O casal do videotexto
Depois de conhecer a Loba, fiquei um pouco mais relaxada pra conhecer pessoalmente algumas figuras que eu conversava pelo videotexto. Muitas pessoas
preferiam a distância que os relacionamentos virtuais asseguravam, mas para mim aquilo não fazia o menor sentido. Podia ter a sua graça, o seu
charme, mas qualquer bom papo, fosse com meninos ou com meninas, precisava ser trazido para a vida real. Nunca vi motivos para alguém se esconder
atrás de um monitor, não a longo prazo.
Embora não trabalhasse mais como fotógrafa, meu estúdio ainda estava montado. Por pura diversão é verdade, mas estava lá, firme e forte para um ou
outro trabalho que me desse prazer. Lembro de ter conversado sobre fotografia com um nick que me chamava muito a atenção porque não era exatamente
um apelido, era uma espécie de dois olhinhos. Pouco depois de muita troca de figurinha sobre fotografia soube que o tal nick era de um casal. Os dois
muito simpáticos, inteligentes e divertidos.
Conversávamos com muita freqüência, tanto eu com ela quanto eu com ele. Os papos eram sempre muito educados, engraçados e construtivos, até que um
dia eles perguntaram se eu os fotografaria.
Eu, obviamente, adorei a idéia. Nunca tinha feito um book de casal e, se eles formassem uma bela dupla, seria um bom material para o meu portfolio.
Agendamos um dia no estúdio e lá fomos nós.
Eles não eram um belo casal, eles eram perfeitos. O tipo de pessoas que, de tão bonitas, deixavam outros mortais constrangidos de tanto olhar. Era
uma benção ser fotógrafa em um momento como aquele. Fotógrafos podem avaliar e explorar ângulos sem muitos questionamentos, fotógrafos são os
contempladores oficiais da beleza e eu me sentia extraindo perfeição de pessoas que raramente sabiam que eram perfeitas.
As fotos ficaram lindas, eles adoraram, eu adorei e nos divertimos tanto com a primeira experiência que uma semana depois eles me ligaram perguntando
se eu poderia fotografá-los em uma festa.
– Uma festa? Mas fotografar a festa ou vocês?
– Nós e a festa.
– Explica melhor.
– É uma festa de amigos, amigos muito próximos. Pensamos em presenteá-los com as suas fotos. Olha, eu não tenho certeza, mas acho que você vai
adorar essa nossa turma. Por favor, aceite.
– Claro. É que, por conta do meu trabalho na Teletel, sinto que estou um pouco enferrujada para fotografar eventos. E, pra ser sincera, eu odeio
fotografar festas. Vou fazer porque vocês que estão pedindo, mas não acostumem.
Fui sincera, sorrindo pra não parecer mal educada, mas era a mais pura realidade.
– Festa é jeito de falar, Ale. Será uma reunião de amigos muito íntimos, não pense neste encontro como quem pensa em uma festa de casamento. Não
terá vestido de noiva, só o bolo. Considere que os nossos amigos serão, certamente, seus amigos porque eu tenho certeza de que todos irão adorá-la.
– Está certo. Quando e a que horas?
A casa era um desbunde! Uma fortaleza cercada por um lado pela cidade, por outro pela Serra da Cantareira. Dois seguranças na porta pediram minha
identidade, conferiram os dados e pediram que eu encontrasse com os demais convidados no saguão da casa. Um deles, estranhamente me encarava, mas
fingi que não era comigo e dei-lhe as costas.
Logo na entrada encontrei o casal <o><o>. Apresentaram-me os anfitriões e todos os convidados que esbarrávamos. Musica boa, vinho bom,
gente bonita e de repente um cara que mais parecia o Michel Jackson assumiu o controle dos equipamentos de som e luzes e transformou o ambiente
sóbrio em uma discoteca. Não me pareceu numa primeira impressão, mas depois percebi que tudo tinha sido preparado para aquele momento. As bebidas
ficaram mais fortes, o jogo de luzes na casa ficou muito mais intimista e ritmado e as músicas faziam todos dançar. Não sei se por intuição ou
sabe-se lá o quê, mas havia uma grande pulga atrás da minha orelha. Tinha algo no ar que me escapava… Minhas fichas só começaram a cair quando eu
quase tropecei em um casal transando peladão em um canto da sala. Olhei para os lados, ingenuamente, tentando alertá-los de que eles estavam sendo
vistos. Olhei para os lados, arregalei os olhos e…
– Caraca! Tá todo mundo trepando!