Procura-se
Minha amizade com a Grazi durou pouco. Em menos de dois meses minha vida mudou da água para o vinho. Muitos dos meus amigos acharam que eu tinha
surtado; muitos me deram conselhos e acharam que sabiam o que era melhor pra mim, mas a Grazi foi a única que não perdeu tempo me dando sermões, ela
simplesmente me mandou à merda e acabou com a nossa amizade.
O Tombaqui estava fechado e eu estava dormindo, ela tocou a campainha. Só consegui levantar depois do quinto e insistente toque, abri a porta fugindo
da luz do sol e vi o dedo da Grazielly se aproximando do meu nariz delicadamente. Não, ela não era tão brava. Mas ficou quando percebeu que as minhas
decisões não seriam passageiras.
– Olha aqui, eu sei que eu não tenho nada a ver com a sua vida, que acabei de te conhecer, que você não quer mais voltar pra casa dos seus pais e que
está toda apaixonada pelo Robin mas, Ale, olha a sua idade! Olha onde você está morando, olha a vida que você está levando, olha pra você! E não
adianta fazer essa cara porque eu já sei o que você pensa sobre tudo isso, sei as suas razões e sei que você vai levar esta história até o fim porque
você é orgulhosa demais pra voltar atrás quando faz uma merda. Eu só vim aqui porque eu não agüentava mais guardar isto tudo dentro de mim. Vim pra
dizer que eu preferia não ter te conhecido! É muito foda ver que você é a melhor amiga que eu podia ter conhecido e que eu não posso fazer nada
porque você está cega, completamente cega…
– Eu tô feliz, Grazi.
Ela pegou a bolsa que havia deixado em cima de uma das mesinhas, virou as costas e foi embora sem dizer até logo. No dia seguinte à noite ela estava
de volta. Pediu uma coca-cola, cumprimentou quem estava na cozinha, olhamos uma para outra e…
– Melhorou?
– Melhorou?
Rimos da sincronicidade das perguntas e nunca mais tocamos no assunto. Mesmo assim a amizade esfriou, não foi possível salvá-la. Não que ela tenha
acabado, mas novas amizades precisam de um pouquinho mais de tempo, de dedicação… Infelizmente eu demorei muito para perceber que a bronca da
Grazi não era com a minha nova vida, mas sim com a minha ausencia.
O bar permitia que nos víssemos sempre, mas eu estava sempre distante. Com o passar dos anos, o máximo que sabíamos uma sobre a outra eram assuntos
superficiais, notícias vinda de amigos em comum e nada mais do que isto.
No primeiro dia do ano de 1998, abri o jornal enquanto tomava o café da manhã e vi uma foto da Grazi. Li com a incredulidade dos que crêem que os
amigos são para sempre…
A encontraram morta em um depósito de bebidas. Cinco tiros nas costas dados pelo ex-namorado. Levei um tempo para assimilar a informação. Era
estranho imaginar a inexistência da Grazi e não era somente pelo fato da morte física. Era como se os sonhos dela estivessem esparramados pelo chão e
não tivesse ninguém para recolhê-los. A matéria do jornal dizia que ela trabalhava como jornalista na TV Bandeirantes.
– Ela estava no caminho que havia escolhido…
Ela o conheceu na academia, namoraram um tempo, ela queria terminar, ele não, ela insistiu, ele implorava, ela terminou, mas aceitou um convite de
despedida na véspera do Natal de 1997.
O Serafim, o paquera que ela sempre desconversava nas raras vezes que nos falávamos, está foragido até hoje. Há alguns anos reconstituíram o crime no
programa Linha Direta, mas sem sucesso. Os pais dela lutam até hoje para que o encontrem e eu não poderia contar a história do videotexto sem contar
da L O B A e sem pensar que, se ela estivesse viva, ela teria certamente um blog, um belo curriculum e os filhos que ela tanto queria.



Postado por:Alê Félix
24/05/2003
1 Comentários
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ana carolina

agosto 10th, 2005 às 18:45

caralho ale!!!! arrepiei!!!
q foda, puta sei lah, naum da nem pra imaginar, muito loko td isso neh…eu ja perdi uma melhor amiga, mas a gente era proxima mesmo, mas nesse caso,
vcs se distanciaram, mas continuavam sabnedo da vida uma da outra…
loko! loko! loko!


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