Os casamentos que eu cliquei (Post III):

O Juízo Final

Aceitei o convite:
– Claro! Tudo bem se for um pouco depois da festa? É que eu prometi fazer as fotos para a Tina. Mas, se você quiser,
pode ser amanhã, depois de amanhã, ou qualquer dia antes que a morte nos separe.
O padre era só gargalhadas.
– Alessandra, minha querida, você sabe onde vai acontecer a festa do casamento? Ali, atrás da igreja, no salão de
festas. Entendeu, agora, o que eu quis dizer?
– Ah! A festa… sim, desculpe padre Giuseppe, eu…
Meu deus, como eu pude ser tão débil? Desejei que meu corpo se desintegrasse e que deus relevasse o meu assanhamento
desmedido – que vergonha!
– Una moça graciosa como tu, non precisa se desculpar.
Interrompeu-me o padre com um sorriso de um canto ao outro do rosto. Na verdade, mesmo depois do mico de achar que
o padre queria me conhecer biblicamente atrás da igreja, eu só ouvia o “minha querida” da frase anterior e tratei de
o acompanhar até o salão.
Encontramos a Rita no meio do caminho. Eu pedi uma intervenção divina e deus me mandou a Rita. Foi bom para que eu
aprendesse a ser especifica nas minhas orações. Minha querida amiga me tirou na marra da companhia do padre.
– Eu não acredito que você disse aquelas coisas para o padre!
– Rita, me deixa!
– Você nunca ouviu dizer que padres não casam, só fazem casamentos?
– E quem disse que eu quero casar? Neste caso, eu sou a mulher ideal: ele continua padre e eu continuo solteira.
– Você deve se achar engraçada, né? Não tem medo de ser castigada por Deus não?
– Olha, se este homem foi feito à imagem e semelhança de deus, quando eu morrer vou curtir muito meu encontro com o
todo-poderoso! Ninguém em sã consciência, nem mesmo com consciência divina, bota um italiano bonito como este no
mundo e deixa para a terra comer.
– Ale, isto é pecado!
A Rita saiu bufando enquanto eu continuava com meus argumentos pagãos:
– Ótimo! Ótimo dia para pecar! Vai, pode ir na minha frente. Quem sabe se eu chegar por último não viro de fato a
mulher do padre?
A Rita só voltou a falar comigo no dia seguinte e eu passei o resto da festa sorrindo para o Giuseppe, tomando Keep
Coller e fotografando o casamento. Eu sorria de um lado, ele sorria do outro; fui ficando à vontade e, no final, o
“senhor padre” já tinha virado “Gigio”. Por fim ele decidiu ir embora e despediu-se de mim:
– Alessandra foi um prazer conhecê-la, você é muitíssimo graciosa e gentil.
Beijou minhas mãos e declarou-se:
– Apareça mais vezes na igreja, espero revê-la. O dia non teria sido tão alegre sem a graça da sua presença.
Suspirou, beijou novamente minha mão, deu uma leve piscada com os olhos e saiu. Em um primeiro momento achei que
aquela era uma tentativa de me converter, mas não era possível. O padre Giuseppe havia realmente se empolgado. Por
algum motivo sobrenatural fiquei roxa, muda e com o queixo no umbigo vendo o Gigio partir sem que eu pudesse esboçar
qualquer reação. Tentei ir atrás dele para deixá-lo com o número do meu telefone, mas meus passos foram diminuindo
conforme minha consciência materializava imagens de um senhor gordo e barbudo, sentado em um trono de nuvens no céu,
me encarando de rabo de olho e esbravejando que eu, a graciosa, gentil e galinha, bem que merecia virar
churrasquinho do capeta.
Parei no meio do caminho. Tirei minha máscara de garota pagã contra o clero, desisti de oferecer uma maçã para o
belo Giuseppe, tomei ares de moça ajuizada e fui fotografar a Tina jogando o buquê.
Tina:
– Amarelou, Ale?
– Amarelei, mas não conta pra ninguém e joga logo este buquê.



Postado por:Alê Félix
29/12/2002
2 Comentários
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Si

dezembro 17th, 2003 às 12:19

Alê, tô amando suas histórias! Vc é realmente encantadora e super alto astral! Já virei fã do seu blog! Bjo


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menina

fevereiro 13th, 2006 às 13:01

oi ale, saudades do seu jeito de escrever, fazia tempo que não passava aqui… aliás esse post é antigo, quem
fotografa casamento agora sou eu… rs


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