A entrevista
Algumas pessoas, quando querem dar um novo rumo pra vida, vão à cartomante; outras vão ao shopping e outras mudam de
endereço. Eu abro o jornal. Vou passear meus olhos pelas sessões de classificados, leilões, trocas, “casa muda”,
oportunidades – sempre surge algo que mexe com a minha rotina – mas, naquele dia, eu precisava de um emprego e lá
fui eu para a rua que sobe e desce, trabalhar com telecomunicações.
Eu não manjava nécas de pitibiriba do assunto, não sabia nem ligar um computador, mas me disseram que não precisava
de experiência e, sendo assim, por cinco mil dólares, eu preenchia todos os requisitos.
Preeenchi uma ficha na recepção e em seguida me levaram para conversar com um rapaz que me explicou o que eu teria
que fazer caso fosse contratada.
A antiga Telesp disponibilizava um sistema de consultas chamado vídeo texto que era acessado por um terminal.
Fisicamente o terminal era o cruzamento de um notebook com uma televisão de dez polegadas (há dez anos atrás era um
fenômeno!). Era plugar na linha telefônica, na tomada e voilà: banco de dados com todos os assinantes de
linhas telefônicas, acesso ao SERASA, policia federal, DETRAN, bancos e outras maravilhas de uma época onde era raro
até as empresas terem computadores. No máximo, encontrávamos perdidos um XT jurássico ou o top de linha na época, o
286.
Eu, que nunca tinha visto nada igual na minha vida, fiquei lá, boquiaberta com todas aquelas possibilidades, mas
aquilo era um trabalho e, se eu quisesse levar o meu terminal para casa, eu teria que estar lá no dia seguinte às
sete da manhã.
Sete da manhã era algo realmente assustador e fiquei me perguntando se não era melhor desencanar e voltar para a
minha vida de fotógrafa. Era tentador ter um brinquedinho daqueles por vinte e quatro horas em troca de um trabalho,
mas o horário era de lascar. Foi aí, que o rapaz me mostrou o vídeo papo, que era uma ferramenta onde todos os
usuário do vídeo texto que estivessem on line podiam conversar uns com os outros. Era o avô do chat! E qual o ser
humano que não enlouqueceu diante do seu primeiro contato com o chat? Eu pirei com o vídeo papo e aceitei o emprego
na hora.
Levei o meu terminal para casa e assinei um milhão de termos de compromisso de que o devolveria em trinta dias caso
eu não conseguisse instalar o sistema em pelo menos uma empresa durante este período. Todo dia às sete da manhã eu
teria que comparecer na rua que sobe e desce, depois apresentar o vídeo texto aos clientes. Ganharia cerca de mil
dólares para cada contrato fechado (baba!) e ainda poderia passar a noite inteira conversando no vídeo papo. Melhor,
impossível! Saí de lá empregada e louca para bater papo no vídeo papo.
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Aqui em casa nós tivemos um, de graça. A Telesp estava testando o produto. As crianças chegavam no colégio e
contavam pros amigos q tinham em casa um aparelho desses, com o qual falavam com gente de todo a parte através da
TV. Os amiguinhos achavam q era mentira!
Depois a Telesp começou a cobrar 1 real por mês a título de aluguel do aparelho. Daí o serviço acabou, e continuaram
cobrando o aluguel por mais uns 10 anos…. e eu não achava a maldita máquina pra devolver!
Até q recorri ao ombudsman. Terminei a cartinha com “Não é um absurdo???”
Aí pararam de cobrar.
Agora achei o bicho, numa faxina… não sei o q fazer com ele!
cxdcs
Achei, interessante seu comentario, la em 1992 eu via a propaganda do video texto nos folhetos do bradesco e sonhava
em poder usar aquilo, mas como eu apenas comecava a trabalhar so dois anos depois compraria um 286 de segunda mao e
so dois anos depois um 586 com modem, se bem q e-mail e chat ja eram realidade ja a um bom tempo, se bem q para bem
poucos