Me sinto como as moças do Almodóvar.
Sei bem dos dramas passionais de Nelson Rodrigues,
Já manipulei como dona Scarlett,
Já me vesti como a viúva Porcina,
Já chorei, já atuei, já fui piegas como todas elas.
Usei as roupas mais extravagantes, os decotes mais ousados.
Já lambuzei o meu rosto de cores, já tatuei colarinhos.
Já escrevi cartas de amor, as mais bregas e apaixonadas cartas de amor.
Já jurei amor eterno, já troquei alianças de compromisso.
Já quebrei discos, rasguei os livros, defenestrei os copos.
Acendi fogueiras, incendiei as cartas e implorei perdão.
Dei vexames, atravessei o mapa, perdi a hora.
Fugi de casa, dormi no chão, perdi o rumo.
Solucei nas despedidas, bati as portas, fui embora.
Desejei vários amores, jurei fidelidade, confessei infidelidades…
Fiz escândalos, briguei, me rastejei e quis que alguém morresse do amor.
Menti, nem sei por que menti.
Fiz surpresas, dei presentes surreais, enchi de beijos, me enchi de ódio.
Meu corpo… adoeceu, deixei que adoecesse.
Fui mandona, fui leal, foi de verdade.
Fui fraca, me enganei, trapaciei, tive medo,
nunca fui covarde…
Me entreguei, desejei e desfrutei de cada instante de risos e prazeres.
Fui ciumenta, fui louca, disse tantas bobagens…
Passei noites em claro, dias roendo as unhas.
Já morri de saudade, já sonhei acordada, vi meus castelos desmoronarem.
Foram príncipes, foram sapos, foram simplesmente homens.
Fomos imaturos… bendita imaturidade que nos liberta!
Desisti, reagi, enlouqueci.
Fiz proibições, me proibi, destruí o que pude.
Apelei para os visionários, os magos e para os santos.
Fui amiga, fui mãe, fui mulher, fui amante.
E perdi o controle, o controle que eu nunca tive…
E amei, amei a vida toda, e deixei de amar, e aprendi a amar de novo, e parece que não tem fim.
Sempre achei que nunca passaria, a dor sempre passou.
Sempre achei que o carinho acabaria, nunca acabou.
Sempre achei que seria para sempre e tem sido, nunca deixará de ser.
Não enquanto eu estiver viva,
não enquanto eu guardar no coração e na memória
todos os amores que eu tive na vida.
Comentários:



Escrito pela Alê Félix
15, fevereiro, 2003
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Coloquei um selo, ao lado, para as fotos da festa do JMC.



Escrito pela Alê Félix
15, fevereiro, 2003
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Ele é bom com as palavras, meia-boca no imagem & ação
(ninguém é perfeito) 🙂
e um encanto com uma caneta bic na mão. Adorei!



Escrito pela Alê Félix
14, fevereiro, 2003
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Os saudosistas acham que o melhor da vida mora na lembrança, os calculistas acham que os melhores dias virão e
alguns já desistiram de pensar nessas coisas e jogaram suas vidas nas mãos de deus.
É assim que se divide a humanidade. Esse papo de “carpe diem” é conversa pra boi dormir. Pouquíssimas pessoas vivem
o momento presente. Viver o presente requer liberdade, coragem, desprendimento… Ninguém é livre preso às
lembranças do passado e aos planos para o futuro, ninguém é livre se é preso aos laços de família, amizade e amor.
Ninguém é livre com contas vencendo no fim do mês. Impossível viver o presente se você não tem coragem para não
deixar que esses detalhes influenciem o seu dia.
É fácil! Pergunte-se: Onde você gostaria de estar agora e fazendo o que? Se o seu pensamento levou você para bem
longe desta cadeira, esqueça. A sua liberdade é uma ilusão.



