Dona Olga orgulhava-se da fama de diretora mais severa que a escola já tivera. Eu acreditava que levaríamos uma boa bronca pelo incidente do Hino
Nacional, mas nos pegar usando o banheiro dos professores e ainda por cima aos palavrões, era um bom motivo para uma suspensão. Palavrões eram
intoleráveis pela direção e certamente nós pagaríamos pela indisciplina.
– Venham comigo.
Obedecemos a diretora, caminhamos até a grande sala que ela ocupava, sentamos e esperamos caladas pelo pior.
– A Esther me disse que vocês conversaram durante o Hino Nacional. Vocês sabem que isso é um desrespeito, não sabem?
Sacudimos a cabeça para baixo e para cima.
– Não me surpreende vê-la em minha sala, Marilu. Mas você, Alessandra? Até hoje nunca tivemos nenhuma queixa sobre o seu comportamento. Ao
contrário, seu currículo escolar é um dos melhores da sua turma. Suas companhias sempre foram muito saudáveis e suas notas exemplares. Já você,
Marilu, deveria envergonhar-se. Não contente em estragar o seu próprio futuro, agora pretende desvirtuar os bons alunos que temos? Pois saiba que eu
não permitirei que isto aconteça. Alessandra, você pode ir. Reflita sobre este incidente e não volte a cometer os mesmos erros. A Marilu fica.
Não tive reação; nem verbal nem física.
– Vamos, pode ir.
Minha cabeça girava num misto de medo e vergonha. Eu tentei falar, tentei explicar que a Marilu era inocente, que eu é que estava desatenta na hora
do hino, que ela só quis me alertar para que eu prestasse atenção… Levantei da cadeira com os joelhos trêmulos e, de cabeça baixa pela falta de
coragem, saí em silêncio.
– Quando sair, feche a porta.
Dois nítidos caminhos surgiam à minha frente e, por inércia, eu segui o de costume. Sair daquela sala e deixar que a Marilu fosse punida sozinha, me
garantia a imagem de boa aluna e belo exemplo, mas dali para a frente, eu teria que carregar no colo a minha vítima sem brios. Fechei, junto com
aquela porta, um ciclo da minha vida. Um ciclo de poucos anos, mas o primeiro regido pela consciência. O forte barulho da porta de madeira maciça
contra o batente ecoava como um chicote nas minhas costas. E doeu tanto, que foi impossível não perceber que aquele era o momento de deixar para trás
a menina covarde e mal articulada que ditava as regras dentro de mim.
Toc, toc, toc…
– Entre.
– Eu posso entrar de novo?
– Esqueceu alguma coisa?
– Não, não dona Olga é que…
– Sim, diga.
– É que a Marilu não teve culpa de nada.
O silêncio permitiu que eu ouvisse as batidas do meu coração. Finalmente eu me sentia no caminho certo.
– Alessandra, não tente defender a Marilu. Ela já assumiu a culpa e já recebeu a advertência merecida.
– Não… Eu não sei o que ela disse à senhora, mas a culpa é minha. Eu estava distraída na fila e ela tentou me chamar a atenção. Mas aí a Esther
viu, achou que estávamos conversando e nos trouxe para cá. A Marilu não teve culpa, mas como ela está acostumada a aprontar, acabou pagando o pato
junto comigo.
– Sem gírias por favor.
– Sim, senhora.
– E o banheiro dos professores?
– Eu…
Não havia o que falar sobre o caso do banheiro dos professores, as duas eram culpadas.
-Estávamos muito apertadas…
Mentir para dona Olga era como ser imune ao cinto da verdade da Mulher Maravilha.
– Hum… E os palavrões?
– …
– Estávamos treinando pra ver quem dizia o mais cabeludo.
– Silêncio, Marilu!
– A senhora tem razão dona Olga, foi uma atitude impensada. Levamos um susto quando a senhora abriu a porta e os palavrões escaparam. Não dissemos
por mal. Se a senhora quiser podemos escrever na lousa cem vezes que estudaremos mais para melhorarmos o nosso vocabulário ou que pensaremos duas
vezes antes de falar.
– Opa! Eu não. Pra que escrever, se você continua abrindo a boca sem pensar? Eu prefiro o meu dia de suspensão.
– Chega, Marilu! Aceito a sugestão da Alessandra. Vocês duas podem pegar a caixa de giz e irem até a sala dos professores. Usem a lousa de lá.
Cinqüenta vezes cada uma está de bom tamanho. Isto e esses bilhetes.
– Que bilhetes?
– Estes. Quero que o pai e mãe das duas estejam cientes do que aconteceu. Amanhã, antes da primeira aula, quero os dois bilhetes assinados.
– Mas…
– Bem feito.
– Sem mas. Peguem seus bilhetes e a minha frase do dia. Aproveitem meu bom humor e o meu momento de inspiração: “Os maiores obstáculos
transformam-se nas melhores recordações.” Podem ir.
———-> Continua
Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.
Poxa! Pensei até que voce ia deixar a garota pagar o pato sozinha…
E aí, escreveram tudo sem errar um palavrinha?
Ai que saudades do meu tempo de escola…
Bjus
50 vezes cada uma foi sacanagem!
Elas não mereciam isso!
perfeito… com isso, vc nao chegou a “arruinar” sua imagem (acho até que a D Olga deveria te dar um crédito pela caragem) e certamente ganhou a
admiração da Marilu
nossa, que chato!! e eu quando era pequena chegava em casa falando que a professora tinha me pendurado na parede.. ( ??? )
Q horrível, além do beijo ñ sair nunca, ainda escreveram…
B-jus
Pôxa, Alê, só isso da história por hoje?
E esse beijo sai ou não sai? rs
hahhaah
mt bom alê..
como sempre surpreendo a gente com essa sua personalidade incrível..
tudo bem q vc dar a ideia do quadro foi péssimo.. mas fazer o q.. 50 vezes, neh?! molesa po.. rs..
estamos esperando a continuacao..
bjinhuss
é amiga…. vc agiu bem, eu tb teria voltado.
BEijolkats.
A deduzir das coisas q escreve, vc sempre foi muito madura. Agora, me diga, pq sou tão infantil desde sempre? Isso me angustia. Queria tanto ser mais
esperta…
Eu sou apaixonada por essa história, já estava morrendo de tanta curiosidade…
Valeu mesmo pelo super post…
beijinhos
Isso vai acabar em livro…
hhahaaha
Ai, vcs tiveram que escrever mesmo???
Tadinhas!!!!
🙁
Beijinhos