Obrigada. Sejam lá vocês quem forem. Não sei porque entram aqui, nem sei se lêem de verdade as coisas que eu
escrevo. Não, não quero reforço, nem estou fazendo média. Já ví milhares de blogs onde as pessoas entram, fingem que
lêem, deixam propaganda pessoal nos comentários e se mandam. Não sinto isto por aqui. Ao contrário, sinto-me
envaidecida e cheia de carinho.
Fiz esse blog para mim mesma, sem pretensões de nenhum tipo. Fiz como quem compra um armário para colocar coisas
velhas ou como quem precisa de um quartinho para usar como depósito de coisas que não se quer jogar fora.
No começo fui até muito agressiva, acho que ainda sou de vez em quando. É o melhor jeito de fazer as pessoas fugirem
de mim. Acho que funcionou com alguns, sempre funciona na vida real. Algumas pessoas ficaram e eu senti um pouco de
medo de ter um blog, maior medo ainda de escrever e escrever sobre a minha vida. Quando a gente escreve alguma
coisa, não adianta esconder a cara. As palavras desenham o nosso rosto, detalham os nossos sentimentos, escancaram
as nossas crenças, sussurram desejos e desvendam até algumas falhas da porra da personalidade. Isso me assusta, me
faz sentir vulnerável. Não lido bem com nada disso.
Ontem foi um dos melhores aniversários que tive na vida. Não dei festa como de costume, acordei meio down (como
disse meu irmão) e dormi a maior parte do dia. No fim da tarde acordei e vim dar uma olhada básica no blog. Acabei
pegando e-mail (tinha entrado pouquíssimas vezes no e-mail daqui). Eu sei que pode parecer fragilidade balzaquiana
mas fazia tempo que eu não me comovia com gente.
Passei o resto do dia com a agradável sensação de ser querida. Querida por gente que nunca me viu mas que sabe tanto
de mim quanto as pessoas à minha volta. Minha festa foi viver a data de ontem ao lado do homem que eu amo, da minha
família adorada e com vocês que dividem comigo este pedaço dos meus dias.
Pensei em citar nomes, mas tenho medo de esquecer de alguém e o que eu menos quero neste momento é esquecer de
vocês e dos meus vinte e nove anos do dia vinte e nove. Obrigada, obrigada, obrigada e obrigada. Vou responder
e-mails com mais freqüência, vou devorar cada dia mais os blogs das vidas de vocês e me entregar cada dia mais a
essa brincadeira.
Vou parar de encanar com a idéia de que existe certo ou errado nesse universo, vou parar de ter vergonha de dizer as
coisas que eu sinto, penso e sou, vou parar de levar tudo tão a sério, vou parar de ter medo de cara feia e de ficar
tímida com os sorrisos verdadeiros que recebo. Vou só brincar. Brincar de conhecer vocês, brincar de contar
histórias e brincar de escrever… Como pude demorar tanto tempo para entender algumas coisas? Tudo parece tão
claro. Parece que eu passei a vida esperando por isso. Vou fazer o que tiver que ser feito.
Mais um? É, e ainda bem! Não há nada que eu preze mais do que a minha vida.
Lembrei agora há pouco do meu
aniversário de cinco anos: eu estava felicíssima, pois tinha completado uma mão inteira de aniversários. Virei toda
contente para a madrinha de casamento dos meus pais e disse:
– Cy, Cy! Eu já tenho tudo isso de anos, olha!
Estendi uma das mãos deixando um enorme espaço entre um dedo e outro para mostrar bem quantos anos eu tinha. Feliz
da vida pela conquista, soltei o sorriso de espremer os olhos que sempre me acompanhou e fui brincar de comemorar o
meu aniversário.
Aos dez anos eu lembrei da história das mãos, mas a satisfação já não era a mesma. Naquela época tudo o que eu
queria era ter quinze anos. Eu queria os dedos das mãos e os de um pé. Coisa de pré-adolescente que não vê a hora de
crescer para beijar na boca e ser feliz. A Juracy (Cy) ligou para me dar os parabéns e lembrar que a meta dos dedos
estava indo de vento em popa. Não dei muita bola (eu não admitiria uma infantilidade daquele tamanho!).