Escrito pela Alê Félix
14, fevereiro, 2003
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Quero ser isso e não quero sentir aquilo, quero pensar desse jeito e não daquele, quero fazer assim e não “assado”.
É a vida! Melhor ficar frustrada com as minhas limitações do que ficar triste tentando mudar, inutilmente, as
pessoas ou o mundo.
Maldita necessidade de controle, malditos contos de fadas, maldito útero que altera a lógica da minha vida. Será
possível que não dá pra ser mulher em paz? Sem sonhos impossíveis, sem suposições, sem cenas prontas, sem
estresse…
Este caos entre a realidade dos fatos e as idealizações de como as coisas deveriam ser, só pode ser culpa do útero.
Aposto que é! Ainda bem que não sofro de TPM… Será? Tremendo post com cheiro de TPM… Não, não é possível. Tenho
quase trinta anos, eu teria percebido antes, as pessoas teriam comentado… Não. Definitivamente não… E AI DE QUEM
DISSER O CONTRÁRIO!!!!



Escrito pela Alê Félix
13, fevereiro, 2003
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Muita gente tem me perguntado que raio é esse negócio de videotexto, então lá vai:
Videotexto (chamado Minitel, na França) é um sistema de comunicações telemático (combinação de Telecomunicações
com Informática), que emprega a conexão intermídia telefone-computador-televisão para o envio de mensagens visuais.
Criado na Inglaterra (onde é chamado de Teletext) pelo engenheiro Sam Fedida em 1972, o sistema VDT (videotexto) foi
simplificado e popularizado na França em 1978, sendo posteriormente implantado no Brasil em 1982.

Quando eu conheci o sistema, em 1993, a Alcatel comercializava um terminal semelhante a uma televisão de umas doze
polegadas (existe doze polegadas?), não pesava nem quatro quilos e ainda por cima era lindo!
Era ligar na tomada, na linha telefônica e se conectar a um banco de dados da antiga TELESP que fornecia acesso a
bancos, polícia federal, listas telefônicas, DETRAN, SERASA, entre outros serviços. Mas o mais legal de tudo era, de
longe, o videopapo! Digamos que o vídeo-papo é o avô dos chats… mas tinha um charme que os chats perderam.
Ok! Esqueçam a parte saudosista da velha coróca que eu me tornei.

