro que eu tenho (explico melhor no decorrer da semana), decidi sair da Nabucodonosor (lar
doce lar).
O Hugo me ligou quase meia noite
pra dizer que só haviam, até então, sete pessoas na festa. Pensei comigo: vou para consolá-los. Esses
blogueiros, que dizem que existem, são na verdade seres de araque que só prometem e dão desculpas para encontros
reais.
Cheguei na festa quase uma da manhã e os números estavam bem mais animadores. Alguns velhos amigos, outros
amigos novos, outros se apresentando, mas todos de alguma forma linkados. Foi bem legal. Minhas teorias, sobre
leitores de blogs não existirem, estão temporariamente canceladas. Há muitos bundões escondidos em suas tocas,
mas há também quem curta meter a cara na parada. Estou de ressaca.
Beijo na bunda e até segunda.
Ou, quem sabe, até hoje à noite com chat aberto.
Não é à toa que a cada dia que passa gosto menos de vida social. Aqui é bom. Não dá a mínima vontade de
sair. Tem playstation, um green com taco e bolinhas decentes no meio da sala, banda larga até para as visitas,
guloseimas delivery e música ao vivo da melhor qualidade. Essa hora da manhã e o flautista-cabeludo-erudito do
prédio da frente já está a postos. O rapaz é disciplinadissimo. Vira e mexe, uma cantora de ópera que eu ainda
não sei onde mora, também dá o ar da sua graça. Ela eu nunca vi, mas pela voz deve ser uma senhora gordinha. Não
consigo imaginar uma contora de ópera magrela. Parece tão sem sal. De vez em quando, eu fico daqui tentando
imitá-la. Mas de cantora de ópera eu só tenho o gordinha.
E tem o som da senhora pianista da casa com piscina regan. Suas aulas transformam essa casa em um cenário de
filme. É engraçado passar os dias com a trilha sonora oferecida pelos meus vizinhos…
Bom, isto é um convite. Escolham um horário e venham quando quiserem, mas não me chamem mais para sair.