Na noite dos meus quinze anos meus pais liberaram a garagem de casa para uns vinte amigos. Dormimos todos amontoados
com colchonetes e cobertores. A relação entre os dedos e a data estava completamente apagada pela possibilidade de
dormir abraçada com uma paixão platônica que estava virando realidade. Enfim, beijar na boca e ser feliz! Minhas
previsões dos dez anos se cumpriram.
Pouco antes de completar vinte anos, passei por um período de transição forte: questionamentos intensos, dúvidas,
certezas e uma estranha sensação de maturidade.
Viajei uma semana antes da data festiva para o apartamento da praia. Fiquei sozinha pela primeira vez. Preparei
minhas refeições todos os dias, caminhei na areia todas as manhãs para ver o sol nascer, nadei lá onde as ondas do
mar se formam (antes eu tinha um pouco de receio de ir onde não dava pé), pensei muito, tomei sol (como eu adorava
tomar sol!) e fiquei muito em silêncio e comigo mesma. Duas décadas rodeada de gente querida e falante… foi bom me
isolar para ver como era.
Um dia antes dos vinte anos lembrei novamente da história dos dedos. E agora? Como seria? Foram-se os dedos das mãos
e dos pés. Fiquei estirada na areia olhando para cada dedo e lembrando de todos os anos possíveis. Foi o suficiente
para ter uma crise de riso de rolar na areia. As pessoas olhando e eu rolando despreocupada e à milanesa.
Quando começou a doer a barriga, levantei, arrumei minhas tralhas de praia, enfiei tudo dentro do carro e voltei
para São Paulo para comemorar minha vida com as minhas pessoas.
Cheguei em casa, me dei uma roupa espetaculosa de presente, aparei a longa e eterna cabeleira, comprei hidratante
para a pele queimada de sol e fui festejar cada dedo dos pés e das mãos que eu havia vivido.
Durante a festa eu estava tão contente e radiante como na minha festinha de cinco anos. Foi uma noite de
gargalhadas, amigos e foi nesta festa que o maridon e eu nos aproximamos . Um mês depois minha vida estaria virada
de ponta cabeça… mas essa é outra história que um dia eu conto.
Estava pensando sobre todas essas fases e detalhes e pensei: não há mais detalhes. Meus aniversários perderam os
detalhes! Mas ai, eu lembrei que hoje é dia 29 e 29 anos. Primeira e última vez. Tenho que comemorar!
Meus Deus! Acho que eu ainda tenho cinco anos…
Tem coisas que só a terapia faz por você!
Eu adoro fazer terapia. Logo eu, que achava que terapia era uma conversa agendada entre um tantã e um charlatão de
cronômetro na mão. Achei isto durante anos, mesmo sabendo que um amigo tratou com análise uma raiva que ele sentia
que lhe fazia morder sofás. Nunca mais teve crises, não lhe restou nem um pinguinho de ódio no coração e
provavelmente nem um sofá em casa.
Um dia eu acordei, estava com dinheiro e tempo sobrando, precisava inventar alguma coisa para fazer antes que eu
morresse de tédio. Decidi fazer terapia. De quebra, aproveitaria para tentar resolver umas crises de identidade e
uma preguiça inexplicável que eu andava sentindo.
Achar um profissional que me atendesse parecia uma tarefa simples. Pedi uma indicação à uma amiga, fonte forte e
gabaritada na área:
– Você prefere que seja homem ou mulher?
Resposta default:
– Homem.
Fácil.
Fui parar no escritório de um cara quarentão, simpático, de conversa agradável e expressão confiável. Falei um pouco
sobre o meu dia a dia e sobre quem eu era, o que tinha me levado até lá e o que eu esperava alcançar com o
tratamento. Nada de muitos detalhes, um apanhado geral sem muita profundidade, o básico para ele conhecer a nova
paciente.
