O zumzumzum de gente chegou na porta do meu quarto. Fingi que estava dormindo pra não dar bandeira, mas senti o Cadu sentando ao meu lado, passando a
mão nos meu cabelos e me dando uma chacoalhada. Eu bem que me fiz de morta, mas ele me deu outra sacudida. Virei de lado e dei uma resmungada. Ele
respirou fundo. Baixinho, como se estivesse falando para si próprio, ele disse :
– Que bom que você está viva.
Levantou da cama, saiu do quarto e pediu para que todos saíssem para que eu pudesse descansar.
Me senti um lixo, o maior lixo de todos. Partiu o coração espiar os olhos dele cheios de lágrimas e sentir sua aflição, querendo saber se eu estava
bem, se estava machucada.
Tive vontade de ir até ele, dizer tudo o que tinha acontecido, dizer que eu era uma imprestável e que ele fosse embora procurar alguém melhor do que
eu. Mas, contrariando os meus desejos e o que era correto, fui me certificar do papo que estava rolando na cozinha. Afinal, minha mãe podia estar,
naquele momento, dizendo tudo o que eu havia pensado mas não teria coragem para dizer.



Postado por:Alê Félix
02/04/2003
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