Fonte



Escrito pela Alê Félix
13, fevereiro, 2003
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Quem entende?
Azar. Cruzamos com o Cláudio (o bêbado) na recepção. Pelo menos ele não havia mentido sobre ser o dono da empresa.
Passou por mim batido. Parou, virou o corpo em nossa direção, me olhou por cima dos óculos e falou:
– Você?!?!
– Eu!
– Pairou no ar um instante de silêncio e interrogação. Que diacho de reação de espanto era aquela?
– Você! Na minha sala!
– Quê?
– Escapou um sorriso nervoso que eu amarrei na boca para não escancarar de vez a autoridade ridícula que
o bebum da noite anterior, naquele instante sóbrio e obviamente perturbado, tentava impôr no seu ambiente de
trabalho.
– Só você, na minha sala, agora!
A recepcionista, com uma expressão besta estampada no rosto como se já estivesse acostumada; o Valmir com a testa
franzida e, provavelmete, se perguntado se aquele tantã sabia com quem estava falando. Também, pudera! Na cabeça
dele não devia fazer o menor sentido o sujeito se dirigir daquela forma a uma mulher desconhecida. Sem opção, eu o
segui até a sua sala. Ele deixou a porta entreaberta, eu entrei e ele me puxou de canto:
– Você não é a menina do bar de ontem?
– Sou.
– E o que você esta fazendo aqui?
– O senhor me deu o cartão e pediu que eu…
– Eu te levei pra casa?
– Não… Claro que não! Como assim?
– Pensei: Que papo de louco desse cara! Qual é a dele? Mas, de repende, o
cidadão respirou aliviado.
– Ufa! –
– Eu mostrei o videotexto…
– Há! O aparelho que mostra o paradeiro dos devedores?
– Isso!
– Bom sinal. Ele lembrava do que era necessário. – O senhor pediu que eu passasse aqui para fechar
o contrato, lembra? – Arrisquei! Tudo era tão surreal que achei que o pesadelo poderia se reverter em algum tipo
de recompensa a meu favor.
– Sei, sei… Quanto custa?
– Como assim quanto custa? Eu não vendo criatura, eu só alugo. Contrato de 36 meses de locação do terminal, mas eu
vou ter que mostrar todo o sistema de novo para o senhor.
– Por quê? Não quero ver tudo de novo!
– O destemperado falava gritando, queimaria meu filme em meio minuto se
continuasse com aquela conversa sem pé nem cabeça. Foco. Eu precisava focar a conversa.
– Psiiiiuuuu… fala baixo! Se o senhor disser que tudo bem, eu posso ver se consigo uma redução de tempo de
contrato para 30 meses. Negocião da China, é pegar ou largar!
– Que?
– Tá bom, tá bom… É que meu supervisor está ali e ele quer me ver em ação… coisa de vendedor, sabe como é… É
minha primeira semana no emprego e o cara cismou de ficar atrás de mim pra ver se eu estou fazendo o trabalho
direito. Custa deixar eu mostrar o sistema de novo pra você?
– Foco e sinceridade, impossível que ele não
colabarasse comigo! Ele deu uma espiada no Valmir, saiu da sala, pegou sua carteira em cima da mesa e disse em voz
alta para que eu mostrasse o sistema para a recepcionista.
O filho da mãe me deixou lá com cara de tacho e se mandou. A recepcionista, louquinha pra ver a novidade. Não tive
escolhas, mostrei o sistema pra moça com todo o “mise-en-scène” que o Valmir queria assistir e sem fechar,
mais uma vez, contrato algum.
Sai arrasada de lá, e não lembro exatamente o porquê, mas o resto do dia não trabalhamos. Talvez o Valmir tenha
sentido a presepada toda, mas nunca tocou no assunto. Almoçamos na casa dele, vi álbuns de família, tomamos umas
três garrafas de vinho e nos tornamos grandes amigos. De toda a longa conversa que tivemos, lembro-me de ter contado
como eu havia parado naquele emprego, da terrível viagem pra Chapada dos Guimarães, da bagunça da minha vida e do
quão sem rumo eu me encontrava.
– Ale, que idade você tem mesmo?
– Dezenove.
– Você tem dezenove anos… Sabe o que é isso? Sabe o que significa ter dezenove anos?
– Anh…?
– Significa que você tem pelo menos dez anos menos que o vendedor mais novo da Teletel, significa que você é uma
garotinha precoce, metida a adulta. E faz isso tão bem, que cansou de convencer as pessoas e está tentando
convencer a si mesma da sua capacidade. Ale, acorda, Ale! Vai fazer o que você quiser da sua vida, vai ser quem você
quiser ser. Você tem a vida inteira nas suas mãos, você pode ser o que você quiser ser. Olha pra frente, mulher!
O danado era tão bom vendedor que me vendeu a idéia de que eu tinha um futuro sorrindo de braços abertos embaixo do
meu nariz.
No dia seguinte cheguei na empresa e havia um recado sobre a minha mesa: “Alessandra, me liga urgente! Minha mulher
adorou a sua apresentação do videotexto. Vamos fechar contrato. Avise o seu supervisor que, se ele não quiser você
trabalhando aí, aqui tem vaga pra você.”
– Puta-que-o-pariu! Que puta bebum gente boa! A recepcionista! Claro, a recepcionista era mulher do bebum! Sorte!
Tremenda sorte! Como eu poderia imaginar?
– Eu, besta de feliz, enquanto o Valmir, de calculadora na mão,
berrava os valores do meu primeiro contrato.
_______________>>> Continua
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ler o Post VI – Pensa rápido!

Clique aqui para
ler o Post V – Não, não e não!

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ler o Post IV – Primeiras impressões sobre o trabalho de cinco mil dólares

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ler o Post III – A primeira noite no videopapo

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ler o Post II – A entrevista

Clique aqui para
ler o Post I – O começo de toda a história



Escrito pela Alê Félix
12, fevereiro, 2003
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Maridon resolveu a parada! Fez uma página com todas as fotos da festa. A opção de comentários continua disponível
embaixo de cada foto para que as pessoas possam escrever quem é quem em cada fotografia. Assim fica mais fácil!
O Haloscan continua dando uns paus. As vezes ele desaparece, mas depois volta e fica tudo bem. De qualquer forma é
melhor vocês salvarem os comentários antes de enviar. A maior parte dos erros ocorrem no envio da mensagem.
Clique aqui para ver as fotos da Festa de 1 Ano do Blog “Jesus, me
Chicoteia!”



Escrito pela Alê Félix
11, fevereiro, 2003
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