Quando eu imaginei que falaríamos de valores e agendaríamos os dias para as próximas consultas, ele disse que não
me atenderia.
Alguém já viu um psicólogo recusar paciente? Eu não sabia que isso existia!
Ele alegou que, talvez, uma visão feminina sobre o meu caso fosse a melhor opção. Me indicou uma amiga, que segundo
ele, tinha um trabalho de auto-hipnose com resultados bastante eficientes e que teria condições de me oferecer bons
resultados a curto prazo. Perguntou se eu estaria disposta a tomar remédio e me deu o telefone da sua amiga
psiquiatra(!). Auto-hipnose e psiquiatria – esse era o meu receituário.
Sai de lá crente de que eu tinha ficado louca nos últimos anos e não havia percebido. Passei um tempão achando que,
se o cara que vê gente lelé todo santo dia não quis me atender e me mandou para uma psiquiatra sem eu ter dito nada
demais, eu só poderia estar louca de pedra. Não havia outra explicação, só podia ser isto. Eu tinha enlouquecido e
ninguém me avisou.
Além de louca, teria que fazer uma varredura no meu subconciente. Auto-hipnose. Daria duas horas da minha vida se me
reprisassem minha conversa com aquele cara, só para saber o que ele ouviu da minha boca para me indicar
auto-hipnose. Se eu não acreditava nem em hipnose normal, como é que eu iria acreditar em eu hipnotizando a mim
mesma? Porque só podia ser assim que funcionava um negócio como este. Pronto! Eu teria que pagar para ver e ouvir
uma charlatã.
Cem reais a consulta, já com o desconto pela recomendação do terapeuta-amigo. Além de tudo, eu teria que pagar pela
primeira consulta. Não era como psicólogos que, em geral, não cobram pela visita inicial. Falamos por telefone. A
médica foi fria e calculista, rápida no gatilho. Quase não me deixou falar e, quando eu vi, já estava com horário
marcado em um consultório psiquiátrico. Fui, né? Fazer o quê?
Meia hora de perguntas, meia hora de respostas, meia hora falando da minha vida pessoal, hábitos, manias, vícios,
vida amorosa, vida profissional, queixas, expectativas e uma necessidade urgente de energia. Queria ficar mais
disposta (você não imagina como se é bem tratado quando a consulta é paga – médicos de plano de saúde fazem você
sair do consultório com cara de quem deu uma rapidinha sem gozar.).
Sai de lá com duas receitas que custavam o olho da cara (nada de genéricos) e a garantia de que eles não causavam
dependência e poucos efeitos colaterais. Era só para dar uma estabilizada na vida, curar a minha apatia e diminuir a
ansiedade, nada de grave.
Na farmácia deixei mais cento e cinquenta reais, levei os remédios e uma dose de humor bastante desestabilizado.
No dia seguinte, comecei a tomar os compridos: de manhã, à tarde e à noite no primeiro dia. O segundo, o terceiro e
o quarto dia não existiram porque eu morri – dormi as vinte e quatro horas do dia! E foi assim no quinto dia, no
sexto e no resto do mês. Eu só acordava para comer, ir ao banheiro, tomar remédio, ser um doce com todos à minha
volta e sorrir para o ar. Eu não falava alto como de costume – quase não falava. Não brigava com ninguém, não
reclamava de nada. Eu queria energia e estava gastando toda ela em sonhos, nem pesadelos eu tinha mais. Eu dormia e
acordava com o espírito da Sandy encarnado em mim.
Minha sorte foi que eu estava possuída por uma lerda, e em um momento de descuido do espírito songa-monga, eu tomei
as rédeas da situação e dei descarga naquelas pílulas da felicidade sem noção.
Forte, feliz e acordada, voltei à realidade. Dei alta para a psiquiatra e uma semana depois, conheci por indicação
de um amigo que não acreditava em psicoterapia, a minha terapeuta-sensitiva-vidente.
Uma mulher séria, direta, atenciosa, interessada e de uma sensibilidade inacreditável (por isso sensitiva-vidente).
