Pensa rápido!
Valmir era um cara falante, simpaticão, bom astral, mas era meu supervisor e eu queria um chefe igual ao de todos os
meus amigos normais que tinham chefe. Nada de chefe legal! Queria um chefe mala, alguém que eu pudesse culpar,
reclamar e fazer cara feia quando ele virasse as costas.
Mas que diabos ele queria? Provavelmente me mostrar como ser uma super-vendedora e fechar todos os contratos. Um
exagero sem tamanho, que os supervisores faziam com todos os novatos. Azar, aquilo é que era azar! Eu não queria
ninguém na minha cola durante o dia e tratei de escapar daquela situação. Disse a ele que eu tinha um cliente
agendado no primeiro horário, que não poderia acompanhá-lo… Ele insistiu:
– Eu vou contigo no teu cliente. Quero vê-la em ação. Vamos embora.
Blefe puro! Que cliente? Onde eu arranjaria um cliente? Agora sim, eu estava em maus lençóis.
Saímos no meu carro. Precisava me manter pensando e dirigir era necessário para que eu conseguisse, em menos de uma
hora, um cliente agendado.
Meia hora circulando de carro sem saber para onde ir. Direcionei a conversa para o lado pessoal, na tentativa de
evitar que ele fizesse perguntas sobre a empresa que visitaríamos. O papo acabou ficando bom e, conseqüentemente,
não conseguia pensar em uma empresa que eu pudesse chegar na maior cara de pau dizendo que tinha um horário marcado
com o dono da bagaça. A conversa deu uma esfriada momentânea, o silêncio espalhou assombrosamente pelo carro e ele
acabou perguntando sobre o nosso destino. Minha cabeça a mil: Pensa rápido, pensa rápido, pensa rápido!. –
Puxei minha bolsa do banco de trás, pedi que ele abrisse-a com cuidado para não acordar “meu coelho de estimação” e
que procurasse um cartão perdido por lá para que eu me certificasse do endereço. Ele sorriu, se divertiu mexendo na
minha bolsa cheia de quinquilharias femininas, até que sacou das profundezas da dela o cartão do bêbado da noite
anterior. Com sorte, ele não estaria lá e tudo de resolveria; com azar, ele não lembraria do meu nome, nem do que
era vídeo-texto e eu teria que fazer cara de “migué” para o bebum e para o meu supervisor. Só me restava torcer e
tentar.