Paranóia ou não, eu não acredito em jurados. Acreditava na Aracy de Almeida, mas acho que
era só porque ela me divertia. Minto. Como nasci e me criei na periferia, sou obrigada a
confessar que acredito no “jurado de morte”.
Amigos próximos diriam que é porque eu julgo os outros por mim mesma. Eles tem razão. Não sou um
poço de virtudes, mas também nunca conheci alguém que fosse cem por cento do bem. Somos cheios
de qualidades e defeitos e, principalmente, cheios de opiniões. Onde houver gente, haverá
discórdia e, onde houver prêmios, haverá dúvidas e, talvez, um pouco de roubalheira.
Me meti em uma festa estranha um dia desses. Cheguei sozinha e sozinha fiquei. Me perguntei
várias vezes se tinha entrado na casa certa. O lugar lotado, todo mundo bêbado e eu desfilando
com aquela cara de idiota básica de quem esta perdido, mas não quer perder a classe. Andei de um
lado para o outro, à procura de rostos conhecidos e dei graças a deus por ter um copo de coca
diet nas mãos. O pior nessas horas, é o que fazer com as mãos. No resto do corpo a gente dá um
jeito, mas as mãos são um problema. Seja no bolso, sacolejando, no copo ou na bunda de alguém,
elas precisam de ação. Sozinha, eu nunca sei o que fazer com elas. Foi um inferno.
Circulei por todos os cômodos possíveis. Eu realmente não conhecia ninguém e ninguém sabia dos
anfitriões. Parei na cozinha. Tinha um pessoal jogando truco na mesa e eu arranjei um espaço
estratégico que me espremia entre os truqueiros, as tias da maionese e os bebuns de plantão no
freezer. Um lugar ideal para quem não tem mais idade para sorrir só para fazer amizades. Me fiz
de estátua e esperei meia hora para ver se alguém me via e servia de testemunha, caso meus
amigos me enchessem o saco no dia seguinte.
Quieta no meu canto, inevitavelmente passei a ouvir o bate-papo desenfreado que rolava na
geladeira:
– Cara, eu leio partitura desde os cinco anos! É foda você estudar a vida inteira pra ser
julgado pelo Latino. Pelo Latino! Pelo Latino, cara! Você sabe lá o que é isso?
O cara estava indignado. Participou e perdeu um concurso de bandas ou coisa do tipo. O Latino,
aquele do “oh, baby, me leva”, deu cartão vermelho para os meninos e acabou-se o que era doce.
Eu dei risada. Me divirto com a fé que as pessoas tem umas nas outras. Quem é disse para o cara
que o critério era ler partitura? Ele tinha uma banda de rock, putzgrila! E, mesmo se fosse!
Quem determina quem ganha e quem perde nesses horas? Será mesmo que era o Latino? E os
bastidores do evento? Quem estava envolvido na história? Onde estão as regras? As regras eram
claras? Não acho que estas perguntas devam impedir as pessoas de participarem dessas pândegas,
mas ficar putinho no final é patético.
Lembrei de um festival de música que eu organizei. Presidente do grêmio, uma trabalheira danada
e eu num tremendo mau humor. O engraçadinho do meu namorado era baterista de uma banda e decidiu
brigar comigo justo naquele dia. Não pensei duas vezes: eles pegaram o terceiro lugar. O
primeiro ficou com um garoto lindo que cantava bossa nova olhando nos meus olhos. Joguei a urna
fora e troquei de namorado. Chamem o meu comportamento do que quiserem. Já ajoelhei no milho e
paguei por todos os pecados que eu atribuí ao meu caráter. Não devo mais nada a ninguém. Tal
atitude só me fez olhar para as pessoas com mais dúvidas do que eu já tinha. Descobri que o
mundo é dividido em duas partes: os que jogam a urna sem a menor culpa e os que se arrependem
amargamente e passam a vida se vigiando para não fazer mais merda. Nenhum dos dois tipos vale
alguma coisa, mas, como eu tenho medo que os espíritas estejam certos, fico com a segunda.
As pessoas se protegem! Isto é um fato. Elas organizam cartéis, ficam amiguinhas, praticam
nepotismo, legislam em causa própria, têm preço, adoram panelinhas e indicam quem querem e
quando querem pelos motivos mais diversos. É uma bosta, mas é só uma característica. Só mais uma
entre as milhares que compõem a natureza humana.
Mas o que é que eu estou escrevendo? Que diferença isso faz? Vou mudar o mundo porque não durmo
direito quando faço uma besteira? Preciso parar com essa mania de vomitar opiniões só para
confessar os meus crimes.
Dizendo o mesmo q vc, só q em outras palavras, o grande problema do mundo é q todo mundo se leva
muito a sério!
As pessoas acham q não podem errar e qndo erram, escondem seus erros.
E como o Sol é exatamente do tamanho do pé de cada um, agimos da mesma maneira com os outros.
Se cada um aprendesse de verdade q é errando q se aprende, q ninguém é perfeito, q somos todos
iguais na essência, cheios de rugas e marcas, seríamos muito mais felizes.
Por isso, sou a favor da campanha: assuma seu lado palhaço. Sorria!
Bjins
Alessandra, não é a primeira vez que leio seu blog, mas depois deste post deixo declarado que,
além de leitora fiel, adoro suas histórias
Admitir um erro para os outros não é fácil,mas é menos complicado do que adimiti-lo para nós
mesmos.
Pelo menos você os confessa.
Conheço gente que aos quase 40 anos inventa mil e umas mentiras, só para não dar mão a
palmatória que errou.
Geralmente esses mentem tanto, mas tanto que no final acabam acreditando na própria mentira, e o
pior, cometem os mesmos erros várias vezes
bjs.
Elacoelha.
Vomitar para confessar é bom. Foda é a moçada que inventa duas zil opiniões para poder se livrar
e escapar das cagadas. Como já me disse um mestr uma vez: toda platéia é surda e desmemoriada.
Daí pra frente, o tema
é livre…
É vc com ceresa ñ vai mudar o mundo mais vai fazes as pesoas que leram pensar melhor em seus
atos.
Nunca tinha lido seu site mais adorei ler o q vc escreveu e eu mesma vou pensar em tudo q vc
escreveu para me tornar 1 pessoa melhor.
Adorei ler tudo isso e com certesa voltarei quando em breve.
*Bell*
Se conseguissemos mudar o mundo com as nossas opiniões, mesmo que elas sejam feitas para
entregar nossos crimes, estaríamos muito bem!
Antes omitir uma opinião e se entregar, e não dormir bem por causa disso do que ter feito
merda, falar, falar, falar, não dizer nada, e ainda ficar de consciência limpa..
SE existissem mais pessoas como você que preferam a opção número dois o mundo não estaria do
jeito que está agora!
Beijocas