Desde então, tenho aproveitado ao máximo as minhas horas de terapia. Mudei minha opinião com relação ao trabalho,
aos resultados e aos profissionais de psicologia. Toda vez que saio daquele consultório acabo saindo com uma
sensação de mudança, de melhora.
Tive consulta com minha terapeuta logo depois de não ter tido coragem de exigir que a dona massagista devolvesse meu
dinheiro. Cheguei no consultório incrédula com os últimos fatos e acabei contando toda a história nos meus cinquenta
minutos semanais. No final das contas descobri que em doses homeopaticas, terapia acaba tendo um resultado bem
parecido com o da pílula da felicidade.
Decidi naquele mesmo dia que não haviam motivos para tanto estardalhaço com a mulher do pires. E daí que a casa era
sinistra? Ela era uma boa senhora, muito esforçada, uma excelente massagista, proprietária de uma residência com
aspecto excêntrico e habitat dos três poodles branquinhos da mamãe.
Eu não mexeria com eles, eles não mexeriam comigo. Faria as massagens, cuidaria do meu corpo, relaxaria e gastaria
apenas duzentos reais. O resto era pura frescura mal resolvida. Mas que desculpa eu daria para a mulher do pires? Eu
disse que passaria um mês viajando a trabalho. Muita cara de pau, ligar no dia seguinte para agendar uma nova
massagem.
Bobagem, eu daria um jeito, afinal, depois de ter gastado:
– duzentos reais por dez drenagens linfáticas,
– cem reais de psiquiatra,
– cento e cinquenta reais em remédios da alegria,
– um mês sem ganhar dinheiro e dormindo,
cuidar da minha auto estima não teria preço.
__________________>>>> Continua.
Juro pela mulher do pires que eu termino no próximo post. Essa porra dessa história parece psicografada! Perdi meus
poderes sobre ela.
/b>
No dia seguinte àquela noite fatídica, meu único objetivo era recuperar meu cheque de duzentos reais, mas fui
devorada por uma crise gigantesca de falta de criatividade. O que eu falaria para a mulher do pires? E, pior, o
tempo era curto. Era certo que ela depositaria o cheque em horário comercial. Eu precisava agir rápido.
– Olá Célia, tudo bem?
– Tudo, querida. E você?
– Sabe o que é? Eu vou ter que viajar a trabalho ainda essa semana e devo passar dois meses fora. Sabe como é…
imprevistos do trabalho… não tive escolha.
– Ué? Mas você não é escritora? Não sabia que escritores precisam viajar a trabalho durante tanto tempo.
Confissão de última hora: Não eu não sou escritora. Que fique claro! Nunca fui. Só que, de vez em quando, pra variar
um pouco ou quando tenho certeza de que nunca mais verei as pessoas de um determinado lugar, eu fico inventando
profissões. No SPA, só por diversão, quando fui indagada sobre o meu oficio por um grupo de senhoras católicas,
disse que eu era escritora, escritora de livros e revistas eróticas e pornográficas. (que fique claro também, que
sobre pornografia só conheço cintas ligas vermelhas e algumas expressões usadas nos filmes para adultos para
demonstrar o ato sexual! Só isso. Nada mais.). Para o meu desespero a reação foi contrária ao esperado. As velhinhas
ficaram em polvorosa, contaram para todo mundo do SPA sobre o “meu trabalho” e acabei sendo obrigada a preparar um
recital erótico para a Festa do Havaí que ia rolar na piscina. Como eu não podia amarelar, preparei um texto cheio
de “Oh, please! Good! Oh my God! Please, please, please, don’t stop!”. Foi o suficiente para todas as
gordinhas e vovós católicas passarem o fim de semana me chamando de “a gordinha de textos sexys”. Só não esperava
que a mulher do pires, que tinha me visto uma vez na vida, já soubesse daquele episódio e, consequentemente, o que
eu fazia para ganhar o pão nosso de cada dia.
– Como assim?
Precisava saber o que ela sabia.
– A Rose do SPA me disse que você é escritora.
– Ah, claro! A Rose. A menina que eu conheci em Cabreúva e que me indicou a senhora? Claro…
Como eu pude esquecer? Isso que dá não assistir “C.S.I.”, “Os Novos Detetives”, não ler Edgar Allan Poe e Agatha
Christie. Ou ouvir os sábios conselhos de mamãe que repetiu a minha vida toda que mentira tem perna curta. E agora
dona Ale? O que fazer? Graças à deus nasci para ser um gênio do crime.
– Pois é dona Célia! Vou ter que escrever para uma revista fora de São Paulo. Eles querem que eu escreva na cidade
deles. Só por garantia.
Um minuto de silêncio em homenagem à minha morte. Eu queria morrer naquele instante.
– Ah sei…
Obviamente ela não caiu, mas ferrada, ferrada e meia. Continuei:
– Então dona Célia, sabe o que eu precisava? Do meu cheque de volta, por que eu não vou mais poder fazer as
massagens. É uma pena, mas não vai ter jeito.
– Ô querida! Sinto muito mas eu paguei as contas do mercado aqui do lado de casa com o seu cheque e vi a dona de lá
misturando seu cheque com os cheques do dia e depois com os outros cheques do marido dela que tem um posto de
gasolina. Em seguida vi eles passarem todos os cheques para o agiota dono da padaria aqui da esquina. Mas fique
tranqüila que, quando você voltar da viagem, suas massagens estarão aqui te esperando. Um beijo, querida e bom
trabalho.
Saí do telefone atordoada. Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Fiquei muda e embasbacada alguns instantes e
fui interrompida pelo maridon me lembrando que eu estava atrasada. Era dia de terapia. E pela primeira vez, em seis
meses de análise, fui para o consultório da minha terapeuta-sensitiva-vidente certa de que eu realmente precisava me
tratar.
Ok! Chega de bobagens, viadagens femininas, sentimentalismos baratos e chororô neste blog! Vamos à mulher do pires.
Sobre ontem, talvez eu tenha me expressado mal.
É difícil escrever as coisas que eu sinto, mas tem sido um bom exercício. Se quem lê me entende, minha comunicação
com as pessoas do meu dia a dia se torna algo mais compreensível, mais claro. Se não me faço entender, preciso rever
ou meus sentimentos ou a forma como os tenho demonstrado. Resumindo: no post anterior eu estava tudo, menos triste.
Não sei se isto acontece com todas as mulheres, mas eu às vezes preciso chorar até lavar a alma. Aliás, esta deve
ter sido uma expressão inventada para explicar sentimentos femininos.
Às vezes preciso chorar por chorar, sem motivos, sem tristeza. É uma vontade que vem lá de dentro do peito, que dói
na garganta se tento segurar. Sabe filme que faz a gente chorar? É um choro parecido.
Ontem, eu achei que estava vivendo um desses dias, mas eu estava errada. Minha vontade de chorar era quase um
“obrigada”. “Obrigada” pelas pessoas que eu encontrei, pelos amores que eu tive e pelo grande amor que eu tenho.
Queria dar graças pelas conquistas, derrotas e principalmente pela construção da minha própria história, da qual
muito me orgulho.
Eram só águas do coração. Lágrimas de gratidão a quem quer que seja o responsável pelos meus dias nessa terra.
De qualquer forma, eu sou assim mesmo. Gosto de chorar. Vou fazer o quê? Minha alma precisa das minhas lágrimas como
flores precisam de água. Faço o melhor que posso, tento regá-la de boas lágrimas e não de lamentações e
infelicidades.
Mas obrigada pela atenção e carinho. Se fosse tristeza eu teria sido muito bem consolada.
Ah! Quero mesmo dar uma festa. Se rolar, estão todos convidados. Estou louca para conhecê-los!
Acho que é inferno astral. Estou estranhamente estranha. Longe de ser TPM e da minha vida estar uma bosta, só pode
ser inferno astral. Faço aniversário essa semana e estou com comichões que lembro ter sentido em outras vésperas.
É como se eu quisesse voltar no tempo. Fico com saudade das coisas que eu já vivi, não importa a época. Sempre foi
assim. Com dez anos eu já sentia saudades dos anos anteriores. Hoje em dia, beirando os trinta, parece que deixei
uma vida inteira lá atrás.
Estranho como nessas horas a vida fica com um sentido óbvio e triste. É como se todos os momentos e pessoas
estivessem colados na minha pele.
Chorei de ouvir música italiana (sempre choro de ouvir música italiana). Quero ver minhas amigas do São Francisco,
saber da vida dos meus amigos do Dom Duarte, ouvir Kid Abelha, Metrô, Ira e Plebe Rude. Ler Cristiane F, Marcelo
Rubens Paiva e tomar banho de Azzaro ou Giovana Baby. Vontade de cantar e tocar violão de madrugada, em cima do
bloco C do CRUSP, com o Candy, seus amigos tantãs da Letras, Filosofia e a turma toda do São José.
Saudade de encher a cara de cuba libre no Sujinho da Vila Madalena, entrar no Tombaqui, acordar com o barulho das
crianças da M’ Boi Mirim ao ouvirem o sinal para a hora do recreio. Queria ouvir a fita cassete que o Rubens gravou
pra mim, receber o telegrama que se perdeu no caminho do interior de São Paulo.
Acho que preciso ficar sozinha no meu quarto com as fotos da pasta amarela, quero de volta as fotos que a Vanderleia
me roubou, quero todas a cartas e fotos que eu joguei fora ou perdi por conta das minhas mudanças de tempo e espaço.
Vou para a casa dos meus pais revirar meu baú de roupas new age, passar a noite na laje da casa deles olhando pra
represa e pensando no futuro, passei a infância inteira no telhado daquela casa…
Quero passar em paz o dia chorando sem motivo, assistir “E o Vento Levou”, “Cinema Paradiso” e morrer de
saudades da minha vida.
Eu preciso por regras nessa minha vida. Veja se isso são horas de acordar! Quatro da manhã… Horário de gente
trabalhadora ou super saudável. Não me encaixo. Tá, eu viro noites trabalhando, mas acordo a hora que eu quero!
Gente que acorda a hora que quer não pode dizer que dá duro na vida. Estou vegan há um mês, mas estou longe de ter
uma vida saudável. Ei! Hoje faz exatamente um mês que eu deixei de comer tudo que é tipo de alimento de origem
animal. Viram como eu gosto e protejo os animais? Eu nem os como! Só chuto poodles, de vez em quando, para compensar
esse meu lado excessivamente bondoso. Quem disse
mesmo que o meu veganismo não duraria uma semana ? Hein? Jaime? hi hi hi! Adoro ver meus amigos tendo que morder a língua!
Bom, já que estou acordada, vou ver o que há para se fazer de dia nessa cidade. Pena que de dia é cheio de sol…
Seis e oito da madrugada, humor saudosista por causa do comentário da Camaleoa:
Acho que de uns tempos pra cá, minha vida está muito mais para sucrilhos do que para amarula. É foda! Uma vez com
vida de porra lôca, sempre com saudades.
Seis e vinte e quatro da manhã, dia, passarinhos cantando e a dura realidade:
Ainda bem que o dia está amanhecendo nublado… menos mau! Dias ensolarados me deixam com preguiça. Onde eu vou
hein?
Será que tem alguém acordado essa hora? Que falta que faz meus amigos 24 horas. Um casou e ganhou nêne, o outro está
no Paraguai. Tem mais uns dois que poderiam se tornar, mas um deles não é tão amigo e o outro não é tão 24 horas.
Que bosta! Só tenho amigos coxinhas.
Seis e trinta e um da manhã, humor normalizado:
Lá vem o sol… lalalá, lá vem o sol… Puta que o pariu! Quer saber? Vou terminar de escrever a história da mulher
do pires.
Até daqui a